Eliseu (Milton Gonçalves) - Paulo Belote/TV Globo
Eliseu (Milton Gonçalves)Paulo Belote/TV Globo
Por Gabriel Sobreira

Rio - Com mais de 80 produções televisivas no currículo, aproximadamente 70 filmes, prestes a fazer 85 anos (dia 9 de dezembro) e com 60 de carreira, Milton Gonçalves, o Eliseu de 'O Tempo Não Para', novela da Globo, confessa ter um sonho. "Um dia, eu olhar nos escritos do meu país e ver que lá não tem textos falando de negro, branco, azul, roxo, amarelo", torce ele pela igualdade racial.

"Vou entrar em qualquer lugar. Temos que entrar em qualquer lugar, discutir em qualquer lugar, comer, vestir, reclamar em qualquer lugar. Não quero que me tratem como coitadinho. Quando falo eu, não sou só eu, Milton, mas eu e meus irmãos negros. Não quero que sejam tratados como coitadinhos. Chega disso", frisa.

CONSCIÊNCIA NEGRA

Ator, diretor, jornalista, militante do movimento negro, cantor, dublador, produtor, o mineiro de Monte Santo de Minas fala sobre o papel do Dia da Consciência Negra, comemorado hoje. "Não tenho nada contra o Dia da Consciência Negra. Mas não acho que 54% da população necessita ter uma manifestação assim. Nós temos mais é que sair, ler, escrever, reclamar e brigar", atesta ele que, em 1994, se candidatou ao Governo do Rio de Janeiro.

"Me candidatei porque sou um cidadão com mesmas qualidades que brancos, azuis, roxos e amarelos. E achei que poderia e deveria. E fui muito bem votado. Acabei sendo secretário (subsecretário do Gabinete Civil) do governo do Marcello Alencar. Estava do lado dele, era respeitadíssimo por ele", afirma.

RACISMO

Milton conta que, ao longo dos anos, já encarou diversas situações de racismo. "Não enfrentei, apenas conversei com eles. Dei o meu ponto de vista e ouvi o ponto de vista deles. Mas isso a gente não tem como mudar. O resultado: um é contra e o outro é a favor", pondera.

Gonçalves lembra que já chorou por causa do preconceito. "Desrespeitaram a minha mulher. Que era advogada branca, de uma família tradicional, que de repente foi desrespeitada. Isso me machucou e doeu muito", recorda-se ele.

BATALHA

Para que os filhos não passassem por algo parecido, o ator baseou a formação deles em dois pilares. "Educação e cultura", defende. "Teve um momento na minha vida que tive que estudar. Eu quis e (pensei) vou estudar, sou formado em jornalismo e em outras coisas. Acho que os meus irmãos negros também têm que fazer isso, não adianta ficar chorando. Tem que batalhar. Nós somos 54% da população, e não somos contados como tal", completa.

COTA

Quando o assunto é cota, o veterano é direto. "Essa não é a minha preocupação. A minha preocupação maior é você poder levar seus filhos, eles estudarem, lerem e serem capazes de participar da sociedade", aponta ele, que em na novela das 19h, da Globo, vive um simpático pai de família e amigo de Dom Sabino (Edson Celulari). "A repercussão está ótima, 100% de aplausos, de carinho, de afetos. O personagem é ótimo. Os outros meus colegas também. O balanço que faço de carreira e de vida é 100% legal, 100% bom. Tenho filhos maravilhosos, amigos maravilhosos e diretores também", fala com orgulho.

Você pode gostar
Comentários