Rio - O corpo de Cyva Ribeiro de Sá Leite, uma das integrantes do Quarteto em Cy, foi doado para estudos e pesquisas de uma universidade, cujo nome foi preservado a pedido da família. A informação foi divulgada em uma publicação feita no Instagram do grupo, nesta terça-feira. Em entrevista ao DIA, Chico Faria, sobrinho da artista, explica a motivação desta decisão da cantora, que morreu aos 85 anos devido a complicações de uma pneumonia, e exalta a bondade e generosidade que ela tinha.
fotogaleria
"Ela escreveu uma carta, registrada em cartório, há alguns anos, e entregou a sobrinha mais velha, Andrea Chakur (filha de Cilene), para guardar esse desejo para quando precisasse divulgar. A motivação foi porque tia Cyva era espiritista (kardecista), e, portanto, acreditava, como todo espiritista, que o corpo é somente uma “matéria”, física mesmo, e nessa condição, ao invés de enterrar, era preferível doá-lo para estudos e pesquisas. Ela era a personificação da bondade e generosidade. Tanto é que, num último ato, se formos pensar, ainda pensou no próximo", afirma o músico.
O comunicado, assinado por Chico, publicado no Instagram do Quarteto em Cy também fala sobre o desejo de Cyva, sua crença e revela como foi a reunião em homenagem à veterana. "Ontem (segunda-feira) foi feita a vontade e desejo da Cyva em doar seu corpo físico para estudos e pesquisas numa Universidade. Graças a Deus conseguimos resolver essa parte burocrática", começou.
"Após, mais tarde, teve uma reunião íntima, entre alguns familiares e amigos/irmãos do centro espírita que ela frequentou por anos, sendo estudante da doutrina e, ao mesmo tempo, professora de português. Cyva dava aulas de alfabetização para adultos, uma coisa linda! Inclusive, ofereceu o seu talento para vários seguirem suas vidas com a liberdade de poderem ler e escrever", contou Chico.
"Durante a justa homenagem, muitos amigos falaram na tribuna, histórias bonitas que tiveram a participação da Cyva, curiosidades que a família não sabia, leram textos, enfim, um ato de despedida e reverência pela sua nobre passagem na Terra. Cylene (na foto), irmã mais nova das quatro, também falou muitas palavras acolhedoras e resignadas, falou da 'mãe' que Cyva era, quando saíram do interior da Bahia pra alcançar o mundo artístico. Foi uma noite especial, discreta como Cyva sempre foi. Sem alardes, sem mídia, fazendo o que era pra ser feito, e a palavra que foi unânime no encontro: generosidade", frisou.
Por fim, ele agradeceu o carinho que a família tem recebido no momento de luto. "A família agradece a todos os amigos e fãs que, de alguma maneira, transmitiram o seu carinho para nós, através das redes sociais, vocês são importantes demais nesse trajeto e caminhada"
Em sua rede social, nesta segunda, Chico já havia comunicado que os familiares respeitariam os pedidos feitos por Cyva. "Comunicamos aos amigos e fãs que era um desejo de Cyva que quando se desse seu retorno à pátria espiritual não houvesse velório e seu corpo fosse doado a uma universidade para fins de estudo e pesquisa. A família está respeitando este desejo e agradece a compreensão. Que cada um, dentro de sua fé, possa envolvê-la em suas preces".
Quarteto em Cy
O grupo Quarteto em Cy era formado por Cyva, Cynara, Cybele e Cylene. Cynara morreu em maio deste ano, aos 78 anos. Ela estava internada no Prontocor, na Tijuca, com um quadro de pneumonia após passar por complicações na recuperação de uma cirurgia, depois de ter quebrado o fêmur. A veterana morreu de insuficiência respiratória. Em 2014, Cybele já havia morrido de isquemia pulmonar.
As irmãs eram naturais da Bahia e formaram o grupo em 1964. Posteriormente, ela se mudaram para o Rio e contaram com o apoio de Vinicius de Moraes, que as chamava de "baianinhas". A estreia do quarteto aconteceu em 30 de junho de 1964, no Bottles Bar, no Beco das Garrafas. Elas gravaram o primeiro LP no mesmo ano. Em 1965, participaram do aclamado "Afro-sambas com Vinicius de Moraes e Baden Powell". Em 1966, Regina Werneck substituiu Cybele e elas viajaram para os Estados Unidos, onde foram chamadas de Girls From Bahia. Por lá, elas participaram de programas de televisão e fizeram shows.
Após alguns anos de interrupção, Cyva retomou as atividades do grupo com Cynara, Sônia e Dorinha Tapajós, em 1972. Nesta formação, elas gravaram álbuns como "Antologia do samba-canção” (1975), “Resistindo” (1977), “Querelas do Brasil” (1978), “Cobra de vidro” (com o MPB-4, em 1979), “Em 1000 kilohertz” (1980).
Cybele voltou ao grupo em 1980, substituindo Dorinha. Em 2013, ela voltou a deixar o quarteto e Keyla Fogaça entrou em seu lugar. A última formação do grupo contava com Cyva, Cynara e Corina.