Francisca Queiroz faz sua estreia como autora na peça "Ela, e Algumas Histórias"Divulgação / Nana Moraes

Rio - Protagonizada e escrita por Francisca Queiroz, com Claudio Gabriel no elenco e direção de Ernesto Piccolo, o espetáculo "Ela, e Algumas Histórias" retorna aos palcos para nova temporada no Teatro das Artes, na Gávea, até o dia 26 de outubro.
Com mais de 20 anos de carreira na atuação, Francisca, que também é formada em Letras, faz sua estreia como autora e assina o texto da comédia. Ela traz ao palco um olhar sensível e bem-humorado sobre os desafios de uma mulher que, após o fim de um casamento de 20 anos e a criação de três filhos, precisa se reinventar em meio às transformações do mundo moderno.
"Interpreto a personagem 'Ela', que eu escrevi, e estou muito feliz. Ter o ator Claudio Gabriel dando vida aos tantos personagens que criei dentro da peça é algo que valida todos os anos dedicados à faculdade de Letras, aos meus cursos de aprimoramento e aos próprios anos como atriz", comemora
Após o sucesso da primeira temporada, "Ela, e Algumas Histórias" retorna aos palcos abordando questões que atravessam a experiência feminina no mundo contemporâneo. A comédia aborda temas como os desafios da maternidade, a busca pela realização profissional, a maturidade, a separação e o recomeço em uma sociedade marcada por relações líquidas e pela presença cada vez mais intensa dos aplicativos de relacionamento.
Apesar de abordar temas delicados, a atriz conduz o diálogo com leveza e destaca que o humor — marca registrada da personalidade dela — é um recurso fundamental para tratar de questões complexas de forma mais fácil. "O humor também é uma boa ferramenta para desarmar. Na peça, tem um marido machista, mas ele tem um humor, e os homens se identificam bastante com ele", explica. Para ela, a comédia não apenas aproxima o público, como também abre espaço para a reflexão. A atriz ainda cita Freud para reforçar sua visão: "Com humor, pode-se dizer tudo, até a verdade".
Para Francisca Queiroz, muitos desses assuntos já deixaram de ser tabu, mas ainda são tratados de forma delicada. "O sexo é um deles, assim como a escolha de não ter filhos e a saúde mental. Mas continuamos escondendo nossos fracassos e nossas dores. Hoje, temos que reagir muito prontamente. Uma pessoa que expõe sua vida na internet pode terminar um casamento e, amanhã, já estar com outra pessoa. Para onde vai essa dor? Para onde vai o que calamos?", questiona a atriz.
A artista destaca ainda a forte identificação do público com o espetáculo. "Tenho ouvido muito "essa história me representa". Acredito que a dor nos aproxima do que é universal ao ser humano. Mas seria muito difícil abordar esses temas se a peça não fosse costurada com humor", completa.
Dirigida por Ernesto Piccolo — nome consagrado no teatro brasileiro, responsável por montagens de grande sucesso como "O Divã", com Lilia Cabral, e "Alice", com Luana Piovani —, a obra ganha ainda mais força pelo olhar experiente do diretor. Para Francisca, trabalhar sob a condução de Piccolo representa um marco em sua trajetória artística. Ela ressalta a importância desse encontro profissional e a expectativa de que o espetáculo também seja significativo para a carreira do diretor.
"Se vai ser mais um trabalho marcante na trajetória de sucessos do Ernesto Piccolo, é esperar para ver; quem decide isso é o público", afirma a atriz, que acredita no potencial da montagem e confia na resposta calorosa da plateia já na temporada de estreia. Francisca aposta no futuro promissor da peça: "Pelo meu palpite e pelo que já escutamos nesta primeira temporada, acredito que a história dessa peça vai ser muito feliz".
A vida de Jó: um novo desafio
Além dos palcos, Francisca também marca presença na televisão, integrando o elenco da série bíblica "A Vida de Jó", exibida pela TV Record. Na trama, ela interpreta Azenate, mãe de Raquel, que se casa com Jó. Embora já tenha dado vida a outras personagens bíblicas, a atriz ressalta que cada papel traz seus próprios desafios.
Segundo ela, o maior obstáculo está em aproximar o público de uma figura feminina tão distante no tempo, sem perder a essência da narrativa. "O desafio é aproximar do público uma mulher, uma personagem bíblica com tamanho descolamento de tempo, sem tirar a verdade do contexto. Ou seja, tornar crível não só a personagem, mas todo o seu universo", explica.
Apesar de, à primeira vista, o drama bíblico parecer distante da comédia contemporânea, Francisca consegue estabelecer conexões entre as duas personagens que interpreta atualmente. "Azenate é a mulher responsável pela família, cuidando da administração do lar e dos filhos. Já 'Ela', da peça, também foi essa figura por 20 anos, até que, após uma crise matrimonial, começa a rever sua posição dentro da própria vida", compara a atriz, revelando que, em essência, as histórias dialogam entre si mesmo tendo sido escritas em contextos e épocas completamente distintos.
Para a atriz, essas semelhanças expõem a permanência de certas estruturas sociais: "As coisas se parecem bem mais do que a gente pensa, e as estruturas têm raízes muito profundas, por isso é tão difícil mudar no nosso sistema. Mas estamos fazendo um belo caminho".