Cartão de crédito é apontado como o maior vilão do endividamento, aponta pesquisa da Protesteijeab - Pixabay - Creative Commons
De acordo com os resultados, 23% dos entrevistados acreditam estar “muito endividados”, um crescimento de 5% em relação a 2021. Destes, 36% têm pelo menos uma dívida em atraso. Dentro desse grupo, 92% relatam que estão sendo mais cobrados, sendo que 97% vivem em São Paulo e 84% no Rio.
Entre aqueles que se classificam como “muito endividados”, 45% ganham entre um a dois salários mínimos e 31% entre dois a cinco salários mínimos. Aqueles que ganham entre cinco e dez salários representam 7% do total de muito endividados e as pessoas com rendimentos de mais de dez salários mínimos são apenas 5% desse grupo.
Nos dados regionais, é possível verificar que os cariocas têm uma percepção maior do próprio endividamento, uma vez que 26% dos entrevistados consideraram-se "muito endividados". Já o entendimento do nível de endividamento dos paulistas cresceu 10%, posto que hoje 21% se declaram "muito endividados", contra 11% em 2021.
Diante da alta proporção de endividados, a maioria das pessoas (78%) vê o uso inadequado do cartão de crédito como o principal fator de dívida, principalmente aquelas que têm renda familiar mensal de cinco a dez salários mínimos. Quando são considerados os dados locais, 63% dos cariocas indicam esse fator como motivo de preocupação, contra 54% dos paulistas.
Mesmo com a alta taxa de juros, a ferramenta é muito utilizada pela facilidade na hora de comprar, já que permite que uma pessoa consuma determinado produto ou serviço sem que tenha saldo suficiente para pagar por isso.
"A maioria das pessoas não tem clareza que ao usar o cartão de crédito estão pegando dinheiro emprestado. Usam como extensão do salário e se enrolam com o acúmulo de parcelas", explica a educadora financeira Aline Soaper.
Além disso, o cartão oferece a possibilidade de crédito rotativo, quando a pessoa não paga a fatura integral no mês seguinte ao consumo e fica sujeita a altas taxas de juros no saldo que não foi pago.
O número de pessoas que indicou o cheque especial como um dos principais fatores de endividamento também foi alto, 42%, um aumento de 25% em relação à última pesquisa.
Para o economista Alexandre Prado, a explicação para essa variação é a mesma do cartão de crédito. "O cheque especial tem um efeito psicológico, a pessoa entra nele porque naquele momento ela quer consumir, então ela parcela, mas depois não tem capacidade de honrar a dívida que contraiu. Esse aumento também pode ser explicado porque o cartão de crédito, que é a forma mais fácil de consumir, tem taxas de juros muito mais altas do que o cheque especial, que já tem taxas absurdamente altas".
Os entrevistados também apontaram o desemprego (44%) e a pandemia (33%) como causas da aquisição de dívidas. "As pessoas tiveram que consumir e não tendo renda ou estando em trabalho informal, elas acabaram não tendo renda ou tendo uma renda menor e tiveram que adotar o cheque especial e cartão de crédito", explica Prado.
Para resolver o problema das dívidas com o cartão, Soaper orienta que as pessoas não gerem novos débitos na ferramenta de crédito e tentem pagar o valor integral da fatura mesmo que precisem passar por um período de restrição de crédito.
A pesquisa da Proteste também mostrou que 28% dos entrevistados aumentaram o consumo durante a pandemia, o que representa uma queda de 36% em relação ao ano anterior. Entre os que mais compraram ou contrataram serviços estão os paulistas, que equivalem a 38% desse valor. Já 46% dos cariocas consumiram muito menos nos últimos 12 meses.
Dos entrevistados, 42% já deixaram de pagar pelo menos uma conta no último ano, sendo que a conta de telefone é a que apresenta mais atrasos (32%). Em seguida, aparecem a conta de energia (30%) e internet (29%), que também ficou em terceiro lugar em 2021. Em quarto e quinto lugar também estão outras duas importantes despesas domiciliares: água e IPTU, ambas com 23% de inadimplência.
Os cariocas atrasaram mais contas que os paulistanos, foram 46% de inadimplências entre os que moram no Rio, contra 40% dos que vivem em São Paulo.
As diferenças regionais também são perceptíveis nos receios que cada grupo tem de não quitar suas contas. 89% dos paulistanos têm medo de ficar com o nome sujo, enquanto os cariocas temem os juros e as multas. No panorama geral, considerando entrevistados do Rio e de São Paulo, 84% dos entrevistados temem ficar com o nome sujo e 61% têm receio de ter o serviço suspenso.
Assim como no ano anterior, 38% dos entrevistados procuram por propostas de renegociação de dívidas assim que percebem que não terão condições de pagar. Nos dados regionais, 49% dos paulistanos procuram a renegociação logo que percebem que não terão condições de pagar as contas, contra 19% dos cariocas que só buscam pela renegociação quando já estão sem condições de pagar.
"Outra possibilidade é trocar essa dívida de cartão de crédito e cheque especial, que tem taxas muito altas. A pessoa pode tentar fazer uma captação de recursos via empréstimo consignado ou vendendo alguma coisa", sugere Prado. Além disso, os endividados podem recorrer à própria instituição financeira em que tem débito aberto para renegociar.
"O melhor momento para usar o cartão é em emergência, como comprar um remédio, algo urgente ou quando está investindo para gerar mais renda, como um curso ou um empreendimento", completa a educadora financeira.
A pesquisa, no entanto, revela um comportamento diferente do ideal. Cerca de 80% dos entrevistados possuem 1 cartão de crédito ou mais. Desses, 83% fizeram compras parceladas no último ano.
Entre os paulistanos, 33% têm ao menos 2 cartões de crédito e são os que mais tiveram compras parceladas no último ano (85%). A maior parte dessas compras, 69% aconteceram no no setor de alimentação/supermercado. Entre os cariocas esse resultado não mudou muito, foram 56%.
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