Edifício-sede do Banco CentralMarcello Casal Jr/Agência Brasil

O Banco Central (BC) elevará novamente nesta quarta-feira, 4, a taxa básica de juros em um ponto percentual, a 12,75%, de acordo com o mercado, em uma nova tentativa para frear a inflação, que não dá trégua.

Esta será a décima alta consecutiva aplicada pelo BC à taxa Selic desde o início do aumento da inflação, em março de 2021. A taxa chegou a seu menor valor histórico de 2% em agosto de 2020 para impulsionar a economia, debilitada pela pandemia.

O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará sua decisão nesta quarta-feira, ao fim de uma reunião iniciada nesta terça. O movimento foi antecipado em março pelo Copom, que elevou a Selic em um ponto percentual, moderando o ritmo em relação às três altas anteriores.

Caso essa previsão se concretize, resultado de um consenso entre uma centena de consultoras e entidades financeiras consultadas pelo jornal econômico Valor, a Selic atingirá um patamar inédito desde fevereiro de 2017 (13%).

Mesmo vislumbrando o fim do ciclo de ajuste monetário, as autoridades do BC destacaram em seu último comunicado que a inflação "continuou surpreendendo negativamente". E não houve mudanças significativas desde então. A taxa de inflação em 12 meses até março subiu para 11,30%, a maior desde outubro de 2003.

Os preços tiveram uma nova alta após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro, atingindo diretamente o valor do combustível e dos alimentos.

Na última semana, o mercado elevou a expectativa de alta dos preços ao consumidor até o final deste ano para 7,89%, contra 6,97% um mês atrás, cada vez mais distante do teto da meta de 5% do BC.

Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica e estrategista do Banco Santander Brasil, explica a alta de um ponto percentual na "evolução do cenário macro e das perspectivas para a inflação, desde a última reunião" do Copom.

Nesse sentido, o indicador IPCA-15 do instituto de estatística, que prevê os preços ao consumidor, "mostrou em abril o maior índice para o mês em 27 anos", destacou Oreng.

No cenário externo, "o aumento das incertezas relacionado ao conflito na Ucrânia e à política de covid zero na China são outros vetores inflacionários que reforçam a perspectiva de que a Selic será elevada além dos 12,75%" ao ano, analisou o especialista.

O Copom alertou que irá "perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas".

A meta está definida para 2023, quando se espera uma inflação de 4,10%, segundo a pesquisa Focus do BC.

Para Oreng, o "Banco Central pode revisar novamente seu plano de voo (de encerrar o ciclo em 12,75%), possivelmente sinalizando no comunicado uma alta de 0,5 ponto percentual (para 13,25%) para junho", pondo um ponto final às altas. A projeção está alinhada com a média do mercado, levantada pelo BC.

O outro lado do aumento da Selic é o efeito de resfriamento sobre a economia, que deve crescer apenas 0,70% este ano.
Por outro lado, analistas apontam que as taxas atraíram capital estrangeiro em busca de maiores retornos, provocando uma queda do dólar nos primeiros meses do ano. No entanto, a moeda americana voltou a ser negociada em torno de 5 reais nos últimos dias após cair para 4,61 em abril.