Rafael NogueiraDivulgação

O brasileiro tem memória curta e língua ferina. Neymar retorna à Vila Belmiro e, em meio aos aplausos, a gente vê desconfiança. Dizem, desconfiados: “Ah, ele já é um aposentado”. “Esse cara quer ir pra Copa?”. “Será que ainda joga?”. Mas há também os que sabem que, sem Neymar, somos um time de burocratas: previsíveis, padronizados, incapazes de um drible fora da agenda.
Eis a verdade: Neymar é o último grande artista do futebol brasileiro. O último dos moicanos da finta, do drible, do corte seco, do gol impensável. Quando surgiu, era um moleque franzino que fazia dos zagueiros dançarinos involuntários. Entre 2009 e 2013, reinou como um princípe herdeiro do Rei Pelé. Deixou Paulistas, Copa do Brasil, Libertadores e uma fila de humilhados pelo caminho. Mas princípes não herdam reinos sem antes conhecer o mundo. Então, foi.
No Barcelona, sentou-se à mesa dos deuses. Jogou ao lado de Messi e Suárez, e ali foi brilhante. Ganhou a Champions, um monte de títulos espanhóis, e saiu para Paris porque queria ser o protagonista. Mas o futebol, como a vida, não respeita roteiro. No PSG, ganhou dinheiro, taças francesas e… bom, só isso mesmo. Depois, o cheque árabe: Al Hilal, cifrões, areia, camelos. Neymar virou um mercenário, diziam os moralistas de poltrona. Mas quantos recusariam meio bilhão de dólares para fazer o que mais gostam na vida?
Agora, o retorno. Como Rei Arthur vindo de Avalon, como Dom Sebastião saído do nevoeiro, como um guerreiro que retorna ao seu país após anos de batalhas em terras distantes, trazendo consigo a promessa de novas conquistas. Neymar voltou e já jogou três vezes. Dois empates, e uma vitória com pênalti cobrado com a leveza de quem nasceu para isso.
A pergunta, agora, é sempre a mesma: e a Seleção? Afinal, futebol não se mede em cifras, e sim em história. Vamos recapitular a que já foi escrita.
Em 2010, a Seleção foi para a Copa sem ele. Burra foi a comissão técnica, porque o povo já sabia que aquele menino era diferente. Em 2013, mostrou quem era: destruiu a Espanha campeã do mundo e nos deu a Copa das Confederações. Mas só vale Copa do Mundo, dirá um chato.
Então veio 2014. Neymar era o rosto, a bandeira, a esperança. Até que um colombiano lhe meteu o joelho nas costas e acabou a Copa pra ele. Acabou a Copa pra nós. Porque sem Neymar, o Brasil não era Brasil. O que se viu foi a maior desonra da canarinha. A Alemanha não ganhou de 7 a 1. Ela ficou com dó e parou no sete.
Você esqueceu, mas depois desse clima de funeral, em 2016, Neymar nos vingou. O Brasil nunca tinha vencido um ouro olímpico no futebol. E justo contra a Alemanha, no Maracanã, veio o momento. O pênalti decisivo. A batida, o gol, a explosão. Ele chorou. E berrou: “Eu estou aqui!”. Com ele em campo, não tem 7x1. Tem vitória brasileira.
Mas para alguns jogador classe A só serve se ganhar Copa do Mundo. Em 2018, ele lutou e caiu. Em 2022, jogou quase sozinho. Contra a Croácia, na prorrogação, fez um golaço. Driblou o goleiro, meteu no ângulo. A gente já sentia o cheiro da semifinal. Mas o Brasil se distraiu, tomou o empate, caiu nos pênaltis. Neymar nem teve tempo de bater o seu.
E agora, ele volta ao Santos, trazendo esperança para 2026.
Se quer um conselho, Neymar, eu te dou um: cuidado com o “Efeito Gladiador”. Na Roma antiga, gladiadores eram jogados na arena para enfrentar feras e soldados que representavam a grandeza imperial. O público ia para ver os favoritos esmagarem os anônimos. Até que um dia, um gladiador vencia. Matava os leões, derrotava os soldados. Seu nome era gritado pela multidão. Seu mito crescia, sua popularidade rivalizava com a do próprio imperador. Tem aqui tem um exército de gladiadores dispostos a ficar famosos derrotando aquele de quem todos esperam a vitória.
E que venham. Vai que isso estimula novos talentos? Ainda assim seria devido ao Neymar. Porque Neymar ainda é Neymar. A Vila Belmiro ainda o venera. A Seleção ainda precisa dele. E quem o odeia, que arrume um motivo melhor. Porque Neymar já fez mais pelo futebol brasileiro do que muitos campeões do mundo. Quem disser o contrário, ou não entende de futebol, ou não entende de Brasil.