O faturamento chegou a R$ 261,3 bilhões no primeiro quadrimestre de 2022, o que representa um incremento de 16,0% em relação ao mesmo período de 2021Reprodução

Rio — A indústria brasileira de alimentos segue pressionada pelos altos custos de produção, agravados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, mas, apesar do momento sensível, registrou números positivos no primeiro quadrimestre do ano, sobressaindo-se no setor de transformação. Segundo aponta pesquisa conjuntural da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), além da abertura de novas vagas de emprego, houve crescimento de 4,4% nas vendas reais (descontada a inflação) e de 1,8% na produção física em relação ao mesmo período do ano anterior.

O faturamento — somando-se exportações e vendas para o mercado interno — chegou a R$ 261,3 bilhões no primeiro quadrimestre de 2022, o que representa um incremento de 16,0% em relação ao mesmo período de 2021. Nos últimos 12 meses, encerrados em abril, as vendas reais acumularam alta de 3,7% e a produção física de 0,7%.

Outro dado positivo foi o número de pessoas ocupadas no setor de janeiro a abril: alta de 1,4% em relação ao mesmo período de 2021, o que corresponde a um incremento de 30 mil postos de trabalho. No total, a indústria de alimentos e bebidas emprega mais de 1,7 milhão de pessoas, de forma direta.

“O ano de 2022 iniciou com cenário econômico desafiador para a indústria de alimentos, com alta nos custos de matérias-primas, insumos e energia. No mercado interno, as vendas apresentaram estabilidade, mas foram compensadas por maior exportação”, declara o presidente executivo da Abia, João Dornellas.

Exportações crescem quase 30% no quadrimestre

As exportações seguem como o principal destaque tanto em volume quanto em valor, puxadas pela demanda global por alimentos aquecida. “A elevação da demanda por alimentos no mercado internacional, potencializada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, estimulou as exportações”, ratifica Dornellas, revelando que as vendas para o mercado externo totalizaram US$ 16,6 bilhões nos primeiros quatro meses do ano, valor 29,8% superior ao do mesmo período de 2021. Em volume, a alta foi de 1,5%.

Entre os principais produtos exportados, destaques para óleos e gorduras, com US$ 1,4 bilhões (+116,3%); farelos, com US$ 3,2 bilhões (+43,7%); proteínas animais, com US$ 7,7 bilhão (+36,6%); e açúcares, com US$ 2,3 bilhões (+6,8%).

Gargalos

Do lado da oferta, os preços das commodities agrícolas continuaram pressionados. Após atingir em março de 2022 seu maior patamar histórico, o índice de preços da FAO-ONU apresentou acomodação em abril, com queda de 0,8%, mas ainda em um patamar 29,8% mais alto em relação à posição de abril de 2021.

O cenário bélico intensificou a alta nos preços de commodities, devido à importância dos países envolvidos na produção e exportação de trigo e milho, por exemplo, óleo de girassol (Ucrânia maior produtor mundial), e petróleo, gás natural e derivados (Rússia entre os maiores produtores do mundo), com impactos diretos nos preços internacionais de energia, materiais para embalagens, transportes e insumos para fertilizantes, também estão pesando.

Dornellas acredita que a permanência de restrições de oferta nas cadeias globais de suprimentos de commodities e as pressões de alta nos preços, desde o início da pandemia, prejudicam a capacidade de a indústria de alimentos absorver custos 
“Isso reforça a importância da adoção de medidas governamentais para ampliar a disponibilidade de matérias-primas essenciais à produção de alimentos. A redução temporária no imposto de importação de materiais de embalagens e insumos, como o óleo de palma, pode ajudar muito”, ressalta.

Destaque na indústria de transformação no primeiro trimestre

Embora a última pesquisa do IBGE tenha apontado crescimento de 1,4% na indústria de transformação, no primeiro trimestre de 2022, o setor de alimentos apresentou resultados mais positivos. De acordo com a pesquisa da Abia, registrou-se no mesmo período um aumento de 6,8% nas vendas reais e de 2,2% na produção física em relação ao mesmo período do ano anterior.

Dornellas reforça a posição de destaque da indústria nacional: “O Brasil é o segundo maior exportador de alimentos industrializados do mundo, comercializando seus produtos para 190 países. O setor contribui com mais de 60% de todo o saldo da balança comercial brasileira e segue avançando na geração de novos postos de trabalho, contribuindo decisivamente para a economia do País”.