Medida Provisória prevê comercialização de refrigeradores com menor consumo energético até 2028Paulo Sergio Costa / Agência O Dia
A Medida Provisória prevê etapas para estejam em circulação refrigeradores com índice mínimo de consumo energético. Entre os aparelhos que fazem parte do programa estão frigobar, refrigerador, refrigerador frost-free, combinado, combinado frost-free, side-by-side, congelador vertical, congelador vertical frost-free e congelador horizontal.
Quem já tem um produto ou está pensando em comprar não precisa se preocupar. O programa não traz resoluções para os consumidores, apenas para fabricantes, importadores e comercializadores, que, após o prazo definido, não poderão mais produzir ou vender produtos que não sigam as especificações apropriadas.
A primeira etapa se inicia 2024 e termina em 2025; a segunda, entre 2026 e 2027. De acordo com o governo federal, na etapa 1, 85,5% do consumo padrão, seguem a norma de ensaio de desempenho da International Electrotechnical Comission IEC 62552:2007, e na seguinte, 90% do consumo padrão, acompanham o ensaio de desempenho IEC 62552:2020. A medida então, estabelece que os produtos disponíveis nas lojas sejam, em média, 17% mais eficientes que os atuais, sendo considerados refrigeradores de 1 porta de 200 litros de volume interno.
O engenheiro elétrico Lucas Paiva é COO da Lead Energy, empresa que fornece diagnósticos e soluções energéticas para pequenas e médias empresas. Segundo o especialista, uma pesquisa da Empresa Enérgetica Brasileira (EPE) apontou que o consumo de energia elétrica por refrigeradores representa cerca de 40% do total da conta de luz em domicílios brasileiros de baixa renda.
"A alta dependência de um único aparelho sublinha a importância de escolhas conscientes, tanto dos consumidores ao selecionarem produtos mais eficientes, quanto dos fabricantes ao projetarem aparelhos que maximizem o desempenho sem sacrificar a economia de energia", ressalta.
Fabricantes projetam aumento dos preços
A Associação Nacional dos Fabricantes Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) questionou a medida. A entidade aponta que cerca de 83% dos aparelhos em comercialização atualmente no mercado deixarão os corredores das lojas. Além disso, lembra que a alta de preços pode desequilibrar a balança da relação custo-benefício para os consumidores.
Segundo a Eletros, a troca dos aparelhos em circulação inviabilizaria a substituição pelos consumidores mais carentes, uma vez que, a partir de 2026, refrigeradores disponíveis nas lojas custariam "acima de R$ 4 mil".
O presidente executivo da associação, Jorge Nascimento, afirmou que a medida só será efetiva caso a população invista em aparelhos mais econômicos.
Governo nega
Em resposta ao posicionamento da Eletro, o governo federal emitiu nota dizendo que a alegação da Eletros é 'inverídica e irresponsável'. De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), a medida vai "beneficiar os consumidores, que pagam caro na conta de luz por conta de produtos ineficientes que são impostos".
A pasta destacou que "do total de 25 modelos de refrigerador de 1 porta, 17 atendem às normas, portanto, apenas 8 não poderiam ser comercializados a partir de 2026". "Ainda assim, esses modelos podem ser adaptados e cumprir os novos requisitos estabelecidos", complementa.
Além disso, o Ministério aponta que um estudo da própria associação indicou que o possível acréscimo seria de cerca de 23%, o equivalente a uma diferença de R$ 350 dos preços praticados hoje.
Segundo o MME, a economia na conta de luz seria suficiente para arcar com esse aumento. "O impacto será direto e positivo para essas famílias em que a energia elétrica tem participação elevada nos seus custos de vida, com destaque para o consumo de energia do refrigerador, que rapidamente retornam o investimento feito pelo consumidor", destaca a pasta.
De acordo com o Instituto de Defesa dos Consumidores (Idec) não há motivos para aumento nos preços, uma vez que a primeira etapa, iniciada neste ano, é menos rígida e já contempla quase 100% dos aparelhos de uma ou duas portas em circulação.
"A maioria das empresas que atuam no Brasil são multinacionais que produzem refrigeradores e congeladores para países com índices mais rigorosos, tendo tecnologia para tornar mais eficientes os produtos oferecidos aos consumidores brasileiros", lembra.
Economia a longo prazo
Lucas Paiva, que foi membro da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), calculou quanto a medida pode impactar no bolso no consumidor, levando em consideração os eletrodomésticos disponíveis no mercado atualmente.
"Os aparelhos vendidos hoje, especificamente aqueles com capacidade entre 300 e 400 litros, apresentam um consumo médio de 46 kWh/mês. Com uma melhoria média de 17% na eficiência, conforme estimativa do Ministério, resultaria em uma economia mensal aproximada de 7,8 kWh, que se traduz em uma economia financeira de cerca de R$ 6 a R$ 8 na conta de luz mensal", afirmou.
Para o engenheiro, a economia poderá ser sentida a longo prazo além de trazer benefícios para o meio ambiente. "Levaria aproximadamente quatro a cinco para que o consumidor compensasse o investimento. Embora o retorno seja no longo prazo, eventualmente haverá uma compensação financeira. Além disso, creio que seja fundamental considerar os benefícios coletivos dessa transição para aparelhos mais eficientes, pois contribuem significativamente para a economia de recursos energéticos escassos em uma escala nacional", esclarece.
Consumidores de olho no preço
Apesar da possibilidade de economia no longo prazo, os consumidores ainda estão preocupados com o preço na hora de escolher o refrigerador. É o caso da jornalista Carine Reis, de 32 anos, que adquiriu um modelo maior após aproveitar a promoção de uma loja de departamentos.
Carine acredita que ainda que haja economia a longo prazo, ela não é percebida pelos consumidores, que devem continuar buscando valores mais acessíveis na hora de adquirir o eletrodoméstico.
"O consumo energético, eu vi que não está alterando tanto. Pelo menos, eu não sinto tanta diferença. Mas o preço, pra mim, é o que faz toda a diferença na hora de comprar. É porque a gente paga tanta coisa que, no final, temos que priorizar o que está cabendo no nosso bolso mesmo", ressaltou.
Especialista fala em 'adaptação'
Lucas Paiva acredita que a medida vai se popularizar entre os consumidores com o passar do tempo. O engenheiro citou um outro produto que já foi visto com desconfiança mas, hoje em dia, está incorporado ao cotidiano das famílias: as lâmpadas de LED.
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