Joilson Cabral durante o evento de lançamento da Matriz de Insumo Produto, na ALERJ.THIAGO LONTRA

Professor de economia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Joilson Cabral coordenou a produção da nova Matriz de Insumo-Produto (MIP) do estado, encomendada pela Alerj e apresentada no fim de 2022. O último estudo do tipo havia sido feito em 2009. O sistema, elaborado por pesquisadores da UFRRJ e UFRJ, gera análises sobre a cadeia produtiva, mapeando a origem e o destino dos insumos, além de permitir a simulação do efeito de políticas públicas. Em entrevista a O DIA, o professor dá ideias sobre como estimular a economia do estado e desmistifica o setor de óleo e gás: 'ele é frágil e incompleto, ou seja: faltam encadeamentos'.
O DIA: Como o senhor vê as dificuldades econômicas do RJ?
Joilson: O estado começou a perder espaço no PIB industrial ainda em 1919, quando foi ultrapassado por São Paulo. Desde 1970, é a economia que mais perde participação no PIB brasileiro. Acho que o principal entrave é a falta de reflexão e análise acerca da economia. Aqui, os cursos — de graduação ou pós — estudam pouco a economia fluminense. Isso se eleva a políticas públicas feitas na base da tentativa e erro, tanto no Executivo como no Legislativo. Com a MIP, espero que a cultura de reflexão se instale no estado. Se houver uma ruptura dessa "tradição", alcançaremos um equilíbrio fiscal de longo prazo mais rápido do que alguns economistas esperam.
Fala-se que os dois esteios da nossa economia são Turismo e Óleo e Gás. Isso está correto?
Se a cultura de reflexão tivesse sido instalada antes, esse consenso equivocado de petróleo e turismo não demandaria tantas explicações. Não que não sejam importantes, mas não são tudo isso que se pensa. Em dezembro, a Setur lançou um plano de 10 anos. Lá, o PIB representou 5,22% em 2019. É válido citar essa porcentagem pois faltam elos importantes. Ainda importamos muitos produtos de outros estados. Por exemplo, na alimentação — parte importante da cadeia de turismo —, produzimos orgânicos, mas produtos básicos como arroz e feijão vêm de fora. O principal demandante da área são as famílias, então elas precisam estar em condições de poder investir em lazer. Por isso, não podemos apostar todas as nossas fichas.
E o setor de Óleo e Gás?
Essa é uma área muito importante: produzimos cerca de 80% do petróleo e 60% do gás do país. Mas na estrutura produtiva fluminense, ela não tem o mesmo tamanho. Simulamos o fim do setor, e tivemos um resultado surpreendente: o impacto seria de 16%. Por que ele é menor do que o esperado? A Assessoria Fiscal da Alerj lançou uma nota técnica sobre o complexo produtivo de óleo e gás e achamos a resposta: apenas 20% dos fornecedores da área estão aqui — ou seja, 80% dos insumos vêm de fora. Então, é um setor frágil e incompleto, ou seja: faltam encadeamentos. Além disso, é muito dependente do mercado exterior, deixando-nos vulneráveis.
E é possível aumentar sua participação na receita?
Existe um problema: pela Constituição Federal, o ICMS de petróleo e derivados é arrecadado no destino, não na origem. Para o RJ se beneficiar, é preciso trazer elos produtivos para cá. As fases da cadeia são: exploração, produção, transporte e refino. As duas primeiras estão ok, mas as demais sáo ausentes. O gol de placa seria construir uma petroquímica com tecnologia para refinar o pré-sal. Com uma planta industrial desse tipo, teríamos todos os elos e, consequentemente, geraríamos ICMS aqui.
O que é mais urgente para o RJ: gerar empregos ou estimular a arrecadação de impostos?
A ortodoxia na economia diz que toda oferta vai gerar sua demanda. Os heterodoxos pensam que quem dá o ritmo da economia é a demanda. Na minha visão, os empregos gerados têm efeito direto na arrecadação. Em 2020, quando começou a pandemia, saíram várias projeções; o FMI estimou queda de 10% do PIB. Com colegas, olhamos o impacto do auxílio emergencial e constatamos como ele mitigou a crise. Quando o trabalhador tem renda, ele vai ao mercado comprar sua cesta de bens, e, assim, impacta o ICMS. Como o RJ é o estado que mais vem perdendo participação também no emprego, e temos um exército industrial de reserva — uma fila de desempregados —, a geração de empregos auxiliaria nossa arrecadação.
* Com a colaboração do estagiário Gustavo Braz
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