Cidade é a primeira da América Latina a usar energia renovável em órgãos públicosReprodução

Com o aquecimento global e o agravamento das condições climáticas, a prioridade de todos os países é tornar sua indústria mais sustentável. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse durante discurso na Confederação Nacional da Indústria (CNI), em setembro, que o Brasil tem capacidade de dobrar a produção de energia limpa e exportar produtos verdes com maior valor agregado. E o Rio de Janeiro se mostra como um dos principais estados com capacidade para contribuição e desenvolvimento, tendo como fonte a indústria verde.
Segundo o especialista em finanças Hulisses Dias, o Rio tem potencialidade alta de geração de energia verde. Isso acontece "devido às vantagens naturais como: litoral com 636 km e mais de 300 mil km quadrados de mar territorial confrontante", explica Hulisses. Tal potencial unido às marcas do estado relacionadas ao turismo e natureza pode transformar a economia de um dos mais relevantes produtores de energia derivada de hidrocarbonetos.
O setor industrial é um dos mais capazes de aderir o movimento, uma vez que o Rio de Janeiro é um dos maiores do país nos segmentos de indústria extrativa mineral, siderurgia, construção civil, alimentos e o setor residencial que é explicado pela grande população.
Para o especialista em crédito internacional Luciano Bravo, o estado do Rio de Janeiro pode focar em setores-chave para surfar nessa onda verde. "Notavelmente, a indústria de energia renovável, incluindo a produção de energia solar e eólica, apresenta grande potencial. O Rio, por exemplo, é a primeira cidade da América Latina a usar energia renovável em órgãos públicos. Além disso, os setores de tecnologia ambiental, transporte sustentável e construção sustentável também são áreas promissoras para o Rio de Janeiro investir", disse.
Embora o estado seja historicamente associado à produção de petróleo, é importante considerar a diversificação da economia para evitar depender exclusivamente dessa fonte de receita.
"A transição para fontes de energia mais limpas e sustentáveis é uma necessidade global, e o estado pode adotar estratégias para gradualmente reduzir a dependência do petróleo, diminuindo os riscos associados a um recurso finito e às preocupações ambientais. Isso pode ser feito através do desenvolvimento de setores alternativos e investimentos em tecnologias verdes. E já é uma tendência do brasileiro: em 2022, o número de compradores de produtos sustentáveis dobrou", destaca Luciano.
O professor da Coppe/UFRJ Luan Santos, aponta que o Rio de Janeiro não tem uma indústria muito diversificada. "Em termos de indústria, nós temos a de Petróleo e Gás que é um dos ramos mais importantes para o estado. No contexto de sustentabilidade ela é de fato um pouco complicada, pela produção de combustível fóssil. Por ser um dos principais problemas na agenda de mudanças climáticas existe essa preocupação com a redução da emissão dos gases de efeito estufa. Isso acaba fazendo com que essa indústria busque se reinventar para se alinhar a questão da sustentabilidade."
Uma das medidas de eficiência, inclusive no ramo de Petróleo e Gás, é o descomissionamento das plataformas que estão chegando ou já chegaram no fim da sua vida útil. Levando um menor impacto sobre a vida marinha. Segundo Luan, o Rio hoje já explora diversas outras áreas sustentáveis, como no ramo de energia, hidrogênio verde, entre outros.

"O estado vem observando uma necessidade de mudança no perfil de indústria. Hoje já existe geração de energia eólica offshore, ou seja, no mar. O desenvolvimento do hidrogênio verde, o próprio Porto do Açu. E um outro ponto de desenvolvimento muito forte desde 2019 é a "economia azul", que é a discussão do avanço de todo o setor naval e marítimo. Este ano foi lançado o "Blue Rio" que também busca alavancar essa forma de economia azul que estado tem um enorme potencial", afirma.
O professor alerta que, para desenvolver essa área, é preciso se preocupar com o financiamento. Após a pandemia e com alguns países em crise, existe muitas vezes uma escassez de recursos financeiros para o desenvolvimento dessas tecnologias.
"É necessário grandes investimentos em pesquisas, desenvolvimento de tecnologias, Processamento Eletrônico de Dados (PED). O estado do Rio é referência na questão do ramo financeiro. Os bancos agem como instrumento de financiamento sustentável. Ou seja, pensam quais são os novos mecanismos financeiros que existem para promover essas soluções mais sustentáveis, mais verdes", explica o professor da COPPE/UFRJ.
Petrobras
A Petrobras é uma das empresas que possuem diversos projetos com base em energia limpa e indústria verde. Exclusivamente no Rio de Janeiro, existe o programa Operação LimpaOca criado em 2001, que engaja pescadores e caranguejeiros, que recebem uma bolsa-auxílio para coletar os resíduos dos manguezais duas manhãs por semana durante o período de defeso. O projeto ocorre nos manguezais da Baía de Guanabara e em Sepetiba.
O programa BioRefino 2030, é um projeto para produção de uma nova geração de combustíveis, mais modernos e sustentáveis, para uma trajetória de descarbonização. 
O Diesel R5, conhecido como Diesel R, possui 5% de conteúdo renovável. Para efeito de comparação, o volume de 5,8 milhões de litros é suficiente para abastecer o tanque de até 19.300 ônibus convencionais, gerando redução de emissões de cerca de 610 toneladas de gases de efeito estufa.
A empresa também faz uso da economia circular e reduziu em 51% a geração de resíduos sólidos de seus processos nos últimos oito anos.
*Matéria da estagiária Júlia Vianna sob supervisão de Thiago Antunes