Anfavea informou que a indústria de veículos fechou 410 vagas de trabalho em outubroDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

A falta de componentes eletrônicos nas linhas de montagem se traduziu no mês passado no pior outubro na produção de veículos em cinco anos. No total, 177,9 mil unidades foram montadas, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus, segundo balanço divulgado nesta segunda-feira, 8, pela Anfavea, entidade que representa as montadoras. Desde outubro de 2016, quando foram fabricados 177,6 mil veículos, não se via volume tão baixo para o mês.
Na comparação com o mesmo mês de 2020, a queda foi de 24,8%. Embora o resultado tenha sido 2,6% superior ao de setembro, a atividade segue comprometida na indústria de veículos pela falta de peças, tendo como maior gargalo a insuficiência de componentes eletrônicos, um problema global.
No acumulado desde janeiro, a diferença em relação a 2020 é positiva, com alta de 16,7%, num total de 1,83 milhão de veículos produzidos. Porém, a própria Anfavea não descarta a possibilidade de esse crescimento cair para a casa de um dígito no resultado final deste ano.
Com a falta de carros nas concessionárias, as vendas de veículos recuaram 24,5% em relação a outubro do ano passado, para 162,3 mil unidades - também o menor resultado para o mês em cinco anos Frente a setembro, as vendas subiram 4,7%, mas a base de comparação aqui é fraca, já que o mês anterior a outubro é o pior do ano até agora.
De janeiro a outubro, as vendas de veículos somaram 1,74 milhão de unidades, alta de 9,5% no comparativo interanual porque o choque da chegada da pandemia entre os meses de abril e junho do ano passado foi pesado. Ainda assim, a Anfavea adianta que essa diferença também deve ser reduzida até dezembro, com chance de o ano fechar no vermelho.
Do lado das exportações, que somaram 29,8 mil veículos no mês passado, o balanço das montadoras mostra queda de 14,6% frente a outubro do ano passado. Contra setembro, houve alta de 26,1% nos embarques, e no ano o total exportado chega a 306,8 mil, 26,8% acima dos dez primeiros meses de 2020.
Para completar, a Anfavea informa que a indústria de veículos fechou 410 vagas de trabalho em outubro, empregando no fim do mês 102,6 mil pessoas.
Como acontece desde o início do ano, a associação segue sem divulgar os resultados dos fabricantes de tratores agrícolas e máquinas de construção, também sócios da Anfavea. Em razão do desligamento da John Deere da entidade, toda a série estatística do setor passa por revisão.
Normalização do fornecimento de chips só em 2023
A Anfavea avaliou que as dificuldades no fornecimento de componentes eletrônicos devem se estender ao longo de todo o ano que vem, revisando um prognóstico que, até então, apostava em normalização até meados de 2022.
"Estávamos considerando estabilização a partir do segundo semestre de 2022, porém temos uma atualização indicando que isto só deve acontecer em 2023. Portanto, 2022 continuará sendo um ano de grandes desafios na questão da entrega de semicondutores chips ao setor automotivo", comentou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, em entrevista coletiva.
A previsão tem como base um acompanhamento periódico que vem sendo feito pela consultoria Boston Consulting Group (BCG) e que agora estima em mais de 5 milhões de unidades o total de veículos que deixarão de ser produzidos no mundo inteiro no ano que vem em razão da falta de componentes eletrônicos. A regularização completa do abastecimento de semicondutores, o item que para as fábricas de carros, não deve acontecer antes de 2023, segundo conclusão do estudo.
Moraes sustentou que o setor faz esforços para encerrar 2021 com número melhor de produção para atender o mais rápido possível os pedidos. Entre os principais clientes, a intenção é entregar mais de 70 mil carros para as locadoras nos últimos dois meses do ano, fechando o ano com um total de 400 mil veículos ao setor, de onde partiram as maiores reclamações públicas pela longa fila de espera.
A crise no abastecimento, no entanto, piorou com a greve dos caminhoneiros, ao dificultar a retirada de peças no Porto de Santos, podendo levar a novas interrupções de produção nas montadoras num momento em que elas não conseguem recompor estoques, hoje suficientes para apenas 17 dias de venda, com menos de 100 mil veículos nos pátios de concessionárias e fábricas.
Mais afetadas pela escassez de componentes eletrônicos, as linhas de carros de passageiros tiveram no mês passado o pior outubro em produção dos últimos 20 anos. As fábricas de caminhões também são afetadas, mas, por consumirem semicondutores em menor escala, conseguem administrar a situação com menos prejuízo, tanto que neste ano a produção no segmento está sendo a maior desde 2013.
A direção da Anfavea destacou nesta segunda-feira os efeitos da greve dos caminhoneiros, que, ao dificultar o desembaraço de cargas no Porto de Santos, no litoral paulista, está agravando o quadro de desabastecimento nas linhas de montagem de veículos.
Luiz Carlos Moraes adiantou que a situação, que afeta tanto fábricas de carros quanto de caminhões e tratores agrícolas, pode levar a paradas de produção no setor. "A liberação das peças que estão no porto de Santos é fundamental para a gente poder acelerar e continuar montando os veículos que estão incompletos nas nossas organizações", comentou o executivo.
Segundo relatou Moraes durante apresentação dos resultados da indústria automotiva em outubro, várias montadoras vêm tentando liberar mercadorias desde o fim de semana, mas a dificuldade de acesso ao Porto de Santos persiste. "É mais um fator que pode afetar a produção. Existe, sim, risco de paradas de produção agora por conta da greve dos caminhoneiros no porto de Santos", afirmou Moraes, lembrando que, há meses, o funcionamento das linhas de montagem já vêm sendo prejudicado pela irregularidade no abastecimento de componentes eletrônicos - dada a escassez global de semicondutores.