Covil do Flow, junto com Zak Starkey e a mulher e parceira Sharna Liguz no estúdio Nas Nuvens - Divulgação
Covil do Flow, junto com Zak Starkey e a mulher e parceira Sharna Liguz no estúdio Nas NuvensDivulgação
Por RICARDO SCHOTT
Rio - "Covil" significa "cova habitada por animais ferozes, ou toca". Já "flow" é "fluxo", em inglês. A toca, no caso do grupo carioca de rap Covil do Flow, é uma pequena sala na Rocinha que tem o aluguel dividido a duras penas pelos oito integrantes. "Cada um bota ali um pouquinho do seu suor todo mês pra manter o estúdio", conta Rogi, um dos rappers da tropa formada na megafavela em São Conrado, na Zona Sul.
O fluxo vem do ritmo e das rimas, que eles criam lá dentro. E que já chegaram lá fora, nos ouvidos gringos de Zak Starkey, nada menos que o filho de Ringo Starr e atualmente baterista em uma das maiores e mais antigas bandas de rock ainda em atividade, o The Who. Zak gostou do que ouviu e está no Brasil para lançar, através de seu próprio selo, Trojan Brasil (em parceria com a gravadora BMG), a primeira música da parceria, 'Favela Town' ('Cidade favela').
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Disponibilizada ontem nas plataformas digitais, a faixa é destacada com orgulho pelo grupo como “o primeiro reggaeton de favela brasileiro”. Dá para dizer então que o encontro com Zak eleva o Covil do Flow como uma das principais promessas do rap nacional da atualidade. Certo?
"O Zak é nosso padrinho! O beat de 'Favela town' foi criação dele. Como ele é o filho do baterista dos Beatles,vai ajudar bastante o networking que ele vai fazer, os contatos que a gente vai conseguir através dessa parceria", comemora Nice, fundador do Covil. "Sem falar na infraestrutura que o Zak já colocou à nossa disposição, a gente foi com ele trabalhar lá no estúdio do Liminha, só contato pesado!", continua Nice.
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Pois é, o Covil do Flow gravou e ensaiou essa semana com o célebre músico e produtor Liminha no estúdio dele, o Nas Nuvens, no Jardim Botânico. O trabalho foi realizado ao lado do padrinho Zak. Como foi estar com os dois em estúdio? "Eles mais observaram que falaram, deram toques sutis, mas nos deixaram bem à vontade. Parece que eles já gostaram do nosso trabalho do jeito que é”, avalia Nalk, outro integrante.
Projetos essenciais
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O herdeiro do baterista dos Beatles está no Brasil para divulgar as atrações de seu selo. A primeira apresentação foi num show exclusivo na Fundação São Martinho para as crianças do Centro Musical Jim Capaldi - que dá acesso ao aprendizado de música gratuito para o bairro de Vicente de Carvalho - com Zak Starkey, BNegão (do Planet Hemp) e o jamaicano U-Roy, considerado precursor do rap. Zak adorou trabalhar com os pequenos do Centro, que, já formaram seu próprio grupo e chegaram a cantar com Roger Waters (Pink Floyd) e no 'Caldeirão do Huck'.
"Projetos como esses são essenciais!", decreta Zak Starkey, surpreendido quando as crianças de Vicente de Carvalho o receberam tocando 'With a Little Help From My Friends', clássico dos Beatles cantado por seu pai Ringo Starr. "Eles tocam e você vê que amam fazer isso, e o ambiente que a música cria é muito saudável para as crianças e jovens. É muito bom conectar as pessoas através da música", alegra-se.
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Ajuda do amigo
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Os artistas do selo Trojan (Covil do Flow, BNegão e U-Roy, além de Zak) se reúnem para mais duas apresentações, desta vez abertas ao público: amanhã (domingo) na Casa da Glória (Ladeira da Glória 98, Glória), com ingressos a R$ 25; e no dia 31 (sexta), na Quadra da Roupa Suja, na entrada da Rocinha, com entrada gratuita, sempre a partir das 16h20.
"É a nossa casa, é só chegar!", convida o rapper Ami$h. "A Rocinha é uma cidade, uma favela town mesmo. Tem rap, pagode, sertanejo, é um mix de todos os ritmos, e uma fonte de talentos. Tem artista de tudo quanto é tipo e se alguém abrir os olhos e as antenas pode se dar bem", alerta.
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Zak Starkey é um dos fisgados pelos talentos da comunidade.
"Eles soam frescos, novos, diferentes. Tem potencial incrível para fazer sucesso até fora do Brasil, com certeza", aposta o músico inglês.
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Veterano no rap brasuca, BNegão também se entusiasma ao falar dos novatos do Covil do Flow: "A cultura periférica tem que estar no alto, e saber que estão conseguindo chamar a atenção de tanta gente eu acho bom demais. Virei torcedor também dos caras, tipo time de futebol, que você vira torcedor", vibra o integrante do Planet Hemp.