Número de golpes financeiros disparam no país, veja como se prevenir e proteger os seus dadosReprodução
A fraude eletrônica ocorre quando o criminoso consegue enganar alguém, por meio de redes sociais, contatos telefônicos, e-mail falso ou qualquer outro meio fraudulento, com o objetivo de obter dados confidenciais, como senhas de acesso, bancos ou número de cartão de crédito ou débito.
Entre os crimes mais comuns, está o golpe do Pix. Muitas vezes, os golpes envolves pequenos valores, o que leva muitas pessoas a sequer registrar boletim de ocorrência. Neste caso, os criminosos utilizam dados públicos da vítima, tais como nome, foto de perfil em redes sociais e status, criando uma nova conta no WhatsApp. Em seguida, entra em contato com os amigos da vítima dizendo que trocou de número e inventa uma história para pedir dinheiro emprestado.
Outro método muito utilizado é o phishing, caracterizado por tentativas de obter informações sigilosas, como senhas e números de cartão de crédito. Os golpistas se passam por alguém confiável ou representante de uma empresa conhecida, enviando uma falsa comunicação eletrônica oficial, como um e-mail, mensagem instantânea, SMS ou ligação.
Uma outra forma de aplicar esse mesmo tipo de golpe é a montagem de sites falsos que reproduzem páginas oficiais de uma empresa, geralmente bancos. Quando o internauta insere dados de login e senha, as informações são armazenadas pelos golpistas, e o cliente é direcionado para o site verdadeiro. A pessoa sequer percebe que foi lesada. De posse das informações, os hackers começam a fazer saques na conta ou realizar compras.
Além do roubo de dados por hackers, outro tipo de crime que tem crescido no país é a fraude classificada como "engenharia social". Ela consiste na manipulação psicológica do usuário, para que ele forneça informações confidenciais, como senhas de cartões e de contas. De acordo com um levantamento da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), houve alta de 165% nesse tipo de golpe desde o início da pandemia. Em 2022, um em cada três brasileiros sofreu uma tentativa de golpe desse tipo, aponta a entidade.
A pesquisa da Febraban mostra ainda que o percentual de pessoas que já foram vítimas ou sofreram tentativas de golpe vem aumentando gradativamente. Em setembro de 2021, eram 21% em setembro. Dois meses depois, o número subiu para 22%. Em junho deste ano, já eram 31%. Os que se declaram mais atingidos são os homens (33%) e quem está na faixa etária acima de 60 anos (35%).
O golpe mais comum continua sendo o da clonagem de cartão, atingindo 64% dos entrevistados. Este tipo de fraude subiu 16 pontos em relação a dezembro do ano passado, atingindo 48% de alta. Já os registros sobre contatos de falsas centrais de atendimento caíram de 28% para 26%. Queixas referentes a esses golpes aumentaram gradualmente: 21% em setembro de 2021; 24% em dezembro e chegou 25% neste ano.
Levantamento da Serasa Experian mostra que, em 2021, 331,2 mil brasileiros foram vítimas de algum tipo de fraude. Mais da metade dessas ocorrências — 176 mil ocorrências (53,3%) — envolveu contas bancárias ou cartões de crédito.
O sistema financeiro estima que o prejuízo causado por golpes deve alcançar a marca de R$ 2,5 bilhões neste ano. Desse total, R$ 1,8 bilhão, deve envolver fraudes com o Pix. A previsão dos bancos se baseia nos dados coletados até junho, quando as perdas já somavam R$ 1,7 bilhão, sendo R$ 900 milhões com o Pix.
Golpes no Estado Rio
Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP) no Estado do Rio, em 2021 foram registrados 71.145 boletins de ocorrências de crimes de estelionato. Esse número foi superado em 2022. De janeiro a julho, houve 72.457 registros. Se comparado com o mesmo de 2021 período, o número impressiona ainda mais: 34.994 casos, um aumento de 107%.
De acordo com os dados do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), em 2021 foram 10.261 processos abertos na Justiça sobre o crime de estelionato. Neste ano, só até agosto, são em 8.475. Quando comparado com o mesmo período no ano passado — foram abertos 6.317 — os números também revelam alta acentuada.
Vítimas
A aposentada Maria da Silveira, de 62 anos, foi vítima de uma série de golpes em um período de poucos dias. No fim do ano passado, ela recebeu uma mensagem no aplicativo WhatsApp de um homem que se passou por um de seus irmãos — com nome e foto de perfil. O golpista dizia que havia adquirido um novo celular, pois o antigo o aparelho seria usado apenas para contatos profissionais. O roteiro não é novo, mas a vítima considerou a situação normal.
