A situação das mulheres nas penitenciárias femininas é degradante. Em algumas prisões, os itens de higiene pessoal são de responsabilidade da própria detenta, ou seja, ela depende das doações que seus familiares fornecem durante as visitas, essas que muitas vezes não acontecem. "O sistema carcerário brasileiro viola, de forma sistemática, direitos humanos fundamentais. A situação é particularmente perversa com as mulheres encarceradas. Em virtude da superlotação, a entrega pelo Estado de itens básicos de higiene feminina, como os absorventes, pode ser insuficiente, o que faz com que as mulheres presas dependam em maior medida de doações, que podem, por exemplo, ser feitas por familiares. Só que pesquisas recentes mostram que apenas 20% das mulheres encarceradas recebem visitas. Sem opção, enfrentam a menstruação como dá: jornal, pedaço de tecido, miolo de pão e o mesmo absorvente por vários dias", completa a Mestre em Direito Penal.
As calcinhas absorventes foram escolhidas pelo conforto e sustentabilidade que trazem durante o período menstrual. Além disso, com a Pantys é possível lavar e reutilizar a mesma calcinha por dois anos, trazendo uma opção duradoura para as detentas. "Com toda certeza a durabilidade das calcinhas absorventes irá representar uma longevidade de dignidade e feminilidade para as mulheres presas. Poder lavar as próprias calcinhas e não mais depender unicamente de um produto não reutilizável será fantástico", afirma Juliana Garcia, uma das oito mulheres fundadoras do projeto Nós Mulheres.
A Pantys chama atenção para a conscientização do impacto ambiental que uma mulher, durante a vida fértil, pode produzir. São aproximadamente 450 ciclos menstruais, em média, 180 quilos de absorventes, que são descartados como lixo orgânico no meio ambiente. Com a calcinha absorvente, os montantes de lixo gerados com o descarte podem ser reduzidos significativamente. E, claro, uma economia financeira em relação ao gasto com absorventes descartáveis.
O principal objetivo da ação é levar dignidade e feminilidade para as mulheres encarceradas, através das calcinhas absorventes. "A Organizações das Nações Unidas (ONU) reconheceu, em 2014, que a pobreza menstrual para mulheres em situação de cárcere é uma questão de saúde pública e de direitos humanos. Acreditamos muito na união das mulheres, e sem dúvidas, com parceria entre a Pantys, Projeto Nós Mulheres e Gabriela Prioli, daremos voz a um assunto que é cercado de tabus. O sistema carcerário brasileiro trata as mulheres exatamente como trata os homens. A luta diária dessas mulheres é por higiene e dignidade", afirma Emily Ewell, também sócia fundadora da Pantys.
Segundo Prioli, projetos pontuais certamente não resolverão completa e definitivamente a violação de direitos das mulheres no sistema carcerário. "Depende também de empenho e atuação coordenada entre as nossas lideranças políticas e instituições, mas a ação devolverá a parcela de dignidade retirada ilegalmente de parte dessas mulheres", finaliza a mestre em direito penal.
A marca de calcinhas absorventes criou, em 2019, um programa de doações, onde no mesmo ano impactou milhares de mulheres. O programa cresceu 234% desde seu início, oferecendo mais uma opção para os ciclos menstruais de mulheres refugiadas, meninas que faltavam na escola por não ter acesso ao produto, mulheres em aldeias indígenas, mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade social e profissionais de saúde que estão na linha de frente do COVID-19.