Para Eduardo Cincinato, faltam políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do setorDivulgação

O brasileiro é um povo festivo por natureza. As celebrações pegam carona nesse espírito e movimentam um setor econômico importante tanto para o varejo quanto para a indústria. Datas tradicionais para o comércio como Páscoa e Natal ganharam a companhia de celebrações “modernas” — o Halloween é o maior exemplo. A força desse segmento pôde ser constatada durante o Celebra Show, feira que reuniu fornecedores e lojistas em São Paulo, no Expo Center Norte, entre os dias 26 e 29 de maio.
Organizado pela Associação Brasileira de Artigos para Casa, Decoração, Presentes, Decoração, Utilidades Domésticas, Festas, Flores e Têxtil (ABCasa), o Celebra Show reuniu 213 expositores e atraiu um público de cerca de 40 mil visitantes. Com números tão expressivos, o presidente da entidade, Eduardo Cincinato, destaca a resiliência da indústria, do varejo e do setor de serviços que atuam no segmento. Segundo ele, o ano de 2024 apresenta a perspectiva de retomada do crescimento, já que “o setor de festas foi desmontado”.
“A pandemia teve um impacto muito forte no setor. Depois, o que vimos foi um novo perfil de consumo. Posso citar como exemplo as festas infantis. Aquelas megafestas deixaram de ser a regra. Hoje, as comemorações têm um caráter mais minimalistas. A nova realidade exigiu da indústria e do varejo uma nova abordagem. O mesmo pode ser visto nas casas de festas. Estamos todos aprendendo a lidar com as mudanças, que são rápidas e constantes”, explica Cincinato.
O novo perfil de celebrações também pode ser observado em festas como Natal, Páscoa e Halloween. Os adornos para as duas primeiras festas passaram a incorporar elementos da decoração das casas, que muda todo ano. Ou seja, itens decorativos para a Páscoa e as comemorações natalinas são substituídos. “Não existe mais aquela árvore de Natal que ficava guardada o ano todo e durava décadas”, explica Cincinato. “Hoje os itens seguem tendências da decoração e são trocados todo ano”, completa.
Cenário econômico
O aumento do nível de emprego, a redução da inadimplência, a estabilidade do dólar e o crescimento da economia favorecem o setor de festas e celebrações. No entanto, o presidente da ABCasa relativiza tais aspectos e destaca os gargalos que afetam o segmento. Ele cita os juros altos como um dos principais entraves.
“É óbvio que o cenário para o consumidor está mais favorável, o que estimula um gasto maior. Entretanto, o varejo não está tão comprador. Ainda assim, trabalhamos com uma projeção de crescimento de 7% para o setor”, avalia.
Cincinato menciona ainda um outro gargalo que trava a expansão do setor: os custos do frete internacional, fator que impacta diretamente a indústria. Ele explica que no ano passado o envio de um contêiner da China para o Brasil saía por US$ 2,5 mil. Hoje, o valor é de US$ 8 mil. Com menos importados no mercado, a competição fica menor, alerta.
Mesmo com problemas, a ABCasa acredita que o setor conseguirá manter a trajetória de crescimento. O varejo, que em 2023 cresceu apenas 0,5%, projeta expansão de 4,5% este ano.
“Quando falamos deste segmento, estamos falando de uma gama imensa de atividades econômicas, geradoras de empregos, de arrecadação. Isso vai muito além do varejo de artigos para festas e da indústria. Há fornecedores de equipamentos para casas de festas, confeitaria, fabricantes de máquinas e jogos, serviços variados, confecção de fantasias, entre outros”, destaca Cincinato.
Para tornar o setor mais competitivo, a ABCasa a criação de políticas públicas específicas. Em São Paulo, há o programa Desenvolve, voltado para empresas com faturamento de até R$ 300 milhões por ano. Mas a ABCasa considera a iniciativa insuficiente. Em nível nacional, no entanto, faltam iniciativas. Contatos iniciais foram feitos com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, na busca por programas que visem à criação de um melhor ambiente de negócios.
Asbrafe
Avaliação semelhante tem a Associação Brasileira do Comércio de Artigos para Festas e Correlatos (Asbrafe), que congrega varejo e indústrias. A representante do setor que oficialmente movimenta R$ 21,6 bilhões por ano também participou do Celebra Show. Seu presidente, André Zolla, projeta para 2024 um crescimento de 2% a 3%, abaixo dos 7% do ano passado.
De acordo com Zolla, o setor enfrenta diversos obstáculos. No segmento de confeitaria, por exemplo, ele cita a alta do chocolate no mercado internacional, cuja tonelada está por volta de US$ 7 mil.
“Quando se trata de commodities, ficamos à mercê do mercado internacional; não há muito o que fazer. O que o varejo e a indústria buscam é melhorar seus processos e ganhar competitividade, tentando minimizar os impactos da alta dos preços. Mas isso também tem um limite”, explica.
A Asbrafe defende a redução das taxas de juros ou o acesso a linhas diferenciadas de crédito como forma de criar melhores condições para o setor. Zolla lembra que o custo do dinheiro ainda é muito alto, dificultando o acesso a recursos para capital de giro. Além disso, menciona o cenário de insegurança jurídica vivido por muitos empresários, “que são surpreendidos por readequações das regras trabalhistas e tributárias”.
“O empresário, hoje, não consegue se planejar. Em um setor que gera 56 mil empregos diretos, com 50% de mão de obra composta por mulheres, qualquer posto de trabalho aberto representa uma aposta no escuro. Não sabemos quanto isso representará no custo de manutenção do negócio”, alerta.
Zolla explica que o setor mantém uma parceria forte entre indústria e varejo. Segundo ele, os fabricantes investem pesado na formação de mão de obra, tendo as lojas como espaços para a realização das capacitações. Além disso, o Sebrae desenvolveu programas de formação permanente para o setor.
“Trabalhamos com a mulher que quer ter uma fonte de renda. O que começa como um ‘bico’ para reforçar o orçamento, logo se transforma em uma atividade profissional, e ela vira MEI [microempreendedora individual]. É aí que entra a formação. A pessoa vai aprender a utilizar os ingredientes corretos, os utensílios indicados para cada tipo de atividade, maneiras de tornar o seu produto ou serviço mais sofisticado, com qualidade maior. Estamos falando de boleiras, confeiteiras, cozinheiras e outras atividades que podem ser desenvolvidas em qualquer parte do País”, esclarece.