Odete Roitman Reprodução

Rio - A personagem Odete Roitman, interpretada por Débora Bloch no remake de "Vale Tudo", tem movimentado debates desde os primeiros capítulos. Figura conhecida por falas duras e atitudes elitistas, Odete dividia o público entre aqueles que a viam como "realista" e os que a colocavam como vilã tradicional da teledramaturgia.

Entretanto, uma cena que foi ar na noite da segunda-feira (19), provocou uma reviravolta na percepção da audiência. Em conversa com a irmã Celina (Malu Galli), Odete comenta sobre a possível nora Maria de Fátima (Bella Campos), afirmando: "Todo mundo pode ter a sua função, Celina. O que importa é que as pessoas façam o que eu quero. E ela nem é tão preta assim".
A frase ganhou grande repercussão nas redes sociais e evidenciou o racismo presente não só na personagem, mas também em setores da elite retratada na trama.
Racismo e hierarquia racial na dramaturgia
A declaração de Odete reflete o pensamento racista que condiciona a aceitação de pessoas negras à proximidade com padrões estéticos brancos. A personagem tolera Maria de Fátima não por respeito, mas porque sua aparência não compromete a imagem social que deseja manter.

Essa dinâmica escancara o racismo: a presença de pessoas negras em espaços de poder só é aceita quando associada à subserviência ou utilidade estratégica. Odete aceita a jovem negra apenas enquanto ela for "útil" e "visualmente aceitável".

A cena também trouxe à tona discussões sobre o colorismo – discriminação baseada na tonalidade da pele dentro do próprio grupo racial – e sobre o racismo estrutural brasileiro. Um internauta comentou: "É racismo estrutural, é o racismo individual da Odete, como a própria irmã apontou. E é o retrato do colorismo brasileiro também. A Celina seria mais caso de racismo estrutural com a fala só que a irmã, famosa 'eu não sou racista, mas…'"

A reação do público foi intensa. Alguns passaram a rejeitar a personagem, antes admirada por sua franqueza. Outros criticaram a forma como o público respondeu à cena: "Não sei quem é pior na atividade cognitiva: os que estão comemorando a fala racista ou os que estão militando em cima de uma fala problemática da Odete Roitman".