Átila da Ótica (Avante) e Ruy França (CID)Renata Cristiane
Quem não agradou nem um pouco, logo na estreia, foi Átila. Tal como uma metralhadora giratória. Chegou fazendo discurso um tom acima. O parlamentar já estava sendo tratado com desconfiança, afinal de contas ele tirou da cadeira dois vereadores por uma decisão da justiça, que acatou sua ação. Isso já vinha trazendo um sinal de alerta aos demais pares. Em sua fala direto do púlpito, criticou Aquiles Barreto (que foi presidente da Câmara em 2018), cobrou transparência do presidente da Casa, Miguel Alencar (UNIÃO), dizendo que, do contrário não poderia cobrar a mesma coisa do executivo, já que o legislativo não era transparente.
'INFANTIL' E 'GROSSEIRO'
Finalizada a sessão extraordinária para a posse, pausa para o cafezinho. Átila não recebeu nenhum aplauso. Os vereadores ficaram de braços cruzados e, por fim, começaram as resenhas de bastidores. Um dos comentários que mais chamou atenção foi justamente de um vereador, que preferiu não se identificar, o qual chamou Átila de infantil e grosseiro.
Já na opinião do vereador Roberto Jesus (MDB), "é comum chegar com essa postura", mas ele quer "ver na prática, no dia-a-dia", como vai ser. Completou e disse que o que o Átila quer fazer ele já faz há muito tempo, inclusive com relação à transparência. E que Miguel tem respondido sempre aos questionamentos.
O vereador Douglas Felizardo (Avante), por exemplo, destacou que Átila precisa de um colegiado. "Ele tem que lembrar que é um partido e que a sigla tem outros veradores, com os quais ele tem que conversar. O partido não vai caminhar nesse sentido que ele está se posicionando", declarou.
Quem também acompanhou a cerimônia de posse foi Lucas, o presidente do partido Avante em Cabo Frio.
'ACELERADO'
Outros acharam que ele chegou muito acelerado, "É muita hipocrisia. Aqui na Câmara está cheio de 'meio-honesto'", acrescentou outro vereador, que também não quis ser identificado. Fato é que o discurso do novo vereador foi muito mal visto.
Nesse sentido, vale lembrar que a Câmara, enquanto os eleitores passam por processo eleitoral a cada dois anos, na casa legislativa a eleição é no dia a dia, na medida em que um vereador precisa de apoio para aprovação de seu projeto de lei e pra isso tem que conversar com seus pares, a fim de convencê-los a votar na proposta dele e não chegar com esse tipo de discurso. Pode ser bem ruim.
TODOS CONTRA
Uma voz da experiência 'soprou' nos corredores da Câmara durante o cafezinho: "Muito burro esse discurso do vereador. Já vai começar o mandato dele com 16 vereadores contra".
Outro vereador trouxe uma outra lembrança: "Não era o Atila da Ótica que estava na lista do Ceperj?", disparou. Ao que um terceiro, enquanto esta colunista passava pelo corredor, mandou essa: "Cadê aquele áudio dele querendo extorquir os vereadores? Cadê aquele áudio?"
"O discurso de Átila é de quem não vive o mundo político, né? Muito estranho ele estar dentro da política", lançou outro.
Aquiles Barreto (atual secretário de Integração Metropolitana do Rio), que foi mencionado por Átila quando ele disse da falta de transparência do legislativo, disse que cada um determina o tipo de linha que quer adotar. "Ele já adotou a linha dele, vai ser o eu, eu, eu e eu".
NÃO TOMOU CONHECIMENTO
O presidente do legislativo cabo-friense, Miguel Alencar, comentou a crítica feita por Átila direta pra ele. "Aqui estamos sempre recebendo críticas, o tempo todo. É para melhorar. Quanto às críticas colocadas por ele, as informações estão no portal da transparência, que inclusive, ano passado, foi considerado um dos mais transparentes do Estado. Mas não acho nada demais, qualquer crítica é normal", minimizou.
Ainda sobre as alfinetadas de Átila, Miguel crê que seja porque é o primeiro momento de Átila. "Quando fui vereador pela primeira vez, em 2017, lembro que havia manifestação acontecendo aqui na Câmara. Não sabia direito como me posicionar diante do que acontecia, é normal. Quando o parlamentar chega, já vai questionando coisas, às vezes porque não tem noção", acrescentou.
DISPOSIÇÃO É GRANDE
Já o vereador Ruy França (CID) usou do discurso para agradecer aos que "acreditaram e votaram" nele. À coluna, França contou que está com expectativa muito boa. "Vou me dedicar e trabalhar muito. Disposição foi grande para chegar aqui. Quero utilizar o aprendizado e, sobretudo, colocar em prática o que eu aprendi com a gestão que tive na Prefeitura para que tenhamos uma cidade melhor. Isso é o mais importante", completou Ruy, que foi secretário municipal de Direitos Humanos e Segurança.
"Trabalhar para a população mais necessitada, esse é o grande desafio".
SÓ UMA PASSADINHA
Outro fato que chamou a atenção é que ninguém do governo municipal ficou na posse dos vereadores. Até o deputado federal Chiquinho Brazão (UNIÃO) ficou lá o tempo todo. Quem também fez questão de prestigiar foi o empresário e ex-presidente da Acia de Cabo Frio, Walmir Porto. Mas da Prefeitura, negativo. Quem deu uma passada por lá foram os secretários Gustavo Fecher (Administração); Jefferson Buitrago (Mobilidade Urbana) e Mirinho Braga (chefia de Gabinete) - esses dois considerados mais prefeitos que o próprio José Bonifácio (PDT), que não compareceu, apesar do governo garantir que ele está bem. Luiz Cláudio Gama (Controladoria-Geral) também esteve na Câmara.
A seguir, alguns trechos dos discursos e entrevistas que os vereadores empossados deram à coluna. Enquanto França agradeceu, Átila disparou críticas todo o tempo. "Chega de discursinho bonitinho e ser mais do mesmo. Não vim aqui pra ser amiguinho de vereador". Confira.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.