Presidente da República, Luiz Inácio da SilvaRicardo Stuckert / PR

O Brasil agirá com "reciprocidade" se os Estados Unidos impuserem tarifas adicionais aos produtos brasileiros, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quinta-feira (30), embora espere uma melhor relação bilateral durante o governo de Donald Trump.

Lula também questionou a decisão do republicano de retirar os EUA do Acordo climático de Paris e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

"É muito simples: se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil em taxar os produtos que são exportados dos Estados Unidos. Simples, não tem nenhuma dificuldade", disse o presidente em um encontro com jornalistas em Brasília.

Após retornar à Casa Branca, em 20 de janeiro, Trump ameaçou impor tarifas a países aliados e rivais para os quais estabelece exigências para além do comércio.

O futuro secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, destacou a possibilidade de "usar tarifas para criar reciprocidade, justiça e respeito".

Lula, que manifestou seu apoio à democrata Kamala Harris nas eleições americanas, desejou a Trump um "bom governo" e disse esperar melhores relações bilaterais, sobretudo no comércio.

"Eu quero respeitar os EUA e que o Trump respeite o Brasil. É só isso (...) Da minha parte, o que eu quero é melhorar a nossa relação com os EUA", declarou.

"Eu não me preocupo se ele vai brigar pela Groenlândia, pelo Golfo de México, se ele vai brigar pelo canal do Panamá, ele só tem que respeitar a soberania dos outros países", acrescentou Lula.

A balança comercial entre Brasil e Estados Unidos foi de US$ 80,9 bilhões em 2024 (cerca de R$ 500 bilhões, na cotação da época), com déficit de US$ 250 milhões (R$ 1,5 bilhão) para o lado brasileiro, segundo dados oficiais.

Por outro lado, Lula classificou a decisão de Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris e da OMS como uma "regressão para a civilização humana".

O magnata republicano anunciou que os Estados Unidos, o segundo maior poluidor do mundo atrás da China, se retirariam pela segunda vez do acordo climático, colocando em risco os esforços globais para conter o aquecimento global.

Também assinou um decreto para que seu país, o maior doador da OMS, deixe a agência das Nações Unidos, que ele atacou anteriormente por sua resposta à pandemia de covid-19.

A retirada de Washington da OMS ocorre no contexto do congelamento da ajuda externa dos EUA, também decretado por Trump, o que teria impacto, entre outras coisas, na luta contra a Aids nos países em desenvolvimento.

O chefe do Executivo disse que "não há nenhum interesse agora", nem dele nem de Trump, em um telefonema ou encontro. "Essas conversas só acontecem quando você tem interesse, tem alguma coisa para tratar", afirmou.

Ele disse que um encontro pode acontecer na ONU "se ele não desistir da ONU também". "Esse negócio de descumprir o Acordo de Paris, dizer que não vai dar dinheiro para OMS, é uma regressão à civilização humana."