Estudante Gabriel Ramos, de 25 anos, está desaparecido desde a noite do dia 31 de julho, quando foi visto saindo de casa, no bairro Riachuelo, na Zona Norte do RioArquivo Pessoal

Há 21 dias, familiares e amigos realizam buscas para encontrar o paradeiro do jovem Gabriel Pinheiro da Silva Ramos, de 25 anos, que sofre de transtornos mentais e desapareceu após um surto psicótico. Gabriel foi visto, pela última vez, próximo a sua casa, na Rua Frei Pinto, bairro Riachuelo, na Zona Norte do Rio.
Na ocasião, Gabriel trajava blusão listrado branco e azul, calça jeans escura, chinelos e carregava uma bolsa de pano. O jovem não portava aparelho celular, documentos ou dinheiro. Ele usava um brinco de argola na orelha direita e tem tatuagens no corpo; entre elas, o desenho de uma rosa no peito. Devido aos surtos, iniciado em 2020, Gabriel teve que paralisar o curso de Filosofia na Universidade Federal Fluminense.
Conforme relato da família, antes do sumiço, Gabriel vinha mantendo o tratamento psiquiátrico no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Severino dos Santos, no bairro Encantado. Após os surtos, ele chegou a ser resgatado duas vezes por uma ambulância e levado, em ambos os casos, ao Centro Especializado em Reabilitação (CER), na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.
Família alega falhas em atendimentos e teme reincidências de casos
De acordo com familiares, anteriormente, nos casos de emergência, Gabriel costumava ser encaminhado ao Hospital Psiquiátrico Philippe Pinel, em Botafogo, na Zona Sul, onde permanecia ou não internado conforme determinações e protocolos médicos. Contudo, nos dois últimos episódios de surtos, o estudante foi removido para o CER, na Barra. Segundo a família, a unidade apresenta falhas estruturais para receber pacientes psiquiátricos em surto. Anteriormente, uma fuga do CAPS Severino dos Santos não foi comunicada por falta de telefone na unidade.   
“Quando solicitado a remoção, estranhamos, pois fomos comunicados que Gabriel seria encaminhado ao CER, na Barra. Os administradores da unidade, no entanto, conforme estabelecido em lei, não nos comunicaram a saída ou necessidade de uma eventual transferência, apenas a fuga. Percebemos falhas estruturais. O CER ainda não tem condições de receber pacientes em surto. Anteriormente, o CAPS não informou uma fuga por falta de aparelho telefone na unidade. Tememos que casos semelhantes ocorram. Nesse momento, por falta de um procedimento correto, o Gabriel está desaparecido. Lamentamos, pois outros pacientes podem estar na mesma situação”, ressalta o professor Mateus Pinheiros Ramos, 27 anos, irmão do estudante.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que Gabriel estava em assistência no CAPS Severino dos Santos, mas não aceitou permanecer na unidade e acabou deixando o local no dia 24 de julho. A equipe procurou por ele na região e foi encontrá-lo em sua residência no dia seguinte (25), porém não conseguiu convencê-lo a retornar à unidade para o tratamento. Ele não apresentava sinais de surto na ocasião. No dia 28, Gabriel foi atendido na emergência de saúde mental do CER Barra, mas se evadiu. A unidade entrou em contato com a família no mesmo dia para informá-los do ocorrido, segundo registrado no prontuário. O CER e o CAPS estão à disposição para atender o paciente, mas é necessário que ele aceite receber o tratamento.
Informações- O sumiço do estudante está sendo investigado por agentes da Delegacia de Descobertas de Paradeiros (DDPA). Informações sobre o paradeiro de Gabriel Ramos podem ser repassados ao Disque-Denúncia (2253-1177) ou para a DDPA ( 2202-0338 / 2202-0337). Todas as denúncias têm sigilo e anonimatos garantidos.      
Desaparecimentos por transtornos psiquiátricos chegam a 12%, segundo MPRJ
Conforme dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) foram registrados 2.900 casos de desaparecimentos, entre janeiro a junho deste ano, no Estado do Rio de Janeiro. Cerca de 12% do casos de sumiços na região estão relacionados a pessoas com transtornos psiquiátricos, segundo o cadastro do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid) ligado ao Ministério Público do Estado do Rio Janeiro (MPRJ).
Para a assistente social Cláudia Santos, especialista em transtornos psicossociais, a implementação da Lei Federal 10.216, batizada Lei Antimanicomial , que prevê o fechamento gradual de manicômios e hospícios que proliferavam país afora, trouxe benefícios aos pacientes e conscientizou a população sobre os cuidados humanitários. Contudo, as adequações e os estudos devem ser aprimorados continuamente, sobretudo, nos atendimentos emergenciais.
“Antes da lei, os manicômios, em sua maioria, eram ‘depósito’ de seres humanos. Registravam, além de inúmeras irregularidades protocolares, situações de riscos à saúde e integridade física dos pacientes. As pessoas com transtornos eram abandonadas por famílias e pelo estado”, ressalta a Santos.
Após as novas determinações, houve gradual melhora na qualidade e humanização nos atendimentos, vide a criação dos centros de atenção psicossociais e unidades de emergências. “No entanto, o fato de termos mais pessoas com transtornos vivendo em sociedade, urge a necessidade de aprimorarmos continuamente os atendimentos de emergência para evitar sumiços e riscos de vida aos pacientes”, acrescenta a especialista.