Desenho da curva refletiu essencialmente o reforço nas apostas de alta da Selic nos próximos mesesFoto: Reprodução/internet

Os juros futuros subiram nesta sexta-feira até os vértices intermediários, enquanto a ponta longa chegou ao fim do dia com viés de baixa. O desenho da curva refletiu essencialmente o reforço nas apostas de alta da Selic nos próximos meses - inclusive de 50 pontos-base para setembro -, que começou com o alerta do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a desancoragem das expectativas de inflação, pela manhã, e ganhou força à tarde com informações sobre a postura hawkish dos economistas em reunião com o Banco Central. O exterior também contribuiu, a partir das taxas dos Treasuries, que perderam ritmo de queda ao longo da sessão.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,840%, de 10,797% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, em 11,64%, de 11,54% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2027 saía de 11,51% para 11,54%. O DI para janeiro de 2029 caía de 11,53% para 11,50%.
Na semana, a curva teve queda aguda de inclinação, refletindo justamente o avanço da percepção de que o Copom terá de subir juro para cumprir a promessa de levar a inflação para a meta de 3%. As escalada das apostas começou com os documentos do Copom (ata e comunicado), passando pelas declarações de dirigentes nesta semana e hoje ganhou reforço do discurso de Campos Neto em evento organizado pelo Barclays pela manhã.
Segundo Campos Neto, o BC continua "muito incomodado" pelo fato de as expectativas de inflação continuarem acima da meta e a desancoragem está sendo observada "muito de perto", especialmente no que diz respeito às projeções mais longas. "Não estamos dando um guidance, mas faremos o que for necessário para levar a inflação à meta - e, se aumentar os juros for necessário, nós aumentaremos", disse.
A fala do presidente do BC pesou sobre a curva, levando as taxas a zerarem a queda, principalmente as de curto prazo. Ao mesmo tempo, o alívio da curva dos Treasuries se esvaía a partir de dados da confiança do consumidor norte-americano que vieram acima do esperado, sugerindo que o espaço para corte de juro nos EUA pode ser menor do que o mercado acredita.
À tarde, as taxas curtas se firmaram em alta de mais de 10 pontos, refletindo novo avanço nas apostas em uma postura mais conservadora no Copom, que teriam sido explicitadas pelo mercado na reunião do BC com os economistas, da qual participaram o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, e o diretor de Assuntos Internacionais, Paulo Picchetti. No encontro, segundo apurou o Broadcast, profissionais falaram na necessidade de uma elevação de até 2 pontos porcentuais na taxa.
No meio da tarde, a curva do DI projetava 28 pontos-base de alta para a Selic em setembro, ou seja, 12% de probabilidade de aperto de 50 pontos e 88% de chance de manutenção nos atuais 10,50%, considerando apenas essas duas opções. Pela manhã, eram 21 pontos. Para o fim de 2024, a curva projeta Selic entre 11,50% e 11,75% e para o fim de 2025, entre 11,75% e 12,00%.
O estrategista-chefe da AZ Quest, André Muller, afirma que a visão técnica da atuação do BC tem ganhado força na avaliação do mercado, uma vez dissipados os ruídos de que poderia haver um viés ideológico nas decisões. "Mas ainda falta muito tempo para a reunião de setembro. Vamos ver se a política fiscal também recupera alguma credibilidade para ajudar a política monetária", afirma Muller. A previsão da AZ Quest é de estabilidade da Selic até o fim do ano e queda da taxa para 9,5% no fim de 2025.