Mauricio MeirellesDivulgação

Por Juliana Pimenta
Rio - Na era do streaming e das redes sociais, não há nada menos óbvio do que fazer um programa de TV. E uma vez na TV, não há nada menos inusitado do que apostar em um formato que não apele para a audiência. E é com essa mistura de coragem, irreverência e até um pouquinho de loucura que Maurício Meirelles comemora dois meses do seu novo programa no ar, na RedeTV!. Mas apesar de nadar contra a corrente, a proposta arriscada do 'Foi Mau' acaba sendo até simples no final das contas.


"Às vezes, você só precisa ligar a TV e dar risada. A gente pensou em um programa que seja um alívio nesse momento de pandemia, de polarização política e crise econômica. É uma comédia banal, besta e idiota que todo mundo dá risada. Tanto que a ideia do programa é trazer os fracassos de famosos, é mostrar que o famoso é muito parecido com quem está assistindo. O objetivo é humanizar e a gente pega aquilo que todo mundo tem, que é o fracasso. Não tem nicho que não tenha problema. Então, já que todo mundo tem os mesmos problemas, vamos falar de problemas. Essa é a noção função", explica Maurício, que relativiza o mito criado em torno da audiência.

Audiência x Fidelidade

Para o apresentador, o mais importante, neste caso, não é apenas atrair um alto número de espectadores, mas envolver e cativar o público que se identifica com o formato. "A missão que me foi dada era exatamente transformar o público, trazer um público mais conectado, mais jovem, que gerasse assunto. Eles não estão muito preocupados com audiência, mas sim com relevância. Não adianta você ter quantidade se você não tem um conceito, se você não tem algo que seja minimamente viralizável, que as pessoas comentem. É um trabalho de médio a longo prazo. E por isso, eu estou muito feliz na RedeTV!, porque não existe aquela pressão e desespero de outrora", revela o humorista que expõe o outro lado da moeda.

"Existe um jeito fácil de se ganhar audiência, mas isso não significa que vai ser uma audiência qualitativa. Se eu quiser ganhar audiência, a TV tem já os gatilhos e ferramentas necessárias: é bunda e briga. Isso gera audiência, mas esse é o caminho que já é feito. Se eu quero promover alguma coisa diferente, eu tenho que sair um pouco disso. Eu acho que a gente consegue mensurar melhor um produto pelo que ele gera. Então, prefiro focar no que eu acredito, no que a minha equipe gosta e fazer um programa com aquilo que a gente fica feliz. Se a gente está feliz, talvez outras pessoas vão estar. É só encontrar elas no meio do caminho. E essas pessoas estão aparecendo", comemora.

Polarização online

A simplicidade e leveza que se mostra como fio condutor do 'Foi Mau' acaba se contrastando, em primeira instância, com as turbulentas discussões presentes nas redes sociais. Nesse sentido, Maurício destaca o perigo de se alienar nas bolhas. "Está todo mundo muito conectado com a sua única verdade. Se você anda de moto e consome só moto, você vai acreditar que o Brasil inteiro só anda de moto e vai criticar aquele que anda de carro. A gente está acabando nessa burrice e acho que nunca fomos tão burro. Isso porque a gente só consome aquilo que já está dentro da nossa cabeça e não atrai coisas novas. Na internet, as pessoas estão alienadas do mundo real", defende o humorista, que faz questão de mostrar esse paralelo entre a TV e o ambiente online.
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"A TV ainda é a maior potência de comunicação do Brasil. Massificada, é uma porrada. Só que as pessoas deixaram de fazer TV por ser mais fácil falar para o seu próprio nicho. Dá muito menos trabalho falar o que se quer ouvir. A TV só 'acabou' para quem quer se manter com a cabeça fechada em sua bolha. E a internet, na verdade, são várias bolhas que, quando você sai um pouquinho dela, você fica muito bravo", argumenta Mauricio.

Há esperança?

Mas se, segundo o próprio apresentador, nunca estivemos tão burros e acomodados, será que ele vislumbra um futuro melhor para a humanidade? "A gente pegou o pior momento da comunicação, que é o momento de um início. E o início é desregrado, é caótico. A gente está disruptivo demais. Abriu a internet e todo mundo xinga, humilha… Não tem lei e tá uma coisa meio maluca. Mas meu gatilho de esperança é que eu sei que a geração que está vindo vai dar um pau na nossa. Eu só quero estar melhor para o meu filho me ensinar as coisas. Essa chave tem que virar e vai virar", prevê Maurício.