Pesquisa mostra como a covid-19 afetou jovens de favelas cariocasFOTO Daniel Castelo Branco
Pesquisa mostra como a covid-19 afetou jovens de favelas cariocas
Pandemia fez com que 44% dos entrevistados tivessem redução na renda familiar enquanto em 12% dos lares a perda foi total
Uma pesquisa promovida pelo Programa Jovens Construtores, uma iniciativa do YouthBuild em conjunto com o Centro de Promoção da Saúde (CEDAPS), com apoio da Bemobi, faz um mapeamento do contexto socioeconômico, habilidades e hábitos digitais de mais de 300 jovens participantes da rede do PJC de dez favelas cariocas. No estudo, estruturado pelos jovens de forma participativa e comunitária, usando a metodologia PerguntAção da Rede de Conhecimento Social/RECOS, foi possível entender a realidade desta população e como a pandemia da Covid-19 afetou a renda, a educação e o emocional dos jovens.
Por conta da crise sanitária, 44% dos entrevistados apontaram redução na renda familiar, enquanto que em 12% dos lares, a perda foi total. Além disso, sete de cada 10 famílias recorreram ao auxílio emergencial do governo. Esse cenário fez com que a busca por complementação de renda, seja por meio de empreendedorismo ou mercado informal de trabalho, se tornasse uma realidade para 3 a cada 10 jovens.
De acordo com Anne Reder, responsável pela área de tutoria do Programa Jovens Construtores/CEDAPS, a pandemia sobrecarregou muito a vida de parte dos jovens que já viviam com muitas faltas. "A pobreza, a escassez de água, a dificuldade para comprar o gás, a violência. Nada disso mudou, e agora se viram com mais necessidades, como precisar ter um celular melhor para acessar o mundo à distância, uma internet melhor para estar ligado ao que acontece na sociedade e ir atrás de oportunidades, além de precisar de um maior letramento digital para tentar conseguir, por meio do celular e da internet, buscar formas de continuar estudando, trabalhando ou complementando a renda."
Dos 312 entrevistados, metade conseguiu manter o trabalho neste período de pandemia, sendo que a carga horária passou a ser maior para 17% deles. O desemprego antes da covid-19 já atingia 22% dos participantes da pesquisa, condição que se mantém até o momento. E a busca diária por emprego, lançando mão da internet, faz parte da rotina de 40% dos participantes do estudo. "Hoje, muitos processos seletivos e oferta de vagas são online e nós sabemos que o acesso pleno a esse ambiente virtual não é uma realidade para boa parte da nossa rede de jovens", destaca Arthur Felizardo, responsável pela área de Colocação no Mundo do Trabalho do Programa Jovens Construtores/CEDAPS.
Condição emocional
As preocupações durante a pandemia que mais rondam a realidade dos participantes do estudo estão concentradas em perder um familiar. Mais de 60% dos entrevistados disseram ter esse receio, que vem acompanhado da dificuldade financeira, que corresponde a 45%, ser infectado pela Covid-19, 35% e perder a vida, 34%.
A doença fez parte da rotina de metade dos entrevistados, sendo que deste total, 48% dos contaminados foram os próprios jovens ou alguém do seu domicílio. Apesar de todas as inseguranças que a pandemia trouxe e ainda traz, os participantes do estudo, 87% dos respondentes estão entre 20 a 29 anos, apenas 33% dizem ter buscado ou precisar ainda de algum suporte psicológico.
Sentimentos como exaustão, ansiedade, sobrecarga e solidão estão entre os principais identificados pelos jovens, sendo predominante nas mulheres. No entanto, enquanto mais de 3 a cada 10 não conseguiram identificar nada de positivo, 2 a cada 10 sentem que tiveram muitos avanços nesse período. As mulheres são mais críticas em relação a suas conquistas, assim como jovens que perderam ou diminuíram a renda.
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