Presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da abertura do 14º Encontro Nacional da Indústria (Enai)Marcelo Camargo / Agência Brasil

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse nesta quarta-feira, 27, que o comércio internacional é uma guerra, e que quer que o agronegócio brasileiro cause raiva em políticos franceses. Ele deu a declaração em um contexto de tensão entre os produtores de carne do Brasil e o Carrefour. A rede francesa de supermercados disse dias atrás que deixaria de vender carne do Mercosul no país europeu. "Nossos agricultores não querem morrer e nossos pratos não são latas de lixo", chegou a dizer o deputado da UDR, de direita, Vincent Trébuchet.

O caso mobilizou o agronegócio e o governo brasileiro em uma rara convergência entre Lula e o setor, majoritariamente bolsonarista. "Eu quero que o agronegócio continue crescendo e causando raiva num deputado francês que hoje achincalhou os produtos brasileiros", afirmou o presidente da República.

Segundo o chefe do Executivo, será fechado o acordo entre Mercosul e União Europeia mesmo se a França não quiser — o protecionismo agrícola do País é o principal entrave.

"Comércio é uma guerra", disse Lula. Para o presidente, "nenhum país do mundo falará bem dos nossos produtos".

O petista também defendeu encontros empresariais em países como Índia, Japão e Vietnã para diversificar os negócios brasileiros no exterior e atrair investimentos. Após o boicote, o Carrefour pediu desculpas e elogiou a carne brasileira.
Juros
Lula voltou a criticar o patamar da taxa básica de juros, atualmente em 11,25% ao ano. Dessa vez, ele não mencionou diretamente o Banco Central ou seu presidente, Roberto Campos Neto. A autoridade monetária será presidida por Gabriel Galípolo, próximo de Lula, a partir de janeiro de 2025.

"Qual a explicação para a taxa de juros estar do jeito que está hoje?", questionou o presidente da República em discurso no Encontro Nacional da Indústria, em Brasília.

Ele afirmou que a inflação está controlada e que o País está crescendo como não crescia desde 2010, quando ele deixou o governo. Segundo o presidente, aquela foi a última vez em que o Brasil "cresceu para valer".

Lula disse que a economia real é "maior que discursos fictícios", em uma crítica indireta a analistas que questionam a política econômica do atual governo.

O presidente e seus ministros devem anunciar um pacote para contenção de despesas nos próximos dias, mas o presidente não mencionou essa discussão em sua fala.

Segundo o chefe do Executivo, o País crescerá mais de 3% neste ano. "Quando eu chego no governo, a sorte chega também", declarou.
Acordo Mercosul-UE
O presidente disse querer fechar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia ainda este ano e que a posição contrária da França não será determinante para inviabilizar a assinatura. "Se a França não quiser, eles não apitam mais nada", afirmou.

Ele disse querer fechar o acordo ainda neste ano. "Para superar essa pauta, que estou há 23 anos", afirmou Lula, durante a abertura do Encontro Nacional da Indústria (Enai).
Relação com Lira e Pacheco
Lula também afirmou ter transformado os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) Pacheco e Lira de inimigos em amigos.
"As coisas vão acontecendo porque você estabelece capacidade de conversação. Quando eu tomei posse o Lira era meu inimigo, hoje o Lira é meu amigo. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, era meu inimigo, hoje ele é meu amigo", disse o petista.

"O papel do presidente da República é conviver com quem é presidente da Câmara e do Senado e estabelecer conversas para aprovar aquilo que é de interesse do estado brasileiro", declarou.
Balança comercial
O presidente também afirmou que o Brasil precisa avançar em parcerias comerciais com novos países, superando a dependência de acordos apenas com os países ricos. "O Brasil não precisa ficar preso à sua história, aos países que nos colonizaram. Comércio é guerra", disse Lula.

Para uma plateia de empresários, o chefe do Executivo disse que o governo manterá empenho para novos acordos comerciais. "Quero fazer reuniões com a Índia. Em março iremos para o Japão. Depois vamos para o Vietnã", afirmou.

Ao cobrar a priorização dos interesses brasileiros, Lula disse que as relações comerciais não devem observar determinados fatores políticos. "Não quero brigar com os EUA, não quero saber se presidente é Biden ou Trump. Temos nossos interesses, eles têm os deles. Nossos interesses têm que convergir", afirmou.