Alinne Moraes exalta personagem lésbica e feminista em 'Guerreiros do Sol': 'Luta dela é bonita'
Atriz explica que recusou convite para a próxima novela das nove porque quer fazer filme do marido, o cineasta Mauro Lima, e dar mais atenção ao filho Pedro, de 11 anos
Rio - Alinne Moraes, de 42 anos, está no ar em "Guerreiros do Sol", disponível no Globoplay, e comemora por poder viver Jânia, uma mulher à frente do seu tempo, na trama que se passa na época do cangaço, entre os anos 1920 e 1930. A personagem vive um casamento infeliz e abusivo com Idálio (Daniel de Oliveira), se refugia nos livros e acaba se aproximando e se apaixonando por Otília (Alice Carvalho), irmã da protagonista Rosa (Isadora Cruz).
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"É uma personagem que se transforma muito, porque ela foi para o sertão com um casamento arranjado e sendo uma mulher muito calada, com medo do marido e medo de toda a sociedade repressora. E após essa guerra que terá, ela se transforma numa outra mulher, numa leoa, e ela coloca todas essas mulheres no braço, então é muito bonito. É uma transformação enorme", detalha.
No mês da Diversidade LGBTQIA+, a atriz considera que houve um retrocesso na TV, ao comparar seu papel na novela "Mulheres Apaixonadas" (2003), em que também interpretou uma mulher lésbica, com alguns personagens que têm cenas de beijos vetadas em tramas recentes e atuais.
"As coisas mudaram, mas quando damos cinco passos para frente, parece que damos dez para trás. Eu me lembro que quando coloquei no TBT (quinta-feira da lembrança, nas redes sociais) a Clara e a Rafaela (de 'Mulheres Apaixonadas'), uma geração mais nova me perguntou: 'Mas e o selinho?'. E agora, em 2025, selinhos estão sendo censurados", lamenta. "Se você me perguntar se andamos para frente depois de 20 anos, eu não sei te dizer", complementa.
Entretanto, em "Guerreiros do Sol", ela garante que terão muitas cenas românticas e de beijo com Alice Carvalho, sua companheira na trama: "Gravamos muitas cenas, elas são um casal que se ama". George Moura, um dos autores da trama, disse que, por ser uma novela para streaming, é normal ter mais cenas de sexo e violências - o que indica que os beijos não devem ser cortados.
"Acho que todos os personagens têm cenas de sexo, e a nossa, por ser um casal, que se ama, também tem. Estou torcendo para acontecer da forma que tem ser. Tomara que a gente consiga contar essa história direitinho, que é uma história muito linda", torce.
Em tempos em que as mulheres eram desvalorizadas e sofriam preconceito constante, a paixão entre Jânia e Otília promete causar revolta entre os personagens machistas da época. "As mulheres eram tratadas realmente como objetos, como posse masculina. A Jânia é uma mulher que leva uma vida nova, ela leva um entendimento diferente para essas mulheres sertanejas. No início, ela é muito submissa, como todas na época, mas durante essa guerra do cangaço, ela se vê ali necessitando se posicionar. Quando ela encara e abraça a mulher guerreira e revolucionária que ela é, a luta dela é muito bonita", frisa Alinne.
Apesar de ser uma novela de época, a atriz analisa que a personagem pode chamar a atenção de mulheres que vivem casamentos tóxicos, até atualmente. "Acho que a história é muito importante. A gente voltar de 1920, 1930, ou 1800 e pouco, onde tudo começou... É muito importante para gente entender que nós, mulheres, não estaríamos aqui nesse momento. Nós éramos só objetos, propriedades. Nada mais, então, tiveram muitas conquistas, e a gente deve muito ao feminismo", destaca.
"Guerreiros do Sol" foi toda gravada em 2023 e traz uma sensação diferente para o elenco, já que novela, por ser uma obra aberta, costuma ser gravada durante o mesmo período que é exibida. "Esse formato dá um pouco de ansiedade, uma agoniazinha, mas é ótimo. Quando você está numa obra aberta e passando, você consegue fazer alguns ajustes, consegue observar com o público o que está acontecendo com a trama. E quando está uma obra fechada é igual um filme. Então, você fica com uma ansiedade para poder ver o que aconteceu", explica.
Maternidade e escolhas
Mãe de Pedro, de 11 anos, fruto do casamento com o cineasta Mauro Lima, Alinne conta que está numa fase mais focada na família e que quer presenciar essa fase de transição do filho da infância para a adolescência.
"Nesse tempo após gravar a novela, algumas mudaram, não sei dizer bem o quê, mas eu pude estar mais em casa, mais presente em casa. Meu filho está com 11 anos, já tenho 13 anos de casamento e, dos 11 aos 12 é um novo ser que vai nascer. Aos 12, eu não quero perder isso", diz.
Justamente por isso, ela recusou o convite para gravar a próxima novela das nove,"Três Graças", de Aguinaldo Silva. "Eu recebi um convite, mas o meu projeto esse ano é continuar a fazer a série e fazer o filme com o meu marido", diz. "É uma guerrilha fazer uma novela. Você pega as suas coisas, diz adeus para os seus amigos, diz adeus para a família e grava todos os dias até onze da noite, decora texto todos os dias. Então, assim, é puxado, você tem que estar preparada", destaca.
A ideia, segundo ela, é focar em projetos mais curtos. "Acho que nesses próximos anos, pelo menos o próximo ano, faço uma série, no streaming em setembro, e faço um filme em janeiro. É bom porque você não faz uma novela de um ano, mas consegue fazer alguns outros trabalhos, que são menores, séries geralmente são três meses, um filme é 40 dias, então, realmente, é uma outra coisa", conclui.