A servidora pública Márcia Monteiro, de 40 anos, vai tentar a carreira de auditora fiscal do trabalhoPaulo Sergio Costa / Agência O Dia

O governo federal divulgou no dia 10 o edital do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU). O certame, apelidado de "Enem dos concursos", pretende preencher 6.640 vagas para 21 órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta, autárquica, além das fundações. O novo formato das provas agitou o mercado da educação no país e mexeu tanto com professores, tanto com concurseiros. O Dia ouviu professores e candidatos para entender como estão os preparativos para as avaliações.
Com as inscrições abertas desde sexta-feira (19), e indo até 9 de fevereiro, o processo seletivo trouxe uma nova dinâmica para os concurseiros e para os profissionais que se dedicam à preparação dos candidatos. O CPNU apresenta uma estrutura organizada em blocos temáticos, permitindo aos candidatos se inscreverem em mais de um cargo dentro do mesmo eixo temático, sob uma única taxa de inscrição. As taxas são definidas em R$ 60 para vagas de nível médio e R$ 90 para as de nível superior, com algumas cotas de isenção para grupos específicos.
O processo seletivo, previsto para acontecer no dia 5 de maio de 2024, promete atrair entre 2 a 3 milhões de inscritos, de acordo com estimativas do Ministério da Gestão e Inovação. e já está mobiliza os concurseiros e os educadores. Um dos fatores principais, além da estabilidade, são os salários atraentes, que podem chegar até R$ 22.921,71.

Aplicação das provas em dois turnos
Organizadas pela banca Cesgranrio, as provas serão aplicadas em dois turnos, com divisão entre os diversos cargos e níveis de escolaridade. No turno da manhã, com duração de 2h30, candidatos de nível superior enfrentarão provas objetivas de conhecimentos gerais contendo 20 questões, além de uma prova discursiva focada no conhecimento específico do bloco temático escolhido. Para os candidatos de nível médio, o turno matutino inclui provas objetivas de 20 questões e uma redação.

Já na parte da tarde, que tem duração de 3h30, os candidatos de nível superior terão que responder a provas objetivas de conhecimentos específicos, com 50 questões. Para os de nível médio, a prova objetiva contará com 40 questões.

Este concurso é composto por oito blocos temáticos distintos, que abrange diversas áreas. O Bloco 1 é dedicado à Infraestrutura, Exatas e Engenharias; o Bloco 2 foca em Tecnologia, Dados e Informação; o Bloco 3 abrange áreas Ambiental, Agrário e Biológicas; o Bloco 4 trata de Trabalho e Saúde do Servidor; o Bloco 5 é voltado para Educação, Saúde, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos; o Bloco 6 aborda Setores Econômicos e Regulação; o Bloco 7 é dedicado à Gestão Governamental e Administração Pública; e, por fim, o Bloco 8 é destinado aos candidatos de nível intermediário.

A servidora pública federal Márcia Monteiro, 40 anos, é concurseira experiente desde 2010 — quando teve a primeira de suas três aprovações — e disputará uma vaga no CPNU. Ela se inscreveu para o Bloco 4, de olho na vaga de Auditora Fiscal do Trabalho.
Segundo Márcia, a possibilidade de escolher mais de um cargo em um único concurso, pode ter dispersado os interesses dos candidatos, tornando a competição menos acirrada. "Eu gostei muito, pois venho de uma cultura de vestibular, de concurso único, no qual fazíamos uma inscrição para uma instituição apenas. Isso acirrava bastante a disputa, fora o dinheiro que gastávamos com as inscrições. Realmente, o Enem dos concursos está nos permitindo fazer apenas uma inscrição e poder concorrer para mais de um cargo, aproveitando assim a nossa nota/conhecimento para outras oportunidades no serviço público," disse.

Para se preparar, Márcia pretende manter o hábito de estudar três horas durante os dias da semana, conciliando com trabalho. E final de semana, passará de seis a oito horas estudandol. A servidora prefere cursos on-line em vez da tradicional cadeira e quadro negro.
Aos concurseiros de primeira viagem, ela recomenda escolherem carreiras de acordo com suas afinidades acadêmicas. “Devem levar em consideração as disciplinas que ele tem mais afinidade. Alguns cargos aceitam qualquer formação superior, mas não adianta o concurseiro tentar algo em exatas, quando ele é excelente em humanas. Eu não domino raciocínio logico/matemática, contabilidade, logo eu não tentaria área bancária. Ainda que me dispusesse a tentar aprender, levaria anos. Nos três concursos em que passei, escolher carreiras com as quais tinha afinidade e que me permitiram otimizar a rotina de estudo. Consegui alcançar os primeiros lugares em todos. Tempo é algo que o concurseiro trabalhador tem pouco”, ressaltou.
Para Márcia, um dos maiores desafios do CPNU é a mudança na cultura dos concurseiros, especialmente em relação às disciplinas exigidas. "Muita gente torceu o nariz porque não cobraram algumas disciplinas clássicas, como português para alguns cargos. Mas vai ter discursiva e para isso, eu tenho que saber escrever bem, interpretar bem, redigir texto de forma coerente e coesa", explica.

Iniciantes focam nas disciplinas específicas
A candidata de primeira viagem Maria Eduarda Santos da Conceição, de 18 anos, enfrentou recentemente o desafio do Enem e agora se prepara para uma nova jornada: o Concurso Nacional Unificado. A jovem se inscreveu no grupo 8, dedicado aos profissionais com ensino médio.
Maria Eduarda Santos, 18 anos, vai aproveitar os estudos do Enem para o CPNU - Paulo Sergio Costa/Agência O Dia
Maria Eduarda Santos, 18 anos, vai aproveitar os estudos do Enem para o CPNUPaulo Sergio Costa/Agência O Dia
Eduarda acredita que o Enem dos concursos será um desafio maior que o tradicional. "Para mim é mais difícil, pois são disciplinas que eu nunca havia estudado antes", disse.
Na preparação para o Enem, a jovem optou por estudar sozinha, utilizando recursos on-line. "Só estudei em casa. Eu fiquei bem despreparada, pois eu não tinha uma base boa. Eu estudava pelo Youtube, sem orientação de ninguém, apenas com força de vontade e aulas gratuitas", contou.

Para a próxima prova, ela pretende adotar uma outra estratégia. "Estou fazendo curso on-line", conta. A candidata explica que fará a preparação inicial para matérias com as quais nunca teve contato. "Direito constitucional e administrativo, pois é a primeira vez que estou estudando essas disciplinas", frisa.
Dona de redação nota 900 no Enem, Maria Eduarda confia que o quesito pode ser um trunfo. "Acredito que sim, pois agora percebi que estou no caminho certo na redação e esse conhecimento vai me ajudar no concurso unificado", avalia.
Concurseiro recomenda foco total
O professor de Educação Física, Vitor Tavares, 42 anos, já esteve dos dois lados nas salas de aula. Atualmente com duas matrículas, ele fez o primeiro concurso em 2012 e, após 14 aprovações, foi convidado para dar aula no curso preparatório para o magistério em que estudava.
O professor Vitor Tavares, 42 anos, recomenda 'foco total' na preparação para o CNU - Foto: Arquivo Pessoal
O professor Vitor Tavares, 42 anos, recomenda 'foco total' na preparação para o CNUFoto: Arquivo Pessoal


Ele acredita que o novo formato apresentado pelo Concurso Nacional Unificado ainda precisa ser avaliado. "Essa unificação em um primeiro momento pode ser um ponto positivo para alguns e negativo para outros. Só teremos como opinar de forma mais firme, após uma análise dos resultados," diz ele.

O professor recomenda aos candidatos que usem um material de estudo mais geral para a preparação. "Isso pode atenuar possíveis prejuízos aos candidatos que se preparavam para bancas específicas," explica.

Outro fator destacado é a importância de uma escolha eficiente do grupo de carreiras pelo candidato. "É um momento muito difícil e importante. Na hora de escolher o caminho profissional que irá seguir, (o candidato) deve pensar nas possibilidades que essa profissão lhe oferecerá no mercado de trabalho e no tamanho dos desafios que deverá enfrentar. Porém, sem esquecer de seguir o caminho que desde criança vem idealizando, ouvir seu coração," aconselha Tavares.

Por fim, Tavares destaca a importância de uma preparação intensiva. "Aconselho que o candidato trate esse período que antecede a prova, com total prioridade aos estudos. Sejam 6 meses, 1 ano, 2 anos, não importa. Seja mais dedicado que os seus concorrentes, isso fará a diferença", concluiu.
"Provas anteriores, descanso e lazer"
Marco Brito, 40 anos, é coordenador pedagógico do Degrau Cultural, curso preparatório há 40 anos em atividade no Rio de Janeiro. Ele acredita que uma boa preparação será o diferencial para a aprovação. Segundo Brito, a banca única, Cesgranrio, não deve interferir na aprovação, ou não, dos candidatos.
Marco Brito, diretor pedagógico do curso Degrau Cultura, deu dicas para candidatos - Foto: Divulgação/Degrau Cultural
Marco Brito, diretor pedagógico do curso Degrau Cultura, deu dicas para candidatosFoto: Divulgação/Degrau Cultural


"Não acho que o fato de ser um concurso unificado trará mais facilidades ou dificuldades para se obter uma aprovação. Vai conquistar uma vaga no cargo e órgão/ministério de interesse aquele que estiver mais preparado", afirma. Ele destacou a imparcialidade e o nível adequado das questões elaboradas pela banca, destacando que candidatos habituados a outras — como Cebraspe e FGV — não devem ter dificuldades para se adaptar.

Brito enfatiza a importância de realizar provas anteriores da organizadora. No entanto aconselha os candidatos a adaptarem os estudos ao programa oficial do concurso e esgotar todas as questões disponíveis da Cesgranrio antes de recorrer a bancas similares.

De acordo com o coordenador, o Degrau Cultural já oferece turmas específicas para todos os blocos do concurso, com exceção do bloco 03, dedicado às carreiras Ambiental, Agrário e Biológicas, apontadas por como "muito específicas".
Brito aconselha os candidatos a escolherem a carreira com base na afinidade com as atribuições e no conhecimento sobre o órgão ou ministério de interesse. "É importante ter um conhecimento mínimo do órgão ou ministério para qual pretende se candidatar a uma vaga, para conhecer melhor a missão dessa instituição, ter acesso ao plano de cargos das carreiras, política de promoções e progressões, quantos níveis o cargo possui, os valores que são pagos ao longo desse período, bem como em quanto tempo se chega ao teto das carreiras", ressalta.
O coordenador também recomenda consultar pessoas que desempenhem a função no dia-a-dia. "Não há nada pior do que trabalhar em uma atividade com a qual você não se identifique e não lhe dê prazer", alerta.

Sobre as dicas para a prova, o professor destacou algumas ações tradicionais para quem está acostumado a concursos.
- Elabore um plano de estudos que contemple todas as disciplinas que serão cobradas nas provas
- Se possível, se inscreva em um curso preparatório de qualidade
- Procure estudar por material atualizado, realizando muitos exercícios
- Tente participar de turmas de simulados para aprimorar aspectos como gerenciamento de tempo e controle emocional
- Cuide do bem-estar físico e mental
"É fundamental que o candidato realize uma atividade física, tenha uma alimentação saudável e busque sempre uma boa noite de sono e entender que o lazer também faz parte da preparação", ressaltou