Rio - Salto alto, roupa de grife, cabelos louros esvoaçantes, joias finas. E humor ferino, com atitude e enorme capacidade de colocar qualquer pessoa em seu devido lugar. É assim que chegará Marcos Paulo (Nany People) vindo de Paris, hoje, em 'O Sétimo Guardião', da Globo. Enquanto todos esperam um homem, Marcos Paulo irrompe completo e seguro de si após fazer a cirurgia de redesignação sexual. "Papel certo na hora certa", diz ela.
O NOME DELA É NANY
Ao contrário do personagem, Nany People, que também é mulher trans, nunca fez a mudança de sexo. E está muito bem assim. Ela conta qual foi a reação dela quando a convidaram para um teste na emissora - esta é a primeira novela dela.
"Achei que era trote. Como fui vitima de vários programas de humor que me ligaram para 'N' coisas, achei que fosse programa de rádio fazendo pegadinha ao vivo", brinca Nany, de 43 anos. Diferente de Marcos Paulo, ela fez questão de adotar o nome social e não mais Jorge Demétrio Cunha Santos (nome de batismo). A atriz conta que já passou por situações chatas, como chegar no hotel como Nany People e entregar o RG com o nome anterior. Numa ocasião, foi viajar para fazer um evento, e como a passagem estava emitida com o nome Nany People, ela precisou comprar outra com o nome de batismo. "Agora é tanto RG, CPF, Imposto de Renda, passaporte... Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado e rotulado", brinca, citando a letra do 'Carimbador Maluco', de Raul Seixas. "É uma coisa que eu queria há 18 anos. E antigamente, o processo era muito mais complexo, mais burocrático, inclusive clinicamente. Mas... Nany People Cunha Santos, muito prazer!", completa, altiva.
"Foi sair a notícia que eu estaria na novela, que até ex apareceu da catacumba. Minha vida virou um 'Walking Dead' (série sobre mortos-vivos) (risos). Começou a aparecer ex que eu nem imaginava que fosse aparecer", diverte-se. Nany afirma estar focada no trabalho. "Estou em "relacionamento sério com 'O Sétimo Guardião'. No momento estou solteira, mas não estou sozinha. Estou me divertindo", confessa a atriz, aos risos.
MUITO ROMÂNTICA
A mineira revela que gosta de namorar. "Não parece, mas sou muito romântica. Sou dedicada, gosto de jantar a dois, de um teatro, cinema. Sou muito parceira", diz ela, que revela não receber cantadas. Ela acredita que os homens têm medo da autonomia dela e que isso pode assustar as pessoas. "Sempre fui daquelas que escolhem em que vão dar o bote. Sempre fui predadora, sempre fui a caçadora. Quem escolhe sou eu, nunca fui escolhida. Sempre tenho aquela coisa de bater o olho e falar: 'Quero na minha vida'. E aí a gente batalha por ela", destaca.
A HISTÓRIA
Na história de Aguinaldo Silva, Marcos Paulo (Nany People) é a única pessoa que bate de frente de igual para igual com Valentina (Lilia Cabral). "Costumo dizer: 'Ninguém vai jantar com hiena sendo ovelha'. Tem que ser hiena também (risos). Eles disputam o tempo todo. Dinheiro, poder de comandar. Ela é a única que fala: 'Ei, filhinha, acorda para a vida'. A Marcos Paulo é irônica. Ela não adota nome feminino porque quer causar. Faz questão de ser respeitada. E isso tenho parecido com ela. Ela não se faz de vítima. Não tem vitimismo", comemora.
TIETE
A loura conta que dá um frio na barriga toda vez que se vê diante de Lilia Cabral, Tony Ramos, Elizabeth Savalla, Zezé Polessa, Ana Beatriz Nogueira. "São talentos que acompanho há anos", resume. No caso de Lilia, Nany ainda morava em Minas, na década de 80, quando foi a São Paulo assistir a 'Feliz Ano Velho', peça com a colega no elenco. "A sensação que eu tive quando saí de lá foi de: 'Quero fazer isso na minha vida'. No primeiro dia de workshop, eu falei para a Lilia: 'Não sei se eu acendo uma vela, rezo uma missa, chamo o SAMU ou pego copo de água com açúcar'. Ela falou: 'Me dá um abraço'. Foi uma querida, e foi uma alegria maior ainda ver que ela torceu para que eu ficasse com o papel", derrete-se Nany.
ACEITAÇÃO
Para Nany, a chegada da personagem traz avanços na televisão brasileira. "Ter uma atriz trans fazendo um papel no horário nobre na principal emissora aberta do país é uma conquista. Dou graças a Deus por ter sido escolhida para isso. Ser uma transexual nunca foi problema porque aprendi em casa com a minha mãe. Ela certa vez foi chamada pelo diretor do meu colégio, que disse: 'Seu filho tem um problema'. E disse: 'Não é um problema, é a condição dele. Cabe a mim como mãe fazer dele a pessoa mais feliz do mundo'", lembra Nany, com orgulho.
PAR ROMÂNTICO
No folhetim das 21h da Globo, Marcos Paulo vai arrastar a asa para Robério (Heitor Martinez). "Tem uma cena de atraque muito íntima", brinca Nany. "Acho que dali vai sair alguma coisa. Marcos Paulo vai arrastar a saia para todo mundo. Fez a transformação e agora quer se divertir. Ela quer fazer caridade. Quer fazer a roleta girar", provoca, com humor. Mas quem você gostaria que fosse o par romântico dela? "Eurico Junior (José Loreto), mas está 'prometido'. Queria ele porque ele é homofóbico, para cair na contradição. Mas não posso fazer a linha de furar os olhos da minha amiga (Adamastor, vivido por Theodoro Cochrane) do bordel da Ondina (Ana Beatriz Nogueira)", provoca, às gargalhadas.
