Josier Vilar, presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiroarquivo o dia

Formado em Medicina, Josier Vilar é membro dos Conselhos da Cidade do Rio, do Museu do Amanhã e do Sebrae-RJ. Organizador do livro "Governança Corporativa em Saúde" e coautor de "Gestão em Serviços", tem vários artigos sobre os temas. Sócio-fundador da Pronep Home Care e do IBKL, tem mais de 30 anos em gestão empresarial. Preside o Conselho Estratégico da Iniciativa FIS (Fórum Inovação e Saúde). Eleito em 2023 para a presidência da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), foi reeleito para o biênio 2025/27.
SIDNEY: A Associação Comercial promoveu este mês o III Fórum Rio Empreendedor. Quais os resultados práticos do encontro?

JOSIER VILAR: O III Fórum Rio Empreendedor foi muito importante porque reuniu lideranças dos setores público e privado para discutir o Rio o que queremos. Dali surgiram várias ideias, seja para o desenvolvimento do esporte do ponto de vista econômico, o turismo como um alavancador de oportunidades e a educação profissional como um facilitador para que o Rio de Janeiro possa se transformar numa referência de cidade com serviços de qualidade. Nós discutimos muito a questão do transporte urbano, da integração do transporte das regiões metropolitanas com a capital por bilhete único. E uma série de assuntos que precisam de prioridade para que possamos ter uma cidade mais atrativa para viver, trabalhar e visitar. Um conjunto de ideias foram ofertadas, estão sendo consolidadas e vamos encaminhar ao prefeito.

Como a Associação Comercial colabora para fortalecer a imagem do Rio quando se fala em inovações em áreas como tecnologia e desenvolvimento?

A Associação Comercial está desenvolvendo um trabalho, durante a minha administração, cujo foco é exatamente transformarmos o Rio de Janeiro numa cidade empreendedora. E nós temos grandes oportunidades aqui, especialmente no segmento do turismo, do esporte e da saúde. No caso da saúde, pretendemos construir no Rio de Janeiro um ecossistema de saúde digital e inovador que seja exemplo para as demais cidades brasileiras de como podemos construir soluções que possam garantir o acesso aos serviços médicos assistenciais de forma equânime para as populações ricas, pobres e remediadas. Isso será possível através da inovação, da transformação digital e da incorporação da inteligência artificial na saúde. Para nós, da Associação Comercial, é fundamental para que o Rio volte a ter protagonismo neste setor da saúde, que já tivemos no passado e perdemos para São Paulo. 

Representantes de 33 instituições públicas e privadas se reuniram em agosto para propor soluções para revitalizar o centro da cidade. Quais foram essas propostas?

Designamos o presidente do nosso Conselho Empresarial do Centro e da Ordem Pública, Carlos Roberto Osório, para coordenar esse encontro fundamental. Surgiram diversas sugestões de como revitalizar o Centro através de um melhor processo de ampliação do horário do Segurança Presente, melhor iluminação pública das ruas e investimento em câmeras de identificação em toda área. E, a partir dessas iniciativas, melhorar a acessibilidade e a mobilidade urbana na região com mais segurança. Entendemos que o Centro pode voltar a ser um grande bairro, com muita esperança para que a cidade volte a crescer. Nós vamos investir fortemente para que o Centro se transforme num lugar em que as pessoas queiram viver e trabalhar. Para isso, tem que se modernizar e ser uma espécie de ambiente digital, um hub de inovação. E, a partir daí, ser um indutor e um hub de startups para resolver os problemas da cidade e do estado, oferecendo soluções para todo o país.

Qual foi o impacto das tarifas americanas no comércio do Rio?

Estou muito esperançoso de que o tarifaço do presidente Trump seja extinto brevemente pelas tratativas que estão sendo feitas pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo governo brasileiro com o governo americano. Mas de toda forma o impacto na área comercial foi de pequena monta, considerando que nós exportamos muito pouco para os Estados Unidos na área de serviço e de comércio varejista. Obviamente que os países que foram atingidos pelo tarifaço no mundo inteiro aumentaram seus preços muitas vezes, e isto pode impactar de forma um pouco mais intensa o consumidor final em todos os lugares do mundo. Mas particularmente não houve grande perda no comércio carioca, até porque o tempo ainda é muito pequeno para que esse impacto seja percebido. Se é que vai existir e, mais ainda, se é que estas medidas tarifárias vão continuar vigorando.

Como a Inteligência Artificial (IA) e outras inovações tecnológicas podem aperfeiçoar a gestão das cidades?

As cidades do mundo inteiro estão se alinhando a uma nova era: a era digital impulsionada pela inteligência artificial. O Rio de Janeiro precisa estar atento e preparado para essa transição. É fundamental discutir como os diversos segmentos da economia podem aprimorar seus serviços por meio da digitalização e do uso inteligente da tecnologia. Precisamos adotar tanto inovações incrementais, que aperfeiçoam processos operacionais, quanto inovações disruptivas, capazes de transformar completamente a forma de fazer as coisas. Em todos os setores vemos mudanças profundas: atividades tradicionais desaparecem enquanto novos modelos de negócios surgem, baseados em tecnologia e dados. O Rio deve participar ativamente desse movimento, promovendo uma transformação digital abrangente que traga mais mobilidade, segurança e eficiência à cidade. Ferramentas como reconhecimento facial, inteligência artificial e análise preditiva podem tornar os sistemas públicos mais inteligentes e integrados. O Rio pode se tornar um laboratório de inovação urbana, aplicando tecnologias preditivas em áreas como saúde, segurança e mobilidade. Na saúde, por exemplo, a análise de dados pode prever epidemias ou doenças crônicas, permitindo ações preventivas e melhorando a qualidade de vida da população. Em síntese, a inteligência artificial deve ser uma aliada estratégica da sociedade, contribuindo para que as pessoas vivam mais e melhor. O Rio de Janeiro não pode ficar à margem dessa revolução tecnológica -  precisa ser protagonista da inovação transformadora que já redefine o mundo.

O Rio pode ser um hub de inovação e saúde? Quais iniciativas merecem destaque?

A principal iniciativa que identifico no setor da saúde, como presidente da Associação Comercial do Rio, é a FIS, o Fórum Inovação e Saúde. A Iniciativa FIS realiza anualmente a Fisweek, considerado o maior encontro de lideranças da saúde brasileira e latino-americana. O evento representa um ambiente de alto nível, onde inovação, modelos assistenciais e políticas públicas de saúde são amplamente debatidos, com o objetivo de ampliar o acesso da população aos serviços. Mais do que discutir modelos assistenciais, a Fisweek aborda o papel estratégico da indústria do conhecimento no Rio. Instituições como a Fiocruz, universidades e centros de pesquisa contribuem ativamente para gerar soluções que conectam ciência, tecnologia e gestão. O município tem se consolidado como terreno fértil para a indústria da inovação, especialmente com projetos como o Porto Maravalley, que abrigará um hub de inovação coordenado pela Iniciativa FIS. A Fisweek 2025 acontecerá nos dias 5, 6 e 7 de novembro, na Expo Mag, região central do Rio, reunindo gestores, especialistas e empreendedores do setor. Trata-se de um momento estratégico para consolidar a cidade como protagonista nacional no desenvolvimento de soluções inovadoras na saúde. A Associação Comercial apoia integralmente a Fisweek, em parceria com a Prefeitura do Rio e a Prefeitura de Niterói, reafirmando nosso compromisso de posicionar o estado como a principal referência nacional em inovação e saúde. Estamos convictos de que desse encontro sairão propostas concretas e transformadoras, capazes de melhorar o acesso e a equidade na assistência médico-hospitalar em todo o país.