Resolvi iniciar minha lida sem o ar-condicionado, mas, bem mais cedo, para tentar fugir dos raios fustigantes que parecem torrar meu telhado, trazendo uma onda de calor de maltratar racionais e irracionais. Vou fazer como os pássaros que no verão começam, ainda na madrugadinha, seus voos em busca da sobrevivência. Acredito que sejam mais sábios.
Assunto para a turma que já parou de trabalhar e que se reúne para decidir o que já está decidido. Falávamos sobre como garantir o clima frio e artificial no verão, sem queimar o orçamento.
Andei pesquisando na internet. Tem toda sorte de acessórios e improvisos para quebrar o aquecimento global daqui de casa. Tem leque da vovó, abanador de papelão de desfile de bloco que as cervejarias distribuem... mas tem também aquelas invenções mirabolantes. No outro dia, achei numa rede social um sujeito que ensinava a fazer um ar-condicionado genérico. Uma espécie de customização do ventilador. Eu só precisaria, segundo as instruções, de duas garrafas pets, cortadas, um pedaço de tubo de plástico e um isopor cheio de gelo.
Mas não consegui nem ditar a fórmula para o conselho. Foi só falar em isopor que o Fred deu logo a ideia de a gente usar a geringonça também para gelar cervejas.
É certo que uma andorinha solitária não sobrevive neste verão de deserto... Aliás, o Ibiapina jura que viu a última ir embora do quintal do vizinho, com sua trouxinha de graveto e folha, levando três insetos pra viagem. Estava em busca de novas sombras.
O Bem-Te-Vi passou, deixando um sutil recado: melhor abrir a porta da varanda, com sombra e água fresca.
No outro dia acordei com um casal dando bicadas na janela do meu quarto. Entendi o recado. Prendi a cadela e as gatas na casa, abri o portão da varanda, distribuí alimentos e água fresca, sobre mesas e cadeiras, e o local virou um grande viveiro.
Caramba, chegaram rolinhas, sanhaços e outras espécies. Fiquei como porteiro, barrando as famintas pombas.
Lembrei dos retirantes da seca no Nordeste e daquele projeto que construía açudes para garantir água de beber no sertão. E decidi: vou comprar uns 10 bebedouros para abastecer o passaredo. Já estou pedindo ao Fred para inventar um processo de espalhar fontes interligadas de água, por toda a varanda. Ah, e ventiladores de teto, suaves, porém, eficientes. Mas antes, ainda tenho que recolher os gatos e a cachorra. Senão esse paraíso tropical vai parecer um mundo selvagem.
Tô perguntado para a amiga e companheira de trabalho, a Elenilce, como evitar que o Ibama atrapalhe a ideia de ajudar a sobrevivência dos animais. Afinal, são os pássaros que ajudam no reflorestamento da terra brasilis!!!
E apelo, até mesmo àquele samba da Mocidade, em busca de sombra pra tanto bicho:“Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós....”
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