Cena de '70? Década do Divinho Maravilhoso Doc Musical' - Alexandre Brum
Cena de '70? Década do Divinho Maravilhoso Doc Musical'Alexandre Brum
Por BRUNNA CONDINI

Rio - A partir desta sexta-feira, o palco do Theatro Net Rio, em Copacabana, vai se transformar na festa da efervescência cultural, da contestação e do empoderamento, com a estreia de '70? Década do Divino Maravilhoso Doc Musical'.

"Atenção/Tudo é perigoso/Tudo é divino maravilhoso/Atenção para o refrão/É preciso estar atento e forte/Não temos tempo de temer a morte", convoca o refrão de 'Divino Maravilhoso', emblemática parceria de Caetano Veloso e Gilberto Gil, que está na trilha. E também nomeia a nova montagem de Frederico Reder e Marcos Nauer, que traz As Frenéticas como grandes homenageadas e revisita no palco uma das mais explosivas décadas da história do país.

"O que mais me encanta é a qualidade musical da época. Isso apesar da dor e do sofrimento que tem na década de 1970", observa Reder.

Mulheres assumiram posição de liderança e os movimentos de minorias da década anterior se tornaram mais fortes. Com a presença forte da censura, a década foi permeada pela intensidade de perdas e ganhos.

"A minha questão é como tocar nos temas e encená-los sem ser panfletário. Quando me proponho a fazer um documento, não é só a minha visão artística que está ali. Tem toda a pesquisa do Marcos Nauer. São dois anos de trabalho", diz ele sobre a parceria com o pesquisador, dramaturgo e roteirista, que rendeu o sucesso anterior '60! Década de Arromba Doc Musical', com Wanderléa.

A superprodução conta com 24 atores-bailarinos-cantores, uma orquestra de dez músicos, 20 cenários, 300 figurinos, toneladas de luz e som, e mais de 100 profissionais. Tudo para contar momentos marcantes dos 70, através de depoimentos, fotografias e vídeos.

Dos acontecimentos políticos, passando por moda, comportamento, esportes e movimentos artísticos, tudo embalado por mais de 250 canções brasileiras e internacionais, divididas cronologicamente em lado A (1970-1976) e lado B (1977-1979).

Libertárias

Frederico Reder e As Frenéticas (as remanescentes Dhu Moraes, Leiloca Neves e Sandra Pêra), as estrelas do formato que mistura teatro, documentário e música, receberam a equipe do Show&Lazer às vésperas da estreia, e a emoção dava o tom. Dhu Moraes lembrava que há 40 anos o grupo subia no mesmo palco, ainda na formação completa, com ela, Edyr Duque, Leiloca Neves, Lidoka Martuscelli (1950-2016), Regina Chaves e Sandra Pêra.

"Foi o primeiro espetáculo nosso, não tem como esquecer. Ficava tão lotado, que vendiam espaço no chão", conta Dhu. "É emocionante recordar e lembrar que, quando vivemos isso, estávamos as seis juntas".

No musical, Dhu, Leiloca e Sandra entram no bloco dedicado à febre das discotecas, fenômeno que estourou nas pistas do mundo também há 40 anos, inclusive no Brasil, na trilha da novela 'Dancin' Days', de Gilberto Braga. "A música (homônima) é apoteótica. Até hoje os DJs tocam para encher uma pista", garante Leiloca, que acrescenta:

"Agradeço ao Fred. É um convite que me deixa muito comovida. Estamos sendo homenageadas ainda vivas e fazendo nós mesmas. Não tem preço".

Sandra exalta o 'legado frenético' para as mulheres que vieram depois. "É a irreverência, a ousadia e a liberdade. A partir das Frenéticas, me senti muito à vontade de dizer, sem grosseria, tudo que penso. Representou liberdade de expressão, sexual", afirma Sandra.

"Imagina você cantar lá atrás: 'Eu sei que eu sou bonita e gostosa' (trecho de 'Perigosa', primeiro sucesso delas). Nada que as vedetes já não tivessem feito, mas cantar nas rádios, programas, como fazíamos, era uma coisa nova. Hoje, isso é comum. Você vê a Anitta, a Ludmilla, cantando as coisas mais abusadas. Essas sertanejas todas são ousadas, empoderadas. É maravilhoso".

Questionamentos

Frederico Reder compara o espetáculo atual ao sucesso anterior. "Em '60!', colocávamos uma exclamação no título, tinha uma leveza, era uma festa. Apesar do que estava acontecendo e por vir, muita gente não tinha consciência. Nos 70, isso se tornou consciente", analisa o diretor.

"Por isso, a montagem sobre a década de 1960 vinha com uma exclamação no título. Na atual, coloquei uma interrogação. A década de 1970 é de incertezas, questionamentos". Reder avisa que deseja oferecer muita diversão com o espetáculo, mas também estimular a reflexão da plateia.

"Aquela que busca a paz, encontra caminhos. Novos caminhos. Quero que as pessoas saiam do teatro com esperança. Brinco que foi uma 'Discodécada', a década da disco. Além disso, as músicas são tão atuais. No meu texto do programa até questiono: 'Será que estou fazendo um espetáculo de 40 anos atrás ou estou falando da atualidade?'", diz.

Theatro Net Rio. Sala Tereza Rachel. Rua Siqueira Campos 143, Copacabana. R$ 40 a R$ 160. Qui e sex, 20h30. Sáb, 17h e 21h. Dom, 18h. 150 min. 14 anos. Até 16 de dezembro.

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