Nos dias seguintes, Maria disse que voltou a ser procurada e efetuou cinco transferências. A aposentada conta que não pensou em enviar mensagem para o número que o irmão costumava usar nem cogitou ir até a casa dele, a poucos quarteirões de onde ela mora, no Rio.
"Parece história de novela. Não sei explicar o que aconteceu. A gente cria uma história, passa a fazer parte dela e não raciocina", lamenta Maria.
A aposentada registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil e acionou os dois bancos dos quais era cliente. Ela conta que nenhum suspeito foi localizado até o momento e que o valor não foi ressarcido. A justificativa dada por uma das instituições financeiras foi de que o golpe precisaria ter sido identificado no mesmo dia das transações.
Maria ainda diz ter recebido outras abordagens de golpistas se passando por seu irmão nos meses seguintes. "Meu nome deve ter rodado por aí. Alguém deve estar aproveitando os R$ 39 mil até hoje."
Como é possível identificar um golpe virtual
Também é preciso ter cuidado com as supostas avaliações de "ótima compra" em sites de comparação de preços, pois podem ser "qualificações" feitas por outros autores de golpes, auxiliando os criminosos.
Sobre as mensagens recebidas por WhatsApp ou por e-mail, o especialista alerta que é importante prestar atenção nos detalhes e no contexto. “Um serviço que você utiliza faz contato por uma conta nova? O texto parece suspeito, apresenta falhas de escrita ou não tem o tom que seria exigido no contexto em que se encontra? Caso suspeite ou desconfie das mensagens recebidas, não deixe de confirmar a veracidade daquela mensagem por outros canais”, pondera Vieira.
Quem tem o celular roubado ou furtado pode ter prejuízo ainda maiores. De posse do chip, os criminosos roubam informações, sacam dinheiro de contas bancárias e mudam o acesso das redes sociais e e-mail da vítima
“Há o perigo de ser vítima de uma engenharia social em que alguém tenta fazer login na sua conta e te pede o código de verificação que chegará por mensagem. Para isso, informa que você foi premiado e ganhou um sorteio do qual sequer participou. Se você não se inscreveu em determinado sorteio, já dá pra saber que é golpe”, explicou o especialista.
Para se proteger de situações como essa, além de ativar a autenticação em dois fatores, é necessário rever em que local será recebido esse código e aprender a configurar corretamente o cartão SIM do celular. A melhor forma de evitar o acesso de pessoas estranhas aos códigos da verificação em duas etapas é não utilizar o SMS como segundo fator de autenticação, que tem o objetivo de dar segurança extra ao fazer login nas contas.
“O segundo fator funciona como mais uma senha, que é recebida pelo usuário por SMS ou e-mail, por exemplo, e a maioria dos usuários de internet opta pelas mensagens de texto. O hábito, no entanto, pode representar um risco para o usuário”, adverte.
O advogado Márcio Stival, especialista em Direitos Digitais e Internet, destaca a importância de fazer a denúncia. "É essencial, caso o usuário se depare diante de tais abordagens, que efetue uma denúncia, evitando assim que tais delitos possam ser ainda mais abrangentes e os seus respectivos autores sejam encontrados”.
- Utilizar agregador de senhas, assim você só precisa decorar uma para consultar as outras;
- Fazer uso da autenticação em duas etapas;
- Apenas cadastrar senhas fortes e diferentes;
- Checar sempre se a webcam ou a câmera do celular está desativada;
- Restringir o número de informações públicas;
- Não usar aplicativos de bancos em locais movimentados;
- Sempre confirmar a identidade da pessoa que entrou em contato por mensagem pedindo empréstimo ou confirmação de dados bancários;
- Também é importante conhecer um pouco sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), para entender seus direitos e como se proteger enquanto o uso dos seus próprios dados por empresas e instituições do Brasil.
Muitas empresas, no entanto, não seguem à risca o que determina a lei. Segundo a pesquisa "Privacidade e proteção de dados pessoais", divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), apenas 23% das companhias brasileiras implantaram um setor específico ou designaram funcionários responsáveis pela proteção de dados dos clientes.
Até mesmo no setor público a preocupação com esses aspectos ainda é muito baixa no país. Conforme o estudo, 41% dos órgãos públicos federais e estaduais ainda não possuem uma área ou pessoa responsável pela implementação da LGPD.
Para Aline Soares, advogada do Departamento de Proteção de Dados do Grupo Epicus, o impacto da LGPD para empresas, órgãos públicos e indivíduos está além do mero cumprimento legal. “Proteger os dados pessoais que estão sob seu controle está diretamente ligado à confiança e transparência com quem fornece seus dados”, disse.
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