Rita Lee, no lançamento de 'Uma Autobiografia', em 2016GABRIELA BILO

Rio - Rita Lee foi porta-voz de inúmeras causas progressistas a partir das próprias experiências que teve em seus 75 anos de vida. A cantora, que morreu nesta segunda-feira, vítima de câncer, revelou ter feito um aborto na autobiografia que lançou em 2016. Na obra, a rainha do rock brasileiro falou sobre a gravidez que teve, logo após o nascimento de seu primogênito, Beto Lee, fruto do casamento com Roberto de Carvalho.
"Já em casa, continuamos 'fazendo amor no-chão-no-mar-na-lua-na-melodia-por-telepatia' várias vezes ao dia e, claro, em pouquíssimo tempo embarriguei novamente. Gravidez extrauterina, disse o médico, a se pensar numa curetagem levando em conta a recente cesariana complicada ainda em fase de cicatrização", escreveu a artista em "Rita Lee: Uma Autobiografia".
Na sequência, a cantora foi sincera ao expor que decidiu interromper a gestação por medo depois de sofrer uma hemorragia, o que a levou a sofrer pela culpa "catolicista", mesmo depois de ter abandonado a religião. "Até hoje me chicoteio pensando que talvez aquele baby poderia ter vingado, que foi um ato precipitado, que daquele momento em diante eu estaria condenada a lamentar a decisão para o resto da vida", confessou. Depois do caso, Rita e Roberto tiveram mais dois filhos, João e Antônio.
Ainda assim, Rita acrescentou um "adendo" em que defende a legalização do aborto e o direito das mulheres sobre seus próprios corpos. "Nenhuma mulher faz aborto sorrindo. Cabe a elas, e somente a elas, a decisão de interromper uma gravidez, assim como de segurar sozinhas as consequências moral, espiritual e oskimbau. Me refiro ao 'sagrado feminino', de nós meninas que temos um buraco a mais no corpo para administrar, do nosso universo complexo demais para machos, religiosos e políticos meterem o bico, esses para os quais prevalecem mais o direito do feto que ainda nem nasceu ao da mãe que não deseja pari-lo por motivos que não nos cabe julgar, psicológicos, econômicos, neurológicos, até mesmo espirituais."
"Aborto não é uma mutilação no corpo da mulher. Há em suas entranhas um ser indesejado advindo de estupro, acefalia e de tantas deformações irreversíveis já detectadas nas primeiras semanas de gestação. Parir e abandonar o bebezinho numa lata de lixo é criminoso. Parir e pôr para adoção é irresponsavelmente confortável. Parir e criar em condições sub-humanas é indigno. Parir para ganhar bolsa família é humilhante", completou ela.
Eterna Rainha do Rock
A morte de Rita Lee foi anunciada na manhã desta terça-feira, em postagem feita pelos familiares da cantora nas redes sociais. A cantora enfrentava um câncer no pulmão diagnosticado em 2021. O velório da artista será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, nesta quarta-feira (10), das 10h às 17h. Em seguida, corpo será cremado em uma cerimônia restrita.
Após ser diagnosticada com câncer de pulmão, Rita chegou a fazer tratamentos contra a doença, como imuno e radioterapia, e, no ano passado, Beto Lee, filho da artista, havia celebrado sua recuperação. Ela deixa o marido, o compositor e músico Roberto de Carvalho, e três filhos: Roberto, João e Antônio.