Primeira Ponte Verde do país completa três anosfoto de divulgação

As estradas são fontes de poluição, barulho e impacto socioambiental. Elas atravessam e dividem florestas, vales, cidades e povoados, colocando em risco as populações locais e os animais. Para reduzir esse problema, a BR-101, uma das mais extensas e mais importantes rodovias do país, recebeu uma série de ações mitigadoras no trecho que corta o norte do estado do Rio de Janeiro.
Desde 2020, um corredor protegido vem garantindo a segurança e a preservação da fauna em parte do perímetro fluminense. Nesses três anos, foram registradas as passagens de 4.046 animais, incluindo primatas, marsupiais e roedores. No entorno, foram observadas 48 diferentes espécies. 
O corredor protegido é composto por 10 estruturas superiores, 26 inferiores e um viaduto vegetado, além de 46 quilômetros de cercas que conduzem os animais para uma travessia segura. O projeto foi implantado pela Concessionária Arteris Fluminense, que administra 72 quilômetros da rodovia, entre os municípios de Casimiro de Abreu e Rio Bonito. A empresa investiu R$ 55 milhões na iniciativa que não só salva vidas humanas e a fauna local, mas também contribui para a conservação de espécies ameaçadas.
Mico-Leão
É um das espécies mais beneficiadas, que teve um aumento de 29,7% na sua população no interior do Rio de Janeiro, segundo uma pesquisa da Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD).  A sondagem divulgada em 2 de agosto deste ano, Dia Internacional do Mico-Leão-Dourado, revelou que 70% desse crescimento se deve à colonização de novas áreas, facilitada pelo trânsito livre entre as duas margens separadas pela rodovia. Desta espécie, foram 776 travessias registradas.
Além disso, a passagem de fauna favorece a troca de genes entre grupos das duas extremidades, evitando a endogamia, que é o enfraquecimento genético pela reprodução entre parentes. Para os micos-leões-dourados, foi construída uma passagem superior, com a travessia de copa a copa com ligação com o topo das próprias árvores nativas.
Travessia Vegetal
Já a Ponte Verde marca ação pioneira neste sentido no Brasil. Corta a BR-101, na altura da Reserva Biológica Poço das Antas, um dos principais habitats do mico-leão-dourado. Assim liga à fazenda Igarapé, formando uma ponte verde entre fragmentos florestais isolados, localizados no meio de sensíveis Unidades de Conservação da Mata Atlântica.
Esse é o primeiro viaduto vegetado em rodovia federal do país. A estrutura tem 45 metros de comprimento, 21 metros de largura e 2,5 metros de profundidade. Ali, foram plantadas mudas de vegetação nativa que começaram a crescer e já mudaram o aspecto do local assegurando uma maior sensação de confiança natural para as travessias. 
“Este estudo é único, porque atende a biodiversidade do Brasil. Há passagens de fauna em outros lugares do mundo, que beneficiam espécies que não são encontradas no nosso país. Por isso, nossa pesquisa é muito inovadora e deve estabelecer as bases de novas passagens de fauna a serem instaladas nas rodovias brasileiras”, explica Marcello Guerreiro, coordenador de Meio Ambientes da Arteris Fluminense.
Comunidade Local
Esse elevado ambiental não só salva vidas humanas e animais, mas também contribui para a conservação de outras espécies significativas, como a preguiça-de-coleira e a lontra longicaudis. É fruto de um trabalho de pesquisa e consultoria de uma rede de especialistas, que identificou a necessidade de implantar essa solução inovadora no Brasil.
A Concessionária também envolve os moradores do entorno com trabalho de conscientização por meio de um programa de educação ambiental. Mais de 30 escolas da região participaram de sessões de observação dos animais nos mirantes das estruturas, com os alunos obtendo um importante aprendizado sobre a preservação da natureza.
“Estamos adquirindo um importante conhecimento científico que deve beneficiar gerações futuras, além de evitar acidentes de trânsito que podem custar vidas de animais e pessoas”, finaliza Guerreiro.