Lula e o então Príncipe Charlesfoto de divulgação Gov.br

O interesse ambiental foi o principal argumento que garantiu a Lula a presença num seleto grupo entre dez chefes de estado em um encontro que antecede a cerimônia oficial de coroação do rei Charles III. 
Esse será o segundo contato entre o herdeiro da Rainha Elizabeth e Lula. Em março, os dois conversaram por telefone. Na pauta, questões climáticas e medidas de proteção do meio ambiente, temas de profundo interesse de Charles que já visitou o Brasil quatro vezes: em 1978, 1991, 2002 e 2009. Em todas essas ocasiões incluiu na agenda passagem pela região amazônica.
Antes de participar das cerimônias de posse do monarca inglês, Lula terá uma reunião com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak. Ambos devem reforçar parcerias já existentes, como o desenvolvimento de vacina contra Covid-19 e a participação do Reino Unido em projetos de proteção da Amazônia. Recentemente o Brasil firmou acordos com a Inglaterra nos campos de transição energética e questões climáticas assim como para aquisição de navios-patrulha britânicos para a Marinha.
Os temas tratados informalmente nessa viagem de Lula da Silva devem ser referendados com a vinda do chanceler britânico James Cleverly ao Brasil entre os dias 23 e 24 de maio. A última estada de um ministro das Relações Exteriores britânico em solo brasileiro foi em 2014 quando William Hague pisou no território em nacional.
Linha do tempo entre Brasil e Inglaterra
A relação entre o Brasil e o Reino Unido é histórica, desde os tempos do Império português, passando pela  Independência e implantação da República. Atualmente, a monarquia inglesa apoia o pleito brasileiro por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
O comércio bilateral movimentou US$ 6,5 bilhões no ano passado. Isso representa uma alta de 15% em comparação a 2021. As exportações brasileiras para os britânicos somaram US$ 3,7 bilhões, representando um saldo positivo para o lado brasileiro já que as importações britânicas foram de US$ 2,8 bilhões.
O saldo é favorável ao Brasil, mas segundo especialistas ainda há uma margem de crescimento principalmente nos quesitos transporte, extração, ciência, tecnologia e meio ambiente.
Charles e a Cinderela Negra
Se a Beija Flor for reeditar o samba de 1983 vai ter que alterar o refrão para Rei. O então Príncipe Charles inspirou o enredo após sua primeira visita ao Brasil em 1979. Na ocasião quebrou o frio e rígido protocolo da corte inglesa e não resistiu ao samba. Ainda solteiro, as imagens de sua desengonçada evolução ao lado da passista Pinah, ganharam o mundo. Foi o flagra de uma descontração excessiva que pode ter desagradado a mãe, a rígida Rainha Elizabeth. Sua performance reforçou a expressão popular brasileira: “Tem gringo no samba”, usada quando se refere a pessoas fora do ritmo.
Foi ainda no final dos anos 70 que teve o primeiro contato com a Floresta Amazônica ao ser incluída a visita ao Instituto Nacional de Pesquisas, o Inpa, na agenda oficial.
Depois, voltou mais três vezes, porém, longe dos passos de Carnaval, mas focado nas questões ambientais, temática que, por sinal, ganhou mais evidência nos discursos do monarca depois de ter participado efetivamente do movimento em torno da Rio-92, a mais emblemática conferência sobre o tema já realizada.
Charles pré-Rio-92
A vinda de Charles no ano anterior ao evento foi fundamental para referendar o encontro que reuniu a presença de 179 chefes-de-estado, número nunca mais superado. O Príncipe veio pessoalmente ao Rio de Janeiro como parte da organização da conferência.
E ainda, plantou uma muda de pau-brasil em Aracruz, no Espírito Santo. Cena que foi relembrada 30 anos depois quando, em 2021, durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), recebeu uma foto atual da árvore já desenvolvida.
Visita pré-separação de Diana
Em 91 chegou acompanhado da Princesa Diana, mas a agenda do casal, que se separou cinco anos depois, foi totalmente distinta durante os cinco dias de permanência em solo brasileiro. O atual Rei Charles III visitou o Pará, Brasília e Espírito Santo. Enquanto isso, a “Princesa do Povo” ficou baseada no Rio de Janeiro, além de ter conhecido as Cataratas do Iguaçu. Charles voltou mais duas vezes ao país.
2002- Em março, esteve em Palmas, no Tocantins, onde conheceu projetos ambientais amazônicos e teve contatos com povos indígenas.

2009 - Esta última visita já foi ao lado da atual mulher, duquesa da Cornualha, Camilla Parker Bowles. Já no segundo casamento e bem mais contido, arriscou timidamente alguns passinhos ao visitar uma comunidade carioca, mas nem de longe lembrou a quebra de protocolo do jovem e solteiro Charles com a passista Pinah da Beija Flor. Cumprindo a agenda daquele ano, ainda retornou ao Amazonas.