Rennan da Penha defende a educação e os bailes funks ao incentivar aspirantes à carreira de DJDivulgação/Felipe Braga

Rio - Conhecido como um dos produtores de maior destaque na música brasileira atualmente, Rennan da Penha se consolidou entre os artistas que representam bem o Dia Internacional do DJ, comemorado hoje (9). Em entrevista ao DIA, o carioca de 27 anos demonstra o olhar atento que tem aos novos artistas que surgem na cena do funk carioca e explica de que forma incentiva jovens a perseguirem o sonho de ter uma carreira de sucesso como a sua.
"A oportunidade é através dos bailes funks. Não tem como ser outra, entendeu? Não tem oportunidade melhor do que o baile, os DJs e MCs sabem disso. O sonho deles é que a música toque ali no baile, no horário bom, no horário de 'fervo'... Então, a melhor oportunidade que eu dou para esses DJs e MCs é deixar eles mostrarem o trabalho deles lá no baile", afirma Rennan, que ficou famoso como o idealizador do "Baile da Gaiola", no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio.
Por outro lado, o produtor também deixa um conselho sincero para os aspirantes à profissão de DJ: "Primeiro, estude bastante, foque nos estudos. Tente buscar conhecimento de tudo para, depois, você tentar essa profissão, porque é um pouco injusta, ainda mais para DJ de funk. Eu estou falando estudar de verdade. É muito difícil você conseguir se manter como DJ", confessa.
Com 14 anos de carreira, Rennan da Penha alcançou o estrelato em 2018, ao se juntar com MC Livinho no hit "Hoje Eu Vou Parar na Gaiola". Suas habilidades como produtor ganharam ainda mais reconhecimento após o DJ assinar a faixa "Modo Turbo", funk que reuniu as vozes de Anitta, Luísa Sonza e Pabllo Vittar em dezembro de 2020. Para se destacar no mercado, o artista conta que procura ir na contramão do que é visto pela indústria como o padrão.
"Se está todo mundo indo para um lado, eu prefiro ir para o outro. E as minhas músicas não são músicas 'hypadas', que eu lanço hoje e estoura hoje", afirma ele, que ainda faz uma analogia com os discos de vinil. "Nos anos 80, você compraria um um álbum de um artista, colocaria um disco pra tocar e você já saia dançando? Não. Leva um tempo pra pessoa se acostumar com a música, entender a letra, passar aquele sentimento. Então, eu não entro em estúdio pra ficar fazendo música a esmo. Não, eu tenho que ter um arrepio", revela.
E Rennan está pronto para defender o funk e sua valorização como parte da cultura das periferias cariocas. "Eu vejo muita desigualdade no mundo da música e ainda mais no funk, que é um ritmo periférico. Eu luto para que, cada vez mais, o pessoal de favela seja reconhecido, para que a rapaziada que realmente faz o movimento girar seja reconhecida, porque tudo começa na favela", desabafa o DJ, que evidencia a discriminação que ainda existe dentro do próprio ritmo.
"Eu não toco funk 'proibidão', eu toco música pra mulher dançar. Eu já fui em uma boate, na Barra da Tijuca, que o DJ da casa tocou um proibidão. Se eu toco aquilo ali, eu seria repudiado, iriam falar que eu era bandido. Então, nós da comunidade que produzimos, nós que criamos esses funks, [mas] a gente não pode tocar, e o DJ que é de fora da comunidade pode e ninguém faz nada", critica.
Enquanto participa da luta em defesa do funk carioca, Rennan também se dedica a estudar a música de maneira mais profunda, como contou em conversa com o DIA, em julho do ano passado. O produtor relembra uma situação desconfortável que viveu durante uma sessão de estúdio, na casa da cantora Ludmilla, e que se sentiu constrangido por não conhecer teoria musical. Foi quando o DJ decidiu que era a hora de estudar.
"Não ter conhecimento sobre algo não te faz burro. Eu acho que o que te faz burro é não ter conhecimento e não querer buscar o conhecimento pra evoluir", reflete. O artista revela que, atualmente, tem focado em uma proposta de introduzir o ritmo conhecido como "afrohouse" em suas produções, como fez em "Modo Turbo", e defende: "[Estou] tentando trazer algo novo para 'dar uma mudada' no cenário musical, que está precisando bastante", completa.