Diogo Cardoso (abaixo) com os demais integrantes do Grupo Roda Gigante, que comemora 10 anos - Duharte Fotografia/Divulgação
Diogo Cardoso (abaixo) com os demais integrantes do Grupo Roda Gigante, que comemora 10 anosDuharte Fotografia/Divulgação
Por Gabriel Sobreira

Rio - Há dez anos, ao longo de dez meses, os hospitais Universitário Pedro Ernesto, Municipal Salgado Filho e Federal de Bonsucesso recebem uma dupla de palhaços profissionais duas vezes por semana. "O palhaço entra no hospital e um mundo se abre, um universo de possibilidades, um jogo cênico de improviso e humor se estabelece com as crianças, familiares e profissionais de saúde", diz Diogo Cardoso, um dos integrantes do Grupo Roda Gigante, coletivo responsável pela intervenção, que também comemora hoje o Dia do Palhaço.

LADO LÚDICO

Em meio a sentimentos como alegria, perda e medo, as técnicas de improviso, os princípios da palhaçaria, musicalidade e dramaturgia da cena dão um novo significado à realidade vivida por pacientes, seus familiares e profissionais dos hospitais. E justamente as reflexões derivadas desse projeto, que acontece de leito em leito ou, às vezes, em uma enfermaria inteira de uma vez, resultou no espetáculo 'Sobre O Que Não Sabemos', com direção de Denise Stutz, em cartaz até o próximo domingo, dia 16, às 18h (de sexta até domingo), na Sala Multiuso do Sesc Copacabana.

"Eu acho que esse espetáculo fala sobre um monte de coisa que a gente olha, mas não vê, vê mas não fala, fala mas não escuta, escuta mas não entende, e entende tudo", explica Cardoso, acrescentando a importância da bailarina e coreógrafa Denise Stutz no projeto. "A Denise entrou com outra linguagem no coletivo, uma linguagem mais corporal, real, sem o trejeito e os jogos que estávamos acostumados a fazer. Então, o desejo do espetáculo nasceu desse encontro com ela. Como não sabíamos exatamente o que ia ser esse trabalho, de onde surgiriam as cenas, o contexto, resolvemos trabalhar isso, sobre o que não sabíamos", afirma ele.

Ainda segundo o artista, a rotina nessas instituições de saúde é dura e muito fragilizada pela falta de estrutura e pelo sistema falido. "As crianças muitas vezes ficam à mercê da sorte. Os palhaços interrompem esse fluxo cotidiano e criam uma nova possibilidade do mesmo ser diferente. As histórias são muitas, cada um tem a sua", confessa o ator, que forma o Grupo Roda Gigante ao lado de Cristiana Brasil, Eber Inácio, Florência Santangelo, Kadu Garcia e Marcos Camelo.

GRUPO RODA GIGANTE

O 'Sobre O Que Não Sabemos', que é uma comemoração dos 10 anos do grupo, é o terceiro espetáculo do Roda Gigante originado no processo pesquisa-encenação, que já virou uma marca registrada do coletivo. Mas por que a palhaçaria? "É necessário estabelecer ferramentas na sociedade que possibilitem a transgressão do cotidiano, as inversões de papéis, o questionamento dos valores, das relações. A função do palhaço não vem de hoje, existem manifestações desde a Idade Média, quando o papel do riso e da transgressão se estabelecia pelo papel do Bobo da Corte. O palhaço faz parte da essência da vida", defende.

Para 2019, os planos do Grupo Roda Gigante é dar continuidade ao trabalho nos hospitais, viajar o quanto puder com o espetáculo e pensar também em uma nova montagem. "Está surgindo também um convite bacana com uma instituição para fazermos um projeto de formação. Não posso adiantar muito porque é um projeto bem embrionário ainda. Mas é isso, projetar cada vez mais esse coletivo, pois me parece que teremos anos mais difíceis para a cultura", destaca.

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