Renan FerreirinhaMichell Albuquerque/Divulgação SME

Depois de duas semanas de férias, alunos da rede municipal de Educação do Rio voltam às aulas hoje para o segundo semestre do ano letivo. E qual tem sido a realidade do ensino na atual gestão, com o secretário Renan Ferreirinha à frente da pasta? Em entrevista à coluna, ele falou de temas como novas tecnologias, evasão escolar, insegurança pública, bullying e racismo. "Hoje, nosso material escolar é inclusivo e muito representativo. É muito importante que nossos alunos possam se ver no seu material, se identificar", disse.
Secretário, as escolas das comunidades mais pobres estão sofrendo com a insegurança pública. Qual a orientação para a rede de educação municipal?
Nenhum local combina com violência, principalmente escola. Escola é um local sagrado, não pode ser rota de fuga, esconderijo de bandido, palco de tiroteio, ataque ou qualquer forma de violência. Um terço das escolas municipais estão em áreas conflagradas, onde com alguma frequência ocorrem tiroteios devido a operações policiais ou confrontos entre facções. Para atenuar o impacto da violência externa nas nossas escolas, temos o Programa Acesso Mais Seguro, uma parceria com a Cruz Vermelha Internacional, com orientações e procedimentos para a proteção da comunidade escolar. Com base no protocolo, há uma avaliação diária de como está a situação da escola, para entender quais são as condições de segurança daquela unidade e se tem como manter as aulas. Também há um treinamento para que a equipe escolar saiba como atuar se começar um tiroteio nas redondezas durante a aula. Fazemos de tudo para preservar o desempenho escolar, mas a violência, infelizmente, prejudica muito o aprendizado das nossas crianças. Outra iniciativa nossa foi a criação do aplicativo Escola Segura, destinado aos diretores escolares com o objetivo de agilizar a integração entre as escolas, a Secretaria de Educação e outros órgãos públicos. Neste app, é possível reportar diversos tipos de ocorrência, como bullying, furto e tiroteio. Cada um dos casos é encaminhado prontamente para o setor responsável, desde o nosso núcleo de apoio psicológico até a polícia. O app é uma ferramenta inovadora que nos permite mapear bem os desafios da rede e resolvê-los com celeridade.
O Rio tem 1.549 unidades escolares. Quais são as medidas que a Secretaria de Educação está tomando para enfrentar a evasão escolar?
Nosso foco é não deixar nenhum aluno para trás. Assim que assumimos, em 2021, lançamos o Bora pra Escola, um grande esforço de busca ativa de alunos para trazer de volta aqueles que tinham abandonado os estudos devido à pandemia. Nossos incansáveis educadores ligavam, mandavam zap e até iam à casa do estudante. Tivemos carro de som passando pelas ruas chamando as crianças de volta e os quatro grandes clubes do Rio (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco) nos ajudaram na campanha, levando faixas em campo pedindo pra garotada ir pra escola. Conseguimos que mais de 20 mil crianças voltassem para as salas de aula. Criamos também uma central de atendimento que liga para os responsáveis dos alunos mais faltosos pedindo para que eles possam ir pra escola, regularmente. Eu mesmo participo dessa iniciativa e ligo semanalmente para alguns responsáveis. Por fim, lançamos recentemente o DiáRio, um aplicativo que facilita muito o processo de chamada, visto que os professores lançam diretamente no aplicativo a frequência diária de cada criança no começo da aula. Com a obtenção mais ágil desses dados, fica mais fácil diagnosticar quem está faltando mais do que deveria e atuar rapidamente pra mudar esse cenário. Lugar de criança é na escola. Todo dia.
Pais reclamam da qualidade do ensino público e os estudantes pedem aprendizado de novas tecnologias para prepará-los para o mundo atual. O que eles podem esperar de melhora objetiva?
A iniciativa mais inovadora que criamos tem ligação direta com essa questão: os GETs, nossos Ginásios Experimentais Tecnológicos, o modelo de escola pública mais inovador do Brasil. É uma educação mão na massa, onde nossos alunos são colocados em contato com a tecnologia e o conhecimento. Existe em cada GET um colaboratório, que é um espaço para desenvolver projetos, com muito aparato tecnológico: tem impressora 3D, tablets, máquina de costura, notebooks, itens de robótica e muito mais. Tudo para que a criança desenvolva as mais variadas habilidades, crie projetos, execute na prática suas ideias. No GET, o aluno aprende de forma integrada diferentes áreas de conhecimento, além de desenvolver o pensamento crítico e a sensibilidade humana. Hoje já temos 10 mil alunos estudando nesse novo modelo de escola e até o final do ano que vem serão 200 GETs espelhados por toda a cidade. O GET é o CIEP do século XXI: uma escola de tempo integral que prepara os alunos para os maiores desafios da sociedade.
Racismo, bullying, preconceitos diversos são alguns dos problemas que o profissional de educação enfrenta nas escolas. O que precisa ser feito para a formação de pessoas mais tolerantes?
Não podemos normalizar de nenhuma forma o preconceito e a violência dentro das nossas escolas. Minha primeira medida quando aceitei o convite do prefeito Eduardo Paes e assumi como secretário foi a criação da Gerer, nossa Gerência de Relações Étnico-Raciais. Hoje, nosso material escolar é inclusivo e muito representativo. É muito importante que nossos alunos possam se ver no seu material, se identificar. Além disso, o material didático do Rio mostra várias partes da cidade para além dos tradicionais cartões postais. Nosso intuito é que o aluno reconheça sua realidade. O pertencimento é parte essencial do aprendizado. A Gerer oferece também formações de ensino antirracista para os profissionais da nossa rede. O racismo e o preconceito não podem ser tolerados.