opina 31 de maiopaulo márcio

Nos últimos três meses viajei para todos os cantos de Santa Catarina. É indescritível a beleza e a diversidade cultural desse estado que leva nome de mulher, e que sempre foi berço de mulheres fortes e valentes. Em tempos de combate às fake news, admira que uma jornalista use estereótipos tão ridículos para condenar um povo cuja cultura desconhece.
Um profissional da informação que compara catarinenses com "aqueles alemães" é igual ao engenheiro que constrói uma ponte fadada a cair. Um cirurgião que esquece tesoura dentro de paciente. Um policial que prende inocente porque "parece bandido".

Não basta uma errata cheia de poréns. Bom seria se o jornal que publicou o erro, e todos os outros por simpatia, se empenhassem numa campanha para divulgar a realidade de Santa Catarina. Viria em bom momento: neste ano Florianópolis completou 350 anos. A imigração austríaca chegará aos 90 anos. E já há preparativos para os 200 anos de imigração alemã, ano que vem. Mais: ontem se inaugurou uma novidade — toda uma série de ações voltadas ao inverno do estado.

Santa Catarina tem, sim, Florianópolis, cidade com mais de 40 praias, vocação para tecnologia e gastronomia. Mas esconde tesouros na serra e no oeste. No início de junho, a serrana Lages oferece a Festa Nacional do Pinhão. Mais ao sul, em agosto, na italianíssima Urussunga haverá a Festa do Vinho. E por falar em vinho e em Itália, estive na capital catarinense do vinho, Pinheiro Preto, que sediou um jantar italiano com degustações de vinhos regionais e apresentação de danças típicas.
Da imensa Joinville, destaco o maior Festival de Dança do Brasil, que ocorrerá em julho, e também, a única escola Bolshoi de Balé fora da Rússia. A cidade mais austríaca do Brasil também está em SC: Treze Tílias. Ela foi fundada por um ex-ministro da Agricultura da Áustria, Andreas Taller, que tirou o nome do primeiro livro que leu em terras brasileiras, quando pernoitou no Rio de Janeiro.
Quanto à imigração alemã, destaco a famosíssima Oktoberfest, em Blumenau. No mês passado, pude conhecer Pomerode, cidade mais alemã do Brasil, em sua Osterfest. Eles fazem o maior ovo decorado de Páscoa do mundo, e têm também uma das maiores árvores de Páscoa, a Osterbaum. A cidade é pacífica, limpa, organizada, segura e cheia de tradições familiares, artísticas e religiosas — como o próprio estado.

Santa Catarina tem festas para todos os gostos. Como se não bastasse, há mais de 300 eventos esportivos agendados, e apresentações de música erudita e popular marcadas para todas as regiões do estado pela Camerata de Florianópolis, orquestra de câmara que faz apresentações acompanhando praticamente todos os gêneros musicais.
Essa união entre culturas as mais diversas, com criatividade, tecnologia e natureza, faz com que Santa Catarina tenha todas as condições para se tornar um polo de progresso, criatividade e paz. Muito, mas muito longe da odiosa caricatura que fracassaram em pintar.
Rafael Nogueira é professor de História, presidente da Fundação Catarinense de Cultura e ex-presidente da Biblioteca Nacional