Theo ( Emilio Dantas ) e Clara ( Regiane Alves ) Reprodução / TV Globo

Rio - As relações abusivas estão sendo abordadas na novela "Vai na Fé", da TV Globo. No folhetim de Rosane Svartman, Regiane Alves dá vida à Clara, que sofre com humilhações e agressões por parte de seu companheiro Theo (Emilio Dantas). Mas nem sempre os relacionamentos tóxicos são marcados por agressões e ameaças. Em alguns casos, as atitudes podem ser sutis. 
"O agressor tem muito claro quem é detentor do poder sobre a outra pessoa. Se é a dependência econômica, as suas ameaças estarão focadas nesse ponto. Se for o medo, as agressões físicas serão o foco, e assim por diante. O poder pode humilhar, envergonhar frente às demais pessoas de forma regular", explica a psicóloga Luanna Debs, que alerta para outras formas de identificar uma relação abusiva. 
"Quando há mudança de comportamento na vítima, ameaças, controle excessivo do agressor sobre tudo o que a vítima faz, obrigando-a a dar satisfações constantes, a indiferença, o medo e a culpa", enumera a profissional. 
Mesmo identificando alguns sinais, nem sempre é fácil colocar um ponto final na relação. "É difícil se separar de um relacionamento de uma forma geral. De um relacionamento abusivo é mais ainda. Isso acontece porque as mulheres fazem um auto-investimento nas relações. Mulheres são educadas para o amor, são educadas para entender que dependem delas para que haja uma relação de sucesso, e isso acaba se tornando uma conquista pessoal. Ou seja, ter uma família, um marido e filhos ainda é visto como algo de importante na sociedade atual, então abrir mão disso não é nada fácil", afirma Luanna.

A professora em psicologia Luísa Araruna ainda comenta que as relações tóxicas, geralmente, são compostas por duas pessoas doentes. "Todo relacionamento tóxico é composto por duas pessoas adoecidas, em busca de repararem seus traumas e construírem novas saídas para os seus medos e raivas, estes dias ouvi um comentário sobre uma moça em relacionamento tóxico que dizia assim: (mas não é possível que ela não reconheça os sinais…) verdade é que na maioria dos casos, não se entra ou permanece em um relacionamento desses por não reconhecer os sinais, mas sim por reconhecê-los inconscientemente". 
Além dos problemas psicológicos, existem doenças que podem ser correlacionadas e ocasionadas pelos abusos. Saiba quais são:
Queda de cabelo: "O estresse, ocasionado por uma relação abusiva, tem relação direta com a saúde capilar. O mal causa um término prematuro do folículo, o que atrapalha no crescimento do cabelo e pode levar à oleosidade e à caspa – e, consequentemente, à queda. Além disso, o estresse pode gerar o aumento da oleosidade e a alteração do sistema imunológico, manifestados através da pele, dos cabelos e das unhas", explica a tricologista Lidi Bastos. 
Baixa imunidade: "O mesmo cortisol que causa aquela bagunça hormonal na mulher é o responsável por enfraquecer as defesas do organismo feminino. Como elas estão passando por um momento de estresse, o corpo acaba reagindo com a baixa imunidade. Muitas mulheres acabam sofrendo com infecções oportunistas, como gripes, resfriados e dores de garganta", explica a infectologista Flávia Cohe. 
Metabolismo: "São comuns os distúrbios alimentares (comer demais ou de menos) por conta da ansiedade que a adrenalina e o cortisol geram no corpo. Embora ainda não seja consenso, alguns estudos também sugerem que o excesso de cortisol no organismo da mulher estressada pode interferir no funcionamento da tireóide, aumentando os riscos para desenvolver hipotireoidismo ou hipertireoidismo. O excesso de cortisol também pode gerar inchaço, retenção de líquido, intestino preso, e dores musculares", afirma Flávia.  

Depressão:  "A depressão é uma doença multifatorial e pode acontecer em decorrência de um evento ou não. Mas no relacionamento abusivo há uma perda significativa do contato com as pessoas e com as atividades que causam prazer e dão sentido à vida da pessoa, por causa do isolamento que o abusador promove para aprisionar a vítima. Com essa perda de fatores que causam prazer, sensação de bem estar e perda do senso de importância e eficácia, a depressão pode vir a acontecer", comenta a psicóloga Luanna. 
Distúrbios sexuais: "Na questão sexual a perda da libido ocorre quase sempre, mas também pode ocorrer dores nas relações sexuais", destaca Luana. 

Candidíase: "As infecções também passam a atacar mais a vagina da mulher. É comum o estresse afetar o PH natural da região, aumentando assim a proliferação de fungos que normalmente são inofensivos. As doenças mais comuns são corrimentos, candidíase e tricomoníase e precisam de tratamento contínuo para não se tornarem crônicas”, conta a infectologista. 
Outras doenças: "Além da saúde do cérebro, outras de características físicas podem estar correlacionadas a vivência de abuso, como por exemplo: hipertensão, diabetes e outras doenças autoimunes, como fibromialgia, vitiligo, psoríase, doenças gastrointestinais também, como síndrome do intestino irritável, gastrite, refluxo, enxaqueca, distúrbio de sono e autoimagem, transtornos alimentares e outros", alerta Luanna Debs.