Segundo pesquisa da E-bit/Nielsien, a data promete movimentar cerca de R﹩110 bilhões de reais este ano no comércio eletrônico no país Reprodução/Internet

Com a chegada do mês de novembro, o comércio se prepara para um dos eventos mais aguardados do ano: a Black Friday. Importada da cultura estadunidense, a data caiu nas graças dos brasileiros que, a cada ano, apresentam mais adesão à prática. Neste ano, por exemplo, segundo pesquisa da BARE International, 84% dos brasileiros pretendem ir às compras no período. As promoções oferecidas ao consumidor, no entanto, nem sempre são vantajosas e, em um cenário de alta de juros, desemprego e escalada inflacionária, extrapolar o limite de gastos é o primeiro passo para entrar no vermelho. Para fazer a escolha certa, especialistas ouvidos pelo O DIA afirmam que ficar de olho nos preços com antecedência é fundamental para não levar prejuízo.

Segundo pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor, divulgada em agosto pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 72,9% dos brasileiros ficaram endividados neste ano. Com a proximidade da Black Friday, é possível que este índice fique ainda pior se não houver planejamento.

Para evitar dores de cabeça, uma das principais estratégias é definir quais serão as compras feitas na data e já começar as pesquisas. A prática de aumento de preços anterior à Black Friday, apesar de ser mal vista por órgãos como o Procon, é muito usada por lojistas para aumentar as vendas sem diminuir o lucro. “É importante acompanhar para saber se o desconto realmente vale a pena”, orienta Aline Soaper, fundadora do Instituto Soaper e educadora financeira.

Outra questão importante em relação à definição prévia dos objetos de compra é evitar as famosas “compras por impulso”. Com a euforia causada pelas promoções, os consumidores acabam, muitas vezes, abusando no uso do cartão de crédito e se endividando para aproveitar os descontos.

“Uma das maiores armadilhas da Black Friday é justamente ir às compras sem saber o que precisa. Você vai ver várias coisas em promoção, mas na maioria das vezes você não precisa daquilo. Para que comprar uma coisa em promoção se você não vai usar depois? Para evitar isso, fazer uma lista é fundamental”, afirma ela.

E para aqueles que pretendem adiantar as compras de fim de ano e os presentes de Natal, Aline explica que pode ser uma boa ideia, com tanto que haja disciplina na hora de guardar os presentes. “Muita gente compra o presente dos filhos e não aguenta esperar, aí dá antes da hora. E quando chega o Natal, acaba comprando de novo”.
Mapa de preços

Como o consumidor nem sempre tem tempo para uma pesquisa mais detalhada, o professor de economia Lauro Barillari, em colaboração com alunos de graduação, pós-graduação e recém formados, desenvolveu um mapa de preços online de pesquisa. O dispositivo engloba uma amostra de 2,4 mil coletas para 60 produtos, divididos nas categorias eletrodomésticos, informática, móveis, vestuário, brinquedos e celulares/acessórios. A ideia é oferecer ao consumidor uma ferramenta para avaliar a compra, dando a ele uma referência de preço e permitindo a comparação entre diferentes estabelecimentos. Para conferir, basta acessar o link: encurtador.com.br/xDG02.

“Se você, por exemplo, em três dias, decidir comprar uma geladeira, certamente você não vai fazer um ótimo negócio, porque você não vai ter referências de preço. Até você decidir e comprar, dever ter uma defasagem para acompanhar o comportamento dos preços”, explica Lauro.

Evite dívidas

Com o cenário econômico ainda abalado pela pandemia, evitar as dívidas é fundamental e, apesar de parecer uma boa ideia aproveitar as oportunidades da Black Friday, é preciso saber definir limites. No caso dos consumidores que já estão endividados, pular os descontos da data e evitar assumir um novo débito com certeza é a melhor opção. “A Black Friday é uma péssima oportunidade para quem já está endividado, desorganizado e pode perder ainda mais o controle”, explica Aline.

Outro ponto importante é a atenção com o cartão de crédito. Uma das principais responsáveis pelo endividamento no país, a modalidade deve sempre ser usada com planejamento. Parcelar sem juros para adiar o débito em casos nos quais o consumidor já tem o pagamento da dívida garantido pode ser uma boa ideia. Para isso, Aline indica que deve-se sempre olhar o valor total, e não apenas o parcelamento.

“A questão de usar o cartão de crédito para parcelar é uma boa oportunidade para você não se descapitalizar, mas, na maioria das vezes, as pessoas acumulam parcelas. O consumidor precisa entender que vai passar o resto do ano pagando aquelas parcelas”.

Outra questão é a crise em relação aos preços, principalmente de importados. Além da alta do dólar que encarece a vinda de produtos ao Brasil, a crise de produção global causada pela pandemia tem feito com que esses insumos cheguem ao consumidor com preços ainda mais elevados. A questão, segundo Lauro, é o impacto do desconto em um preço que já está demasiadamente elevado. Nesse caso, vale avaliar se adiar a compra pode ser mais vantajoso do que aproveitar um desconto agora e acabar se endividando.

“O que puder adiar de importado para o próximo ano, após a crise e até o processo produtivo se restabelecer, é melhor para o consumidor”, explica ele.

Além disso, com a chegada do final do ano, é importante que o consumidor planeje o orçamento das festividades, para que as compras da Black Friday não se tornem uma dor de cabeça. Além, claro, de se preparar para o início do ano, com gastos fixos como material escolar e pagamento de impostos, como IPTU e IPVA.

“Consumidor precisa pegar esses três eventos [Black Friday, Natal e Ano Novo] e colocar em um pacote de orçamento. Apesar de as datas serem separadas, elas estão no mesmo período, então se ele não planejar, estoura o orçamento dos meses seguintes”, afirma o professor de economia.
E-commerce

É importante ficar atento às diferenças na hora de comprar na internet e nas lojas físicas. Somente no Brasil, o e-commerce teve alta de 68% em comparação com 2019, elevando a participação do setor no faturamento total do varejo, que passou de 5% no final de 2019 para um patamar acima de 10% em alguns meses do ano passado, segundo levantamento da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).
Com a Black Friday não será diferente: o evento promete movimentar cerca de R$ 110 bilhões de reais este ano no comércio eletrônico no país, segundo uma pesquisa da E-bit/Nielsien.

O crescimento desse setor se deve, principalmente, a praticidade que, na pandemia, tem sido fundamental. E para a Black Friday, além da ausência dos custos das lojas físicas e dos gastos com deslocamento, comprar sem filas e fazer as pesquisas com calma é importante para acertar na escolha e economizar.

“O mundo físico está cada dia mais caro. É caro correr atrás de preços, pegar o carro e sair rodando. O e-commerce te dá uma amplitude de opções”, explica Lauro.

Para o especialista, no entanto, a loja física não deve ser descartada em casos de dúvidas. Em relação a produtos complexos, como aparelhos eletrônicos, checar as especificações é fundamental e recorrer à loja física para tirar dúvidas e evitar compras precipitadas é uma alternativa.

“É importante buscar o físico para tirar suas dúvidas. Há muitos produtos que são parecidos, mas a especificação é diferente. Muitas vezes consumidor está achando que um computador, por exemplo, tem desconto, mas é um detalhe a menos que faz ele ser mais barato”, orienta.
 Dicas para comprar online

- Direito de Arrependimento

De acordo com o art. 49 do CDC, clientes que realizarem aquisições de serviços fora do estabelecimento comercial têm o direito de se arrepender em um prazo de até sete dias corridos após o recebimento da compra. Apesar de não estar incluso explicitamente na lei, os adeptos ao e-commerce também estão resguardados por ela. A lei evita, principalmente, que o consumidor tenha dores de cabeça após uma compra que não saiu como o planejado por falta de conhecimento acerca de um produto.

- Troca/Devolução/Políticas

Antes de ir às compras, entender como a empresa faz seus envios, trocas, devolução de mercadorias e prazos de entrega para não se surpreender. Tais informações devem ser obrigatoriamente fornecidas pela loja.

- Confiança do site

Buscar sempre informações sobre a loja e verifique se o site garante a proteção dos seus dados antes de inserir informações nele. Uma dica é checar nos órgãos de defesa do consumidor (como o Procon) e sites de avaliação de compras e relacionamento com o cliente (como o ReclameAqui, por exemplo). Ou, caso o site disponibilize comentários de clientes que realizaram a compra, conferir a experiência de outros consumidores com aquele produto pode evitar frustrações.
- Cheque o link
Ficar atento com sites falsificados que clonam as páginas oficiais com pequenas mudanças no endereço, incluindo ou retirando uma letra do endereço e usando apenas “.com.br” no final.
*Estagiária sob supervisão de Marina Cardoso