Dentro de "Numa" há uma interessante e bonita diversidade de ritmos. Tem xote, valsa, fado, rock, martelo agalopado, galope à beira mar. Tudo com doses cavalares de modernidade nos arranjos e de força, nas interpretações tão especiais dessa artista que desde os 30 anos impacta com suas performances pelos palcos do Brasil e da Europa. Seus monólogos cantantes encantavam o público, muitas vezes repleto de famosos como Caetano Veloso, Regina Casé e Hermano Viana.
"Ter Numa Ciro se apresentando na cidade deveria ser algo tão garantido quanto o canto gregoriano no Mosteiro de São Bento. O bom é ver repetidas vezes, religiosamente", se derreteu Hermano Viana em um dos seus textos que exaltava a arte da paraibana.
Ainda criança, Numa Ciro tentou se apresentar numa peça. Era um evento familiar, só com pais e amigos, mas ela ficou envergonhada e deu as costas à plateia. Enveredou para a psicanálise, aos 30 virou artista e anos depois, estava nua, dentro da Academia Brasileira de Letras, sendo pintada pelo artista plástico Hildebrando de Castro.
A parceria com Hildebrando virou eterna. Ela posou para muitos quadros dele e a performance "Natureza viva: Acrílica sobre pele" colocou Numa no mundo das artes plásticas como performer. À partir disso, todos os seus trabalhos tinha o toque de Hildebrando nos figurinos, cenários, cartazes. Ele foi um dos responsáveis por tornar a cantora uma figura importante no cenário underground e intelectual do país.
Inclusive, é Hildebrando quem assina a capa deste álbum, que abre com Numa cantando à capela, a inédita "Desproporção" - uma parceria com César Lacerda - e segue com os beats e levadas de Deeplick e Lan Lanh em "Psicodélica". De João Donato, ela ganhou a melodia para compor "Do esperar". "Contei para ele que eu gostava de colocar letras em canções. Na mesma hora, ele compôs, gravou e me deu esse presente gravado num CD-R naquela mesma noite. Como sei que Donato gosta de baile, segui essa fórmula", conta a compositora sobre a faixa que teve participação especial de Rodrigo Faria, piano de Donatinho e coro de Nanda Costa.
Vigésima Hora, duo com Tânia Christal é o maior barato. "Estou louca, louca, louca. Preste atenção no detalhe", diz o refrão. A força feminina é evocada em "A arte é mulher", com participação de Lan Lanh. "Vi a Terra engravidar do universo pelo sopro da natureza e a criação era simples rotina e diversão. Não havia discordância no inverso. Se da luz fizeram-se os versos, das sombras da noite, a ficção", declama Numa.
"Numa Ciro é aquele LP que faltava entre os meus favoritos. É mais poética, mais prosa, mais Nordeste, mais Brasil, mais Portugal, mais moderna, mais clássica, mas sempre original. Uma voz potente e uma personalidade que me encantou, desde a primeira vez que a cantora Jussara Silveira, me levou para assistir um de seus monólogos cantantes", opina a produtora Lan Lahn.