A primavera oficialmente começa no dia 22 de setembro, mas tem uma outra data: a da estação meteorológica. Essa começou na semana que passou. E como tudo anda mesmo de cabeça para baixo nesse climão quase torta de limão que anda o planeta, os primeiros sinais foram bem esquisitos: as folhas das amendoeiras vieram abaixo por toda a cidade e, pasmem amigos, tem crise hídrica em SP e em algumas cidades do estado do Rio. Mas não aqui. O Principado de Água Santa recebe a mais pura água da fonte Santa Cruz, que brota lá no alto da Serra dos Pretos Forros. Um líquido puro e precioso para beber.
A maioria da vegetação do lado de cá é de capim navalha, apesar de existir também algumas árvores, como acontece abundantemente pro lado de Jacarepaguá. Mas é nesse lado aqui que se formam as pequenas nascentes, que semeiam a vegetação e formam riachinhos que se espalham pela serra.
Eu mesmo durante um tempo, resolvi morar em Jacarepaguá, nos anos 70, quando aconteceu o modismo de morar em Jacarepaguá. Lá fui eu morar num lugar tranquilo, alguns metros distantes do Hospital Cardoso Fontes, uma ruazinha chamada Rugendas. Nos fundos da casa, passava um riacho de nascente lá de cima da Serra dos Pretos Forros.
Bom tempo aquele. Foi por ali que numa ocasião eu fui fazer uma reportagem com o casal hit do momento: Elza Soares e Mané Garrincha. Eu já conhecia a Elza de outra época: dos meus dez anos, quando o arco-íris ainda era em preto e branco. Ela, novinha ainda, lavava roupa para minha tia-avó.
Já o Mané eu conhecia de vista. Ele aparecia com o compadre dele que trabalhava numa fábrica de tecidos da Rua Antunes Maciel, uma perpendicular da Rua São Cristóvão, ali quase chegando na Quinta da Boa Vista. E ia sempre com o compadre tomar cerveja e jogar no jogo do bicho nos pontos que era do meu avô Antenor.
Durante a entrevista, ela me reconheceu e perguntou pela família. Foi um encontro muito legal. Ela serviu um cafezinho para mim e outro para o fotógrafo que me acompanhava. Para o Mané, ela serviu um líquido que eu não vi a cor, mas numa caneca nada transparente. Eu desconfiei que aquilo ali era uma bebida um pouco mais forte do que o café.
Depois dali nos encontramos outras vezes, mas esses encontros foram ficando mais escassos e acabaram, depois que eu voltei a morar do lado de cá da Serra dos Pretos Forros.
Mas essas são águas passadas.... As que ainda correm por aqui são líquido precioso de beber. Para o restante das nossas atividades roupas, chão e utensílios usamos a do Guandu mesmo.
Pensando na nova estação, que oficialmente ainda demora algumas semanas para chegar, convoquei uma reunião dos conselheiros do Principado. Nem mesmo as aves que gorjeiam por aqui faltaram.
O combinado foi: nada diferente por aqui. Vamos manter o encontro dos amigos, o churrasco, a cerveja, ... e vamos deixar o ambiente como está: a Serra dos Pretos Forros e suas águas em paz e nós aqui na sombra!