Não é novidade para ninguém o quanto a falta de vagas em creches afeta a vida de famílias inteiras e prejudica o desenvolvimento de crianças, não é mesmo? Mas sabia que, além dessas crianças, um outro grupo é afetado diretamente? As mulheres estão entre as mais prejudicadas.
A oferta de creches e pré-escolas tem relação direta com a inserção da mulher no mercado de trabalho. A conta é simples: quanto maior a presença de bebês e crianças matriculadas em creches, maior é a empregabilidade das mães, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Os números do estudo são alarmantes. Na faixa de 2 a 3 anos, ou seja, já deixando passar a fase inicial da vida do bebê que requer mais cuidados, a taxa de emprego é de 64,7%, entre as mulheres que conseguiram vagas para seus filhos. Já para as mães que não conseguem matriculá-los em creches, esse mesmo percentual cai para 42,8% (2022).
Além disso, com mais mulheres fora do mercado de trabalho, a renda tende também a ser menor nesses lares. O rendimento médio sai de R$ 1.977 (com crianças em creche) para R$ 1.100 (com crianças fora da creche), considerando também a faixa entre 2 e 3 anos.
Em outro estudo, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPERJ) revelou que o perfil das pessoas que buscam vagas em creches na capital é majoritariamente de mulheres (87,9%), solteiras (70,3%), entre 20 e 39 anos, que precisam resolver, sozinhas, o que fazer com seus filhos para conseguirem educá-los
enquanto trabalham. Não é incomum a DPERJ cobrar o município, via Justiça, para que sejam disponibilizadas vagas na rede.
A pesquisa indicou que 70% das mães disseram ser ”a única responsável pela criança”, enquanto apenas 10,3% dos pais fizeram essa afirmação. E mais: 62,2% das pessoas entrevistadas disseram que já perderam algum emprego por não ter vaga em creche para seus filhos, e 35,5% disseram que precisaram pagar creche particular, por não encontrar vaga em creche pública. Há ainda aqueles casos bastante comuns em que avós e irmãs mais velhas absorvem a tarefa de cuidar das crianças.
Ou seja, fica claro o quanto essas responsabilidades familiares ainda tendem a recair predominantemente sobre as mulheres. Dessa forma, a falta de acesso das crianças à escola inviabiliza ou retarda a inserção feminina no mercado de trabalho, prejudicando a nossa economia.
Esse cenário é ainda pior com a elevação dos custos de creches e outros serviços de cuidados de crianças, dificultando ainda mais o acesso de mulheres ao mercado de trabalho. Em todo o mundo, a inflação elevou os custos dos cuidados infantis para níveis sem precedentes. Esses valores aumentaram 6% em 2023, segundo a empresa de mobilidade ECA International. No Brasil, esse aumento foi, em 2024, de 8,14% na pré-escola; e de 5,91% para as creches.
A urgência é clara: precisamos de políticas públicas eficazes que garantam vagas em creches para todas as crianças. A Primeira Infância não pode esperar. E as mulheres também não. Enquanto discutimos a melhor solução, mais uma geração cresce sem as melhores condições e estímulos, e mais uma geração de mulheres
é penalizada por não conseguir se inserir no mercado de trabalho. As vagas em creches precisam ser para ontem!