Por O Dia
Rio - A cantora, compositora, atriz e psicanalista Numa Ciro fez tanta arte na vida, que só parou agora, aos 70 anos para fazer seu primeiro álbum. E todo esse tempo de andanças acabou sendo de grande importância para hoje ela lançar um disco primoroso de treze faixas em que reúne parcerias com Luiz Gonzaga, Hermeto Pascoal, João Donato, José Miguel Wisnik, Tibor Fittel, César Lacerda, Socorro Lira, Claude Burg, Tania Christal, Flávio lá e Lan Lanh. Lan Lahn também assina a produção do álbum intitulado "Numa", que chega nesta sexta-feira em todos os aplicativos de música através da Dubas.


Dentro de "Numa" há uma interessante e bonita diversidade de ritmos. Tem xote, valsa, fado, rock, martelo agalopado, galope à beira mar. Tudo com doses cavalares de modernidade nos arranjos e de força, nas interpretações tão especiais dessa artista que desde os 30 anos impacta com suas performances pelos palcos do Brasil e da Europa. Seus monólogos cantantes encantavam o público, muitas vezes repleto de famosos como Caetano Veloso, Regina Casé e Hermano Viana.

"Ter Numa Ciro se apresentando na cidade deveria ser algo tão garantido quanto o canto gregoriano no Mosteiro de São Bento. O bom é ver repetidas vezes, religiosamente", se derreteu Hermano Viana em um dos seus textos que exaltava a arte da paraibana.

Ainda criança, Numa Ciro tentou se apresentar numa peça. Era um evento familiar, só com pais e amigos, mas ela ficou envergonhada e deu as costas à plateia. Enveredou para a psicanálise, aos 30 virou artista e anos depois, estava nua, dentro da Academia Brasileira de Letras, sendo pintada pelo artista plástico Hildebrando de Castro.

A parceria com Hildebrando virou eterna. Ela posou para muitos quadros dele e a performance "Natureza viva: Acrílica sobre pele" colocou Numa no mundo das artes plásticas como performer. À partir disso, todos os seus trabalhos tinha o toque de Hildebrando nos figurinos, cenários, cartazes. Ele foi um dos responsáveis por tornar a cantora uma figura importante no cenário underground e intelectual do país.

Inclusive, é Hildebrando quem assina a capa deste álbum, que abre com Numa cantando à capela, a inédita "Desproporção" - uma parceria com César Lacerda - e segue com os beats e levadas de Deeplick e Lan Lanh em "Psicodélica". De João Donato, ela ganhou a melodia para compor "Do esperar". "Contei para ele que eu gostava de colocar letras em canções. Na mesma hora, ele compôs, gravou e me deu esse presente gravado num CD-R naquela mesma noite. Como sei que Donato gosta de baile, segui essa fórmula", conta a compositora sobre a faixa que teve participação especial de Rodrigo Faria, piano de Donatinho e coro de Nanda Costa.

Vigésima Hora, duo com Tânia Christal é o maior barato. "Estou louca, louca, louca. Preste atenção no detalhe", diz o refrão. A força feminina é evocada em "A arte é mulher", com participação de Lan Lanh. "Vi a Terra engravidar do universo pelo sopro da natureza e a criação era simples rotina e diversão. Não havia discordância no inverso. Se da luz fizeram-se os versos, das sombras da noite, a ficção", declama Numa.

"Numa Ciro é aquele LP que faltava entre os meus favoritos. É mais poética, mais prosa, mais Nordeste, mais Brasil, mais Portugal, mais moderna, mais clássica, mas sempre original. Uma voz potente e uma personalidade que me encantou, desde a primeira vez que a cantora Jussara Silveira, me levou para assistir um de seus monólogos cantantes", opina a produtora Lan Lahn.