Entre a invenção, ou descoberta casual, até a chegada ao Brasil Imperial, demorou um ano. Rápido, não? Tô lembrando, é bom frisar, da história do telefone. Foi uma revolução na comunicação. Um aparelho que permitiu que, ainda no século XIX, duas pessoas pudessem conversar ao vivo, mesmo estando a longas distâncias uma da outra. E isso numa época que nem avião voava....Mas como tudo que é bom tem lá seu lado ruim, não demorou mais que um século para que as futuras invencionices permitissem também aos fofoqueiros de plantão, ouvir essas conversas. E assim surgiram as escutas telefônicas.
Aí o bicho pegou.
Aí o bicho pegou.
As "escutas" clandestinas tornaram-se pragas, utilizadas para investigações, bisbilhotices, roubo de invenções, roubos de dados, etc... Usadas também pelas polícias secretas e máfias do mundo todo. Aqui no Brasil, houve um momento em que ganharam o apelido de "arapongas". Lembram? A telefonia foi sendo aperfeiçoada ao longo dos anos, até chegar ao celular. E junto com eles, vieram as novas tecnologias de bisbilhotagem. Estão presentes, não só pelo celular, mas via drones, satélites, escutas ambientais.... todos tentam ouvir tudo de todos.
Mas curiosamente, pouca gente se tocou do que é, de falar sobre certas coisas, ainda mais as pretensamente, secretas, via aparelhos. Eu fui um premiado em ter, pelo menos, duas importantes figuras da política brasileira que, em situações diferentes, me alertaram sobre o inconveniente de conversar ao telefone (naquela época, anos 60).
Tancredo Neves, em encontro casual na orla de Copacabana, durante uma entrevista, assegurou-me:
- Veja, meu jovem repórter, estou chegando de encontro. Ninguém escutou o que falei pessoalmente. - Hoje em dia, temos microfones minúsculos plantados em nossas roupas, gravatas, relógio e, pasme, até nos sapatos.
Outro "professor" em sigilo absoluto, foi Tenório Cavalcanti. Também em 1960, durante as diligências da Polícia Civil, da Delegacia de Duque de Caxias, no caso do roubo ao trem pagador. Caramba, o bando do Tião Medonho surrupiou CR$ 127 milhões. Nesta época, Tenório morava numa mansão pertinho da delegacia. Ele sempre parava para um papo com os jornalistas que ficavam de plantão, aguardando notícias da investigação. Naquela época e, especificamente, em Caxias, eram poucos os telefones. Foi quando pedi para usar o aparelho da casa dele para repassar informações ao jornal. Claro que ele topou. Passei a história para a Última Hora. E o deputado, dono da Luta Democrática, escutou toda a minha matéria. No final, ele me aconselhou:
- Nada de falar coisas importantes ao telefone – disse. Um conselho um pouco atrasado, já que ele próprio mandou que um auxiliar gravasse minha conversa com a chefia do jornal.
- Nada de falar coisas importantes ao telefone – disse. Um conselho um pouco atrasado, já que ele próprio mandou que um auxiliar gravasse minha conversa com a chefia do jornal.
Desde então, nunca mais falei sobre assuntos confidenciais ao telefone. Muito menos, pelo celular.
Lembrei dos sinais de fumaça, que o vento dispersa. Melhor, amigos, é mesmo no pé do ouvido, bem baixinho.
Lembrei dos sinais de fumaça, que o vento dispersa. Melhor, amigos, é mesmo no pé do ouvido, bem baixinho.
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