Antonio Fagundes e Bruno FagundesReprodução/TV Globo

Rio - Bruno Fagundes, de 33 anos, abriu o jogo sobre sua relação com o pai, Antonio Fagundes, após se assumir gay. Filho do veterano e da atriz Mara Carvalho, o ator revelou ter sido acolhido pelos pais depois de ser agredido na rua em um ataque homofóbico, anos antes de expor seu namoro atual com Igor Fernandez, que conheceu durante as gravações da novela "Cara e Coragem", da TV Globo.
"Eu tinha mais ou menos 20 anos e estava andando com dois amigos, perto da Avenida Paulista. E passaram uns 20 caras que, não sei se faz muito sentido chamar assim, mas seriam 'skinheads'. Eu me lembro de pensar enquanto apanhava: 'Eu tenho sorte de nenhum deles estar com uma faca na mão ou um canivete'", relembrou o artista, em entrevista à coluna de Mônica Bergamo, da 'Folha de S. Paulo'. "Essa violência, quando não mata literalmente, te mata internamente. Ela gerou uma falha no meu sistema que até hoje eu estou tentando consertar", desabafou.
Após o episódio, Bruno contou que seus pais "não sabiam o que fazer": "Fácil nunca é. O começo é difícil, porque tem projeção, tem proteção. (...) O que você faz? Eu tive a sorte de não morrer. De verdade. Não tem o que um pai ou uma mãe possa fazer a não ser dar amor. E isso eu tenho deles de sobra", afirmou ele, que ainda elogiou a postura de Antonio.
"Também sei que é uma condição privilegiada. Tem gente que é expulsa de casa, tem gente que é afastada dos seus. E isso é mérito dele (do pai). Isso é a caminhada dele. Tenho muito orgulho de chamá-lo de aliado. Se ele foi capaz de ser um aliado, qualquer pai pode ser. Todo o mundo tem um caminho interno para fazer, cada um tem a sua questão, tem a sua época, tem a sua geração para lidar, as suas relações estruturantes para redefinir. Se ele fez isso, todos os pais podem fazer", declarou.
O ator, que interpretou o Renan da recém finalizada novela das seis, ainda falou sobre outras duas situações em que precisou enfrentar a homofobia antes de assumir sua sexualidade publicamente. "Eu fui entrevistado ao vivo por um repórter e ele perguntou na minha cara se eu era gay. E era num contexto que não tinha absolutamente nada a ver. Respondi que não. Voltei para casa e me lembro de vomitar. Foi muito traumático, porque eu não tinha a maturidade que tenho hoje, e aí alguém te expõe dessa forma. É uma violência gratuita", criticou.
Bruno também chegou a escutar de uma empresária que "dava 'pinta' no Instagram" e, por este motivo, estaria tendo problemas para conseguir novos trabalhos, apesar do artista estar envolvido em um musical no teatro e na série "3%", da Netflix. "Eu perguntei se algum produtor de elenco tinha dito isso para ela, e ela falou que não. Essa mulher fez um homem de 30 anos ficar arrasado. Ela me engatilhou em lugares que eu passei uma vida inteira dizendo para mim mesmo que tinha superado", confessou.
"Eu ouvi a minha vida inteira que eu ia fracassar se eu fosse gay nessa profissão. Ouvi isso de empresários, agentes. Ninguém está livre da opressão estruturante. A minha sexualidade é a minha sexualidade. O meu trabalho é o meu trabalho. Nunca parei de trabalhar, nunca usei nenhuma carta de celebridade, de filho de famoso. Eu sou da labuta. Não sou da polêmica", completou Fagundes.