Presidente do Banco Central, Roberto Campos NetoMarcelo Camargo/Agência Brasil
Campos Neto: mercado de trabalho, PIB mais forte e expectativas piores motivam início de ciclo
Copom aumentou a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual no último dia 18
Brasília - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira, 26, que três fatores motivaram, essencialmente, o início do ciclo de aperto monetário: o mercado de trabalho apertado, a revisão para cima no ritmo de crescimento da economia e a piora das expectativas de inflação na ponta.
"Decidimos colocar uma assimetria no balanço de riscos, são algumas das razões pelas quais decidimos iniciar o ciclo", disse Campos Neto, durante entrevista coletiva para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), em São Paulo.
O Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual no último dia 18, de 10,50% para 10,75%. Nesta quinta, Campos Neto repetiu que o colegiado não quer fornecer um guidance e que a magnitude do ciclo está em aberto e dependerá dos dados.
Indagado por jornalistas, ele disse que o IPCA-15 de setembro - que foi divulgado esta semana e ficou abaixo das estimativas do mercado - é positivo, mas não muda o curso do BC. "Nossa decisão não está baseada em um número de curto prazo, a gente tenta olhar um conjunto de dados", afirmou.
Falando sobre a revisão das estimativas e hiato do produto, o presidente do BC disse que há um questionamento sobre qual seria o crescimento potencial do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que ele considera estar entre 2% e 2,5%.
Campos Neto disse, ainda, que a economia está aquecida e isso pode provocar algum repasse cambial para a inflação via importação, mas que isso ainda não está sendo observado.
Negativa sobre sugestão de alta de 0,50 pp
O presidente do Banco Central disse ainda que nenhum membro do Copom defendeu um aumento maior do que 0,25 ponto porcentual na reunião da semana passada. "Se tivesse algum grupo que tivesse considerado uma alta de 0,50 ponto, a gente teria escrito na ata 'um grupo considerou'. Se não está na ata, é porque não tivemos esse debate", respondeu.
Segundo o presidente do BC, um ciclo gradual de aumento estava em linha com a comunicação anterior do Copom. Ele lembrou que, em um momento, o mercado chegou a precificar um "super ciclo" de alta da Selic, que não era compatível com os recados do Copom.
Campos Neto acrescentou que, na comunicação de agora, o BC tentou ser claro sobre os condicionantes que observa - incluindo hiato, balanço de riscos, expectativas, e projeções -, mas não deseja fornecer um guidance, já que a incerteza está elevada.
Cenário fiscal
O presidente do Banco Central disse que o aumento da parte longa dos juros pode ser explicado por dúvidas em relação ao cenário fiscal, além das questões do mercado sobre a credibilidade da política monetária no curto prazo.
Ele lembrou que, em evento recente do qual participou, apontou exagero na precificação dos riscos fiscais, levando em conta a situação de outras economias e o esforço feito pelo governo para equilibrar as contas públicas.
De acordo com Campos Neto, há um quadro de expansão fiscal em todo o mundo, e não só no Brasil, e por aqui o incômodo do mercado reside na percepção de falta de transparência em relação ao fiscal, que gerou aversão ao risco.
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