Rio - A primeira imagem que se tem de um spa é a de um lugar repleto de velhinhos ou de gordinhos. Ou das duas coisas. Pensando nisso, dando sequência a uma dieta que comecei no início do ano, fui para um deles, em Itaipava. Afinal, me encaixo bem no perfil. Não tão velho, mas pesadinho que dói.
Ser gordo é uma missão muito difícil neste mundo de modismos, de barrigas negativas, de gente marombada, de padrões estéticos etíopes. Sabe-se lá a vergonha de entrar em uma loja e ver que a maior das calças disponíveis aperta na cintura? Que todos os XGs do mundo são insuficientes para você? “Vai lá na Só Fofas”, sacaneia o Grilo Falante dos cinturinhas de ovo...
O gordo é quase um nutricionista, pois já passou por todas as dietas milagrosas, proteicas, anoréxicas, de pontos, de carboidratos e de sopas. Pior, ele sabe onde lhe aperta o calo, ou melhor, ou pior, o cinto, e não consegue emagrecer. Mas também não se dá por vencido.
Como todo gordo que se preza, sofro constantemente o efeito sanfona. O incha e desincha que, sabemos, é péssimo para a saúde. Decidi que 2015 seria um ano diferente. Tudo levava a mais uma daquelas promessas vãs de renovação. Mas, aos poucos, quilo a quilo, braçada a braçada na piscina, passo a passo em caminhadas sem fim, percebi que estava vivendo o raro momento da sanfona invertida. E me animei.Sim, porque o gordinho só precisa de um empurrão para rolar, quer dizer, para se animar.
E lá fui eu pro tal spa. Já tinha emagrecido nove quilos, mas ainda me faltavam uns dez para chegar à minha meta, que eu não vou dizer qual é nem por um decreto. Segredo e foco são a alma da dieta, seja lá qual for.
Confesso que já tinha ido antes a um desses spas, e passei por uma experiência traumática. Já no primeiro dia, um domingo, peguei a saída de uma turma festiva, que comemorava o fim da clausura com um estrogonofe. “Oba”, pensei, “tá pra mim”. O estrogonofe era um monte de cogumelos, que eu detesto, com uma calda vermelha que tinha tudo menos creme de leite e tomate ou — olha o gordo aí, gente — ketchup. Foi o prenúncio da desgraça que se abateria sobre o meu corpinho.
Sete intermináveis dias de folhas, sem direito a azeite, sal. Muito mato, vida de gado total. E me empurraram palestras, tentaram me convencer a comer capim o resto da vida e até a fazer uma lavagem estomacal. Como diria Angela Ro Ro, em uma semana perdi sete dias. Emagreci e voltei a engordar. Saí de lá que nem fera enjaulada.
Mas, dessa vez, não! Sem muita culpa, parei na Pavelka e me despedi do pão e da linguiça. Mas, ao atravessar o portão, tudo mudou. No spa tinha tudo aquilo que se espera, gordinho, velhinho e eu, representante fiel dos barrigudinhos atléticos. No primeiro dia, um senhor, também João, perguntou o que eu estava fazendo ali. Achou-me magro. Em terra de gordo, que tem menos banha é rei.
Lá tinha uma turma sensacional, que fez as horas de esteira, caminhadas ao ar livre, todos os tipos de hidro passarem sem susto. A comida era real, daquelas que a gente pode tentar seguir comendo do lado de fora. Saí de lá pensando que o spa é uma prisão às avessas. Depois de um tempo, você tem medo de sair da zona de conforto da saúde, do convívio com quem tá na mesma luta por dias e roupas melhores.
Na volta, fortalecido a ponto de nem pensar na Pavelka, vim ouvindo um disco que adoro, ‘Francisco, Forró y Frevo’, do Chico César, que tem uma canção linda, cantada em duo com o mestre Dominguinhos: “Deus me proteja de mim/ E da maldade de gente boa/ Da bondade da pessoa ruim/ Deus me governe, guarde/ Ilumine e zele assim”.
A mim e a todos os gordinhos.