Por karilayn.areias

Rio - Tony Ramos estreia hoje na pele daquele que talvez possa ser chamado de seu maior vilão até hoje. Em ‘Vade Retro’, nova série da Globo com 12 capítulos, ele é Abel Zebu (nome autoexplicativo), um empresário inescrupuloso e sedutor: um ser praticamente diabólico — humano ou sobrenatural? “Sou um ator movido por estímulos diferentes, desafios. E é um estímulo criar uma personagem que não tem nada a ver comigo e com o que acredito. Mas propõe reflexões”, diz Tony, que está escalado para a próxima novela de Alcides Nogueira do horário das 18h.

Tony Ramos em 'Vade Retro' como Abel ZebuDivulgação

Na trama escrita por Alexandre Machado e Fernanda Young, e dirigida por Mauro Mendonça Filho, o ator de 68 anos, 53 de carreira, engata o terceiro personagem de índole duvidosa: em ‘A Regra do Jogo’ (2015) ele foi Zé Maria, um criminoso, e em ‘O Rebu’ (2014), viveu um empresário corrupto, Carlos.

“Faltavam três meses para acabar ‘A Regra do Jogo’. E o Mauro Mendonça mandou os capítulos da série para mim. Acabei de ler o capítulo 3 e disse: ‘Tô dentro!’”, conta. “O Abel Zebu é surpreendente sob vários aspectos. Em primeiro lugar, o espectador vai achar que está entendendo uma coisa e, de repente, percebe outra. De repente, ele volta à primeira impressão. Eu posso falar que é um empresário de muito sucesso, milionário. É um palestrante oficial de várias empresas. As palestras dele falam da vida, do comportamento humano. Da soberba, de ser avesso ao politicamente correto”, esclarece o ator sobre Zebu, que vai seduzir a advogada Celeste (Monica Iozzi).

Ela vai se deixar envolver por Abel e pelo que ele proporciona. “Celeste é uma pessoa boa, tem valores, ética, mas é ambiciosa. A grande questão é o quanto a gente cede com as tentações da vida. Por mais que seja correta, generosa, ela acaba se perdendo. Às vezes, a vaidade cega. Essa mulher que tinha toda retidão não se vê mais assim”.

Na história, Abel Zebu aparece no escritório de Celeste querendo os serviços dela para realizar seu divórcio com Lucy Ferguson (Maria Luisa Mendonça), mas na verdade ele tem outras intenções, que não são reveladas de cara. Misturando suspense e comédia, a série aborda questões de ética e valores, com muito humor. “A regra número um da comédia é ser leve, não gosto de comédia pesada”, explica Alexandre Machado. “Também tem essa mensagem da luta do bem contra o mal e de que através da comédia e do riso também há reflexão”, completa Fernanda Young.

Tony Ramos acredita que o bem e o mal habita dentro das pessoasDivulgação

Para Tony, esse dualidade entre bem e mal não é personificada numa única pessoa. “O diabo pode estar dentro de cada um. O mal e o bem habitam as pessoas 24 horas por dia. Você escolhe. Quando escolhe agredir alguém, é o mal, por exemplo”, reflete. “Não quero catequizar ninguém, então não vou falar das minhas crenças. Mas tenho uma religiosidade muito forte. Acho importante. Tenho provas da existência de Deus em minha vida. Mas não me pergunte quais, porque isso é íntimo. Tem gente que não acredita em nada. Algumas pessoas têm crenças obsessivas”.

E viver um personagem com um lado tão sombrio e até supostamente sobrenatural incomodou? “De jeito nenhum. Meu personagem tem o tom da comédia. Além disso, o clima das gravações era muito bom. Os próprios autores também têm a religiosidade deles. Eu levava meu Sagrado Coração de Jesus, rezava meu Pai Nosso, minha religiosidade. Mas tudo correu em ótimo clima, em ambiente de conformidade e ótimo trabalho que durou cinco meses. Sem incidentes”, brinca o ator.

Ele garante que não buscou referências ou inspirações para compor seu Abel. “Sou um ator que adora ler e reler o que está escrito. Adoro conversar com o autor, no caso, os autores. Preferi ir apenas pelo texto, porque o texto encerra uma ideia. A missão do ator é mergulhar nas entrelinhas do texto, e a partir daí criar. Fica até mais gostoso do que você tentar sem querer imitar coisas que você viu”, ensina. E para quem Tony diria ‘Vade retro’ (‘afasta-te)? “Para quem tem soberba, ambição desenfreada. Para quem não respeita o povo, a saúde pública, a educação”, diz ele, completando: “O mundo está carente de boas práticas, de afeto. Quanto mais se pratica o bem, mais se melhora o mundo. Não sou utópico, acho mesmo isso. Nunca prejudiquei ninguém nesses anos todos de carreira. Fazer o bem é mais fácil do que fazer o mal. Quem faz o mal nunca tem bom fim”.  


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