Rio - Filho de Rita Lee, João Lee retornou à casa onde os pais moravam antes da morte da cantora, aos 75 anos, no dia 8 de maio, vítima de câncer. O produtor musical publicou um relato emocionante no Instagram, nesta sexta-feira, e deu detalhes de como se sentiu.
fotogaleria
"Anteontem foi o dia em que meu pai (Roberto de Carvalho) e eu resolvemos voltar para a casa onde eles moram. Foi a primeira vez desde que minha mãe partiu e depois de três meses morando juntos no meu apartamento. Meu pai foi mais cedo e eu fui um pouco mais tarde. No caminho, fiquei pensando como seria essa primeira vez. Não sabia o que esperar ou o que iria sentir. Para ser sincero, nunca imaginei que um dia viveria isso. É tudo tão estranho. De alguma maneira, sempre enxerguei minha mãe e meu pai meio que como seres eternos e imortais", começou.
"Ao entrar no condomínio, senti um frio enorme na barriga. Fui me aproximando da casa bem devagarzinho, abri o portão, entrei com o carro e…. travei. Fiquei parado dentro do carro por cerca de 10 minutos, sem conseguir sair do lugar. Do nada, fui atropelado por um turbilhão de memórias e sentimentos, tudo meio que em fast forward, bagunçado e ao mesmo tempo. Foi muito maluco. Quando finalmente achei que tinha voltado ao normal, percebi que meus sentidos estavam meio desequilibrados", continuou.
"Minha fala estava meio amarrada e travada e meus ouvidos ficaram mais sensíveis do que o normal. Um micro barulhinho do carro parecia um barulhão. Saí do carro e fiquei em pé olhando para a casa. A casa que passei os últimos dois anos. A casa onde vivi momentos difíceis e momentos tão especiais. Não conseguia dizer nada. Foquei nos meus ouvidos extra sensíveis. Quem sabe ouviria o som da natureza, dos bichos, sei lá, algo que me trouxesse calma. No entanto, só consegui ouvir um silêncio absoluto. Viver esse momento é viver um vazio diferente e impossível de explicar em palavras. Só quem passa por isso sabe como é. Não existe um outro vazio que seja tão forte ou que chegue perto", explicou.
"Comecei a andar em direção a casa, entrei com calma, e, de cara, visitei todos os ambientes e cantinhos onde ela costumava ficar. Jantei sentado no lugar onde ela jantava na mesa, assisti TV sentado no seu lugar no sofá, fui ao seu quarto, abracei e cheirei suas roupas, deitei na cama e olhei para as estrelinhas do teto... Enfim, fiz um tour completo por todos os seus cantinhos prediletos. Mas, acabei indo dormir sem ter conseguido o que mais queria: sentir a presença dela aqui comigo. A sensação de vazio ainda é muito persistente e forte", lamentou.
"Ontem de manhã acordei um pouco melhor. Foi difícil pegar no sono, mas até que dormi bem. Peguei o novo livro, 'Outra Autobiografia', da cabeceira e desci para tomar café da manhã. Demorei bastante para ler a primeira autobiografia. Comecei e parei várias vezes. Foi difícil. Agora, acho que já li umas 10 vezes. Irei ler outras milhares. É um livro absolutamente mágico e maravilhoso. Cada vez que leio percebo mais e mais coisas. Quem não leu ainda, não imagina o que está perdendo. Esse último eu queria ler o quanto antes. Meu pai o leu na semana passada, e, quando terminou, me entregou e disse: 'Você tem que ler esse livro já. Você vai adorar e entender muitas coisas, principalmente a perspectiva e a forma como ela enxerga tudo o que vivemos nos últimos dois anos'", afirmou.
"Fiquei, ontem, o dia todo sentado e lendo o livro na mesma cadeira e posição em que ela escreveu suas duas autobiografias. Lendo o livro, além de me trazer conforto e paz, trouxe também aquilo que eu mais queria: a sensação de que ela está aqui comigo. Passei o dia todo arrepiado, como se ela estivesse sentada ao meu lado e contando tudo do livro para mim. Eu consegui ouvir a sua voz lendo o texto. Agora, sinto a sua presença em toda a casa. Está dando um quentinho no coração e na alma que estava precisando. Parabéns pelo livro novo, mãe. Escrever um livro assim, passando pelo que estava passando, me faz ter ainda mais orgulho e admiração por você. Love you forever", concluiu.