Biografia de Zé Rodrix, escrita por Toninho Vaz, chega às livrarias. - Divulgação
Biografia de Zé Rodrix, escrita por Toninho Vaz, chega às livrarias.Divulgação
Por RICARDO SCHOTT

Rio - Um dos maiores desafios do jornalista Toninho Vaz ao escrever a biografia 'O Fabuloso Zé Rodrix' (Ed. Olhares, 324 págs, R$ 68) foi lidar com o lado fabulista de um criador tão completo - morto em 2009, era músico, cantor, compositor (de clássicos como 'Casa No Campo', parceria com Tavito imortalizada por Elis Regina), roteirista, publicitário, cozinheiro, escritor. E ator de teatro, com participações em peças na juventude.

"Algumas histórias eu precisei confirmar com várias pessoas", brinca Toninho, que já escreveu biografias sobre o compositor e poeta Torquato Neto e o poeta Paulo Leminski, além de começar o vínculo com Rodrix ao pôr em livro a história do Solar da Fossa, conjunto de apartamentos onde moraram vários artistas (Caetano Veloso e Paulinho da Viola entre eles) nos anos 1960.

"Eu havia entrevistado o Zé para o livro do Solar. Ele não morou lá, mas frequentava o lugar diariamente. Já o Guarabyra (do trio com Sá e Rodrix) é meu amigo desde os anos 1970 e certa vez me disse que o Zé era um grande mentiroso", conta. "O Zé contava que era formado em Direito. Ele estudou o primeiro ano do curso e nunca se formou. Mas conhecia Direito tão bem que enganava!".

As histórias inventadas por Rodrix (que se chamava José Rodrigues Trindade e escolhera o codinome numa brincadeira com Jimi Hendrix e o personagem Asterix) não se limitavam à sua formação universitária. "Uma vez, a ex-mulher do Tavito disse para ele que tinha um tio surdo-mudo. O Zé ouviu aquilo e respondeu: 'E eu, que tenho cinco tios que são surdos-mudos?'", diz Toninho, rindo.

Doidão? Nada

Apesar de ter mantido carreira sólida na música nos anos 1970 (com hits como 'Soy Latino Americano' e 'Quando Será?', e muitas aparições em programas de TV) e de, mesmo longe do mercado fonográfico, continuar compondo, fazendo publicidade, escrevendo e dando entrevistas, muitas histórias (verdadeiras!) da vida de Rodrix nunca haviam chegado ao grande público. "Todo mundo sabia muito pouco da vida do Zé Rodrix. Tinha gente que pensava que ele era um grande doidão, que vivia drogado. E ele não usava drogas, nem bebia", completa.

Muita gente não sabia disso, mas Rodrix era amicíssimo de Claudia Raia, para quem dirigiu musicais (como o clássico 'Não Fuja da Raia'). Teve um disco produzido por Paulo Coelho em 1979, 'Sempre Livre', e escreveu músicas com ele - algumas delas foram gravadas pelo grupo The Fevers. E abandonou a vida de cantor em 1982 após a morte de sua amiga e "madrinha" Elis Regina. Um dia antes de Elis morrer, Rodrix esteve numa festa em que viu a cantora consumindo cocaína e bebida alcoólica, e culpou-se por não tê-la ajudado. Só voltaria a cantar nos anos 1980, como vocalista do Joelho de Porco - e em 2001, num retorno de Sá, Rodrix & Guarabyra que foi parar no palco do Rock In Rio 3, naquele ano.

A biografia também entrega detalhes do relacionamento de Zé Rodrix com filhos e ex-mulheres. O cantor foi casado quatro vezes e teve seis filhos - um deles fora de qualquer relacionamento.

"Foi com uma divulgadora de gravadora que queria ter um filho e criá-lo sozinha. E escolheu o Rodrix pelo caráter dele", conta Toninho Vaz, lembrando que à exceção do último casamento, todos os outros do cantor duraram pouco tempo. "Depois que ele se casou com a Júlia (sua última mulher), ele passou a ter mais contato com os filhos dos outros casamentos e os convidava para visitá-lo em São Paulo, onde ele tinha ido morar".

Doze mil livros

Nos últimos tempos, Zé Rodrix dedicava-se à carreira de escritor, lançando uma série de livros sobre a maçonaria, agrupados na 'Trilogia do Templo'. E também enfrentou dois grandes baques pessoais: a morte em 1998 de Tico Terpins (fundador do Joelho de Porco e seu sócio na agência de publicidade A Voz do Brasil) e um vício que adquiriu em... internet, que levou sua última mulher, Júlia, a cancelar contas em casa.

"O Zé tinha doze mil livros em casa, e tinha lido tudo. O Tavito dizia que não dava pra expandir a cabeça do Zé, porque ela já era expandida", lembra Toninho, recordando que Rodrix, anos antes de existir o termo "politicamente correto", já se colocava como o oposto disso. "Ele fazia piadas que hoje o colocariam como machista. Como as feministas queimaram sutiãs, ele lançou uma música chamada 'Abaixo a Cueca', pregando a liberdade masculina"

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