O setor de tecnologia tem registrado um grande crescimento de vagas com a expansão das inteligências artificiaisFreepik

O mercado de trabalho passa por profundas transformações nos últimos anos, impulsionado pelo avanço da tecnologia e pela implementação de novas políticas públicas. Em 2025, essa tendência se manterá. Os setores da economia têm registrado mudanças significativas na demanda por profissionais qualificados, o que torna essencial compreender as perspectivas e tendências para o próximo ano.

O DIA entrevistou especialistas da área de Recursos Humanos (RH), representantes de órgãos públicos do município do Rio de Janeiro e do Ministério do Trabalho, além de analisar o cenário nacional. Saiba quais setores prometem ampliar a demanda por trabalho.

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no terceiro trimestre de 2024, o Brasil registrou a segunda menor taxa de desemprego da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), iniciada em 2012, com 6,4%. Esse resultado reflete um cenário de recuperação econômica observado a partir do segundo semestre de 2022, impulsionado pelo crescimento de diversas atividades econômicas. Nesse contexto de melhoria no mercado de trabalho, torna-se ainda mais evidente a importância de compreender as tendências e demandas profissionais para 2025, ano que promete consolidar novas oportunidades em setores estratégicos.

Nos últimos anos, os setores de Serviços e Comércio têm sido os maiores responsáveis pela geração de empregos no município do Rio de Janeiro, e espera-se que eles continuem a se destacar em 2025. O secretário municipal de Trabalho e Renda, Everton Gomes, também destacou o crescimento do setor de Construção neste ano.

“Em 2024, o setor da Construção se destacou, gerando mais de 14 mil novos empregos, ficando em segundo lugar na criação de postos de trabalho do município. Esse resultado é fruto da nossa estratégia de priorizar a Construção como um eixo estratégico”, explica o secretário.
Em 2024, o setor da Construção se destacou, gerando mais de 14 mil novos empregos no município do RJ - O DIA
Em 2024, o setor da Construção se destacou, gerando mais de 14 mil novos empregos no município do RJO DIA

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), do IBGE, referente ao terceiro trimestre de 2024, a capital fluminenses tem atualmente 281 mil pessoas desocupadas. O número representa uma queda acentuada em relação ao mesmo período do ano passado, quando havia 344 mil sem emprego. Além disso, a taxa de desocupação está em 7,6%, menor valor desde 2016. O secretário ainda declarou que, se os investimentos continuarem nesse setor, ele acredita que a taxa continuará a diminuir. “Com os investimentos da Prefeitura e a realização de grandes eventos, não tenho dúvidas de que o desemprego continuará caindo”, avalia Gomes.

Tendências do mercado profissional

A sociedade, como um todo, tem avançado em direção a consolidação de uma nova dinâmica no mercado de trabalho, que pode ter como ênfase cinco eixos principais. Esses cinco alicerces auxiliam na compreensão de como tem ocorrido a transformação nessa esfera do setor econômico, caminhando em direção à integração entre os cinco: cientistas de dados, sustentabilidade, tecnologia, habilidades humanas e cuidado pessoal. 
O eixo tecnológico tem se apresentado como a principal categoria de aumento na geração de empregos. Isso ocorre devido ao fato de os profissionais desse ramo estarem sendo muito procurados com o avanço da inteligência artificial, assim como pela remuneração mais alta. O DIA conversou com o professor de Administração da Universidade Federal Fluminense (UFF) Américo Ramos, que também exerce o cargo de pesquisador em formação profissional e desenvolvimento pessoal.

“As profissões que envolvem processos padronizáveis estão cada vez mais dependentes da tecnologia. Profissionais que dominam ferramentas tecnológicas são mais procurados e mais bem remunerados, enquanto funções baseadas em tarefas repetitivas e menos qualificadas, como operadores de máquinas industriais, tendem a ser menos valorizadas”, destaca o professor.
Eixo tecnológico tem se apresentado como a principal área de aumento na geração de empregos para 2025 - Reprodução / Internet
Eixo tecnológico tem se apresentado como a principal área de aumento na geração de empregos para 2025Reprodução / Internet


O pesquisador também falou sobre como o futuro do trabalho valoriza cada vez mais as habilidades humanas além das técnicas, como competências interpessoais, cognitivas e éticas.

“Profissionais que desenvolvam em si mesmos e em suas equipes a comunicação, criatividade, inteligência emocional (autocontrole, empatia e capacidade relacional) e lideranças humanísticas e inclusivas serão essenciais. Empresas bem-sucedidas combinarão tecnologia e análise de dados com um entendimento profundo do fator humano, promovendo equipes de alto desempenho em setores diversos”, afirmou o pesquisador.
O eixo de cuidado pessoal, que envolve profissionais da área de saúde física e mental, estão em tendência de alta por serem necessários no combate a diversos problemas da sociedade moderna, como o estresse. Américo relatou que o crescimento deve-se ao envelhecimento da população e à busca crescente por qualidade de vida, assim favorecendo os profissionais desse ramo.

“Esses profissionais são essenciais no enfrentamento de problemas da sociedade moderna, como estresse, dependência de telas e redes sociais, transtornos de ansiedade e depressão. Áreas como geriatria, bem-estar e estética, entre outras, têm mostrado um crescimento constante em demanda”, destaca o especialista da UFF.

A subsecretária de Estatística e Estudo do Trabalho, Paula Montagner, destaca o setor de Construção e Logística como áreas que também devem ter amplo aumento da demanda de trabalho no Brasil.

“Se a economia continuar a crescer, os projetos associados ao redirecionamento da economia, vão se desenvolver, e entendo que em 2025 vamos ter muita demanda na construção — desde serventes de obras e pedreiros, que foram os que mais cresceram nos dois últimos anos, seguidos por carpinteiros, eletricistas de instalações, encanadores, soldadores, montadores de andaimes. Além disso, se espera ampliação das atividades de logística, entre os profissionais que trabalham para fazer a movimentação de mercadorias pelos diferentes modais — aéreo, marítimo e rodoviários —, além de motoristas e ajudantes”, afirmou a subsecretária.

Trabalhos automatizados

A integração da Inteligência Artificial (IA) no mercado profissional promete uma profunda transformação, com impactos tanto positivos quanto desafiadores. Por um lado, a IA cria novas oportunidades de emprego, especialmente em áreas voltadas para o desenvolvimento de softwares, análise de dados e gestão de sistemas automatizados. Por outro lado, a automação de tarefas repetitivas e braçais, como aquelas no atendimento ao cliente, pode resultar no fim de alguns empregos tradicionais.

Nesse novo cenário, a capacidade dos profissionais de se adaptarem às mudanças no mercado de trabalho torna-se uma habilidade de grande valor, que pode ser amplamente aproveitada se planejada corretamente. Se antes um profissional trabalhava em um projeto por semana, por exemplo, agora será capaz de atuar em múltiplos projetos diários, com sua produtividade amplificada pela inteligência artificial.

Um estudo realizado pela Universidade Oxford, em 2020, estima que, até 2030, 97% dos empregos de caixas e bilheteiros estarão em risco de automação. Por outro lado, a consultoria Gartner prevê que, até 2025, a IA criará cerca de 2 milhões de empregos, uma vez que essas tecnologias exigem supervisão, treinamento e manutenção por parte de profissionais humanos. Esse cenário, mostra a natureza dupla da automação, que, ao mesmo tempo que elimina algumas funções, também cria novas oportunidades.

A subsecretária de Estatística e Estudo do Trabalho, Paula Montagner, afirmou que o uso dessa ferramenta ainda está sendo compreendido e adequado às necessidades do mercado de trabalho.

“É verdade que a IA generativa diminuiu tempos, mas o uso dessas ferramentas ainda está sendo compreendido e adequado a necessidades específicas. Já há alguns estudos qualitativos que mostram que profissionais de algumas áreas, como tradução e o design gráfico, vêm sendo fortemente afetados porque a padronização permite que muitas tarefas possam ser executadas por programas com muita eficiência”, explica Paula.
Os dados foram divulgados pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação - Divulgação
Os dados foram divulgados pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da InformaçãoDivulgação
Os dados acima, divulgados pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), mostram que, até 2023, o uso da IA pelas empresas estava focado na área de Informação e Comunicação.

Paula destaca a mudança na utilização da IA por setores do mercado que antes não a utilizavam. “Embora venha crescendo, o uso da IA ainda estava limitado, até 2023, às áreas de informação e comunicação e atividades profissionais. Situação que antes não acontecia, pois agora alcança muitos profissionais de nível técnico e superior. Há ampliação na automatização de processos e fluxos de trabalho, o que amplia a produção, reconhecimento de imagens e mineração de dados”, afirma.

O professor Marcus Brauer, do Departamento de Ciências Administrativas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que empresários têm utilizado a IA como uma forma de reduzir custos dentro da empresa.

“Eu mesmo fui desligado de um trabalho em 2024 por conta da IA. Empresários e gestores estão investindo em IA para redução de custos com pessoal, apesar de que a qualidade, em vários casos, possa não ser a ideal se comparada com colaboradores humanos”, destacou Brauer.

Pequenos Negócios

O setor de pequenos negócios tem apresentado um crescimento significativo na geração de novas oportunidades de emprego no mercado nacional, o que merece uma análise cuidadosa. Entre janeiro e julho de 2024, o Brasil registrou a contratação de 1,49 milhão de profissionais, dos quais mais de 900 mil foram empregados por pequenos negócios. Os dados são de um levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

De acordo com o Sebrae, em novembro foram abertas 334,5 mil empresas no Brasil. Deste total, 96% correspondem a microempreendedores individuais (MEIs), micro e pequenas empresas. Esse número representa um aumento de 13% em relação ao mesmo período do ano anterior, passando de 284 mil, em 2023, para 321 mil, em 2024. Com mais empresas entrando em operação, aumenta-se a geração de empregos para a população, o que impulsiona ainda mais a economia brasileira.
Setor de pequenos negócios tem apresentado um crescimento significativo na geração de novas oportunidades de emprego - Reprodução / Internet
Setor de pequenos negócios tem apresentado um crescimento significativo na geração de novas oportunidades de empregoReprodução / Internet

Sobre esse cenário, a subsecretária Paula Montagner evidencia a importância dos micro e pequenos negócios, principalmente nas cidades de menor porte, levando melhor qualidade de vida aos cidadãos dessas localidades. 
“O aumento de micro e pequenos negócios é importante porque ocorre não apenas nas grandes áreas urbanas, mas também nas cidades de porte médio e pequeno, levando dinamismo e permitindo que as pessoas possam viver melhor em cidades menores, que podem alcançar qualidade de vida melhor se também tiverem acesso a meios de comunicação de qualidade”, destaca.

Contudo, a subsecretária ressaltou a necessidade de as empresas formalizarem os empregos e fornecerem salários justos aos trabalhadores.

“Importa também a formalização do emprego e que os salários sejam justos, ou que pelo menos estejam acima do salário mínimo, mantendo a política de valorização do salário como uma fonte de informação importante para a negociação salarial em todos os lugares. A saúde do trabalhador e a igualdade salarial entre homens e mulheres também valem para os pequenos negócios. É fundamental que eles cresçam gerando ambientes diversos e mais saudáveis”, frisa.

O pesquisador da UFF Américo Ramos também mencionou que boa parte dos trabalhadores que estão nos pequenos negócios mudou de emprego por necessidade, seja por falta de valorização ou por demissão.

“Uma parte deles vem do empreendedorismo por necessidade, fruto do deslocamento de pessoas dos empregos convencionais, que as empresas não mais valorizam, seja demitindo, seja pagando menos em termos relativos. Isso leva as pessoas a procurarem os pequenos negócios como alternativa mais rentável, ainda que a custa de maior risco e intensificação no trabalho, e com menos regulamentação e mais informalização”, ressalta o pesquisador.

Já o professor Marcus Brauer acrescenta que o aumento das vagas nesse setor, principalmente no Estado do Rio de Janeiro, deve-se à mudança dos nichos explorados pelos empresários.

“Pequenos negócios criaram a maioria das vagas em 2024, principalmente no setor de Serviço e Comércio na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Isso se deve a vários fatores, dentre eles, empresários estão encontrando novos nichos para investir, como por exemplo a Economia Prateada (foco no cliente 60+), jogos e tecnologias, pets, e para isso precisam de pessoas com certas habilidades e competências”, destaca.

A divulgação de ofertas de emprego no município do Rio de Janeiro é realizada por meio do site e das redes sociais da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Trabalho e Renda, além das Centrais dos Trabalhadores. No perfil do Instagram da secretaria (@trabalho.rio), são divulgadas vagas de emprego e cursos de qualificação profissional. Neste segundo semestre, redes como os supermercados Zona Sul, Supermarket e Droga Raia estão utilizando o banco de oportunidades da secretaria e realizaram entrevistas no local.
*Matéria do estagiário João Santos, sob supervisão de Marlucio Luna.