Plantas também sofrem com a onda de calorfoto de Magna Moura - divulgação Embrapa

Não há dúvida de que as ondas de calor que estão impactando o país são algumas das consequências das mudanças climáticas. Não são apenas as pessoas e os animais que merecem cuidados especiais para enfrentarem o aumento da temperatura. A flora também é afetada pelo calorão. Se a recomendação principal para os humanos é manter a hidratação, ela sozinha não resolve o problema das plantas
Mesmo com água no solo durante períodos muito quentes, as plantas podem ainda assim apresentar sintomas de falta do líquido, conhecida como seca fisiológica. Entre os sinais mais comuns estão o enrolamento e a mudança na inclinação das folhas, dependendo do horário do dia, visando diminuir a absorção da luz solar, sistema de proteção desenvolvido por algumas espécies.
Pesquisadores da Embrapa alertam que  a seca fisiológica pode ser agravada por várias razões, como: pragas, excesso de adubo, salinização, ou até mesmo o excesso de água, levando ao encharcamento do solo. Cientistas explicam que simplesmente aumentar a hidratação não resolve os impactos, e os cuidados necessários podem variar de acordo com a espécie, a fase em que a planta se encontra e a região.
"Em condições ideais de umidade do solo, os efeitos fisiológicos negativos causados pelo calor podem ser reduzidos. Portanto, é crucial ajustar a irrigação, considerando que, nesses períodos, a taxa de evaporação da água do solo também é mais elevada", argumenta Saulo Aidar, pesquisador da Embrapa.
Aidar resume que, mesmo com água no solo durante períodos muito quentes, as plantas podem ainda assim apresentar sintomas de falta do líquido. 
Proteção Natural
Embora possuam uma proteção natural, nem sempre as plantas conseguem lidar eficientemente com o excesso de calor. Pelo menos por algum tempo, elas conseguem manter acionado um sistema próprio de controle de temperatura. Por exemplo, quando o ar está muito quente, especialmente nos horários próximos do meio-dia, elas tendem a fechar os poros das folhas, conhecidos como estômatos, para economizar água ou evitar a desidratação, mesmo quando há água disponível no solo. Isso ocorre porque a velocidade de perda de água pelas folhas pode ser maior do que a de absorção de água do solo.
No entanto, o fechamento dos estômatos implica na diminuição das trocas gasosas, impedindo a entrada do gás carbônico (CO2) na folha. Esse gás é essencial para a fotossíntese, o processo pelo qual as plantas produzem energia em suas células. Assim, o forte calor reduz o ganho de energia responsável pelo crescimento e produtividade da planta. Além disso, esse bloqueio natural limita a transpiração, a perda de vapor, causando o aquecimento das folhas.
"Quando a transpiração e a fotossíntese são diminuídas, a mesma quantidade de energia luminosa proveniente da radiação solar torna-se excessiva para as folhas, causando processos de fotoinibição - a inibição da fotossíntese - e foto-oxidação - a degradação de compostos e estruturas celulares - ambos causados pelo excesso de luz", detalha o cientista Saulo Aidar.

Assim, a ativação desses mecanismos visa evitar a degradação, que visualmente podem ser identificados como um bronzeamento na coloração de folhas e frutos, mas que podem evoluir para necroses com aspectos de "queimaduras".
A Barraca de Praia das plantas
Experimentos demonstraram que o uso de telas de sombreamento para proteger as culturas tem contribuído para atenuar os efeitos do calor. Um estudo realizado com o cultivo de macieiras comprovou que a utilização dessa estrutura no pomar resultou em melhor desempenho em comparação com o ambiente totalmente exposto ao sol.
"Esse resultado evidencia que, em determinadas épocas do ano, a radiação solar na região é naturalmente excessiva para a fotossíntese de algumas culturas agrícolas, podendo afetar o desempenho fisiológico não apenas pela quantidade de energia luminosa, mas também devido ao aquecimento excessivo do ambiente nos horários próximos do meio-dia", destaca a cientista Magna Moura.

Um outro experimento envolvendo o meloeiro amarelo apresentou comportamento semelhante: redução no processo de fotossíntese após as 13 horas, quando a temperatura aumenta. Esse efeito foi minimizado também com a cobertura agrotextil